Em 1959, motivado pela carta de um admirador, Jack Kerouac escreveu Crença e Técnica para Prosa Moderna, um manual com 30 conselhos para um jovem escritor. Inspiração para toda uma geração, o escritor beat revela logo na segunda dica o segredo de sua narração fortemente biográfica:

“2. Submissive to everything, open, listening”

Kerouac tem razão: o único meio de absorver a experiência e encharcar o papel com ela é simplesmente vivendo. Trata-se da experiência…você tem de sentir e aí conhecerá. Pergunte ao pó de John Fante, é sobre um rapaz que experimentou e então conseguiu nos falar sobre a sua matéria-prima: a vida.

Arturo Bandini tinha 20 anos quando abandonou sua mãe no interior do Colorado para tentar a vida como escritor em Los Angeles. Miserável e com apenas um conto publicado, ele vagava pelas ruas se proclamando um dos maiores escritores que já haviam passado pela Terra, imaginando os dias de glórias que estavam por vir: as loiras dos hotéis de luxo, os charutos, as chicanas católicas, os carros e, principalmente, as palmas. Entretanto, o destino não lhe deixa esquecer sua miserável realidade: jovem, virgem, pobre e inocente. Sua conclusão é previsível: assim como não escreve sobre amor quem nunca viveu uma paixão, não escreve sobre o mundo quem não passou pelo o que este tem a oferecer.

Assim, tocado pela impulsividade febril dos corações descontrolados, Bandini sai pela cidade clamando pelos sabores da vida, pelas experiências que havia lidos em Rousseau, em Joyce, em Rilke, por matéria-prima que lhe desse o que escrever. Em meio aos seus passeios, ele conhece Camilla Lopez,uma garçonete de origem mexicana, por quem se apaixona de imediato. Porém, Camilla está interessada em outro homem, fazendo Bandini experimentar o amor e a desilusão nos seus braços latinos. Em meio ao seu amor por Camilla, Arturo Bandini se envolve com a solitária Vera Rivkin, é quando ele conhece o sexo e é, pela primeira vez, desejado, mesmo que apenas por uma noite.

Após essas experiências, ele decide começar seu primeiro livro, ao passo que tenta de todo modo conquistar Camilla e trazê-la ao seu mundo. Porém, da amada ele só recebe desprezo e desconfiança, fazendo o nosso herói ir do inferno ao céu em passeios de carro pela cidade, fervendo suas emoções em brigas regadas a desejo carnal e ódio. É a experiência. Afinal, Arturo só consegue virar um escritor ao finalmente escrever, e só consegue escrever depois de experimentar a vida, depois de passar pelo sexo e pelo haxixe, depois do desejo e do desprezo, depois de Camilla e de Vera. É quando os sonhos e os medos se materializam e ele experimenta o que antes só havia conhecido por meio dos livros. Guiado sempre pelas mais contraditórias emoções, Bandini se deixa levar pelas aventuras que o cotidiano oferece a cada esquina.

A vida basta:é tudo o  que temos. Afinal, meus livros favoritos não são sobre bruxos galeses, sobre vampiros albinos ou sobre duendes da Terra Média. Gosto de ler sobre a vida, sobre pessoas que passaram pelas mesmas situações que eu passei e, assim, nos convidam para a experiência, para o ringue da vida: as ruas. É a beleza do cotidiano sob a ótica do ordinário.

Ler Pergunte ao Pó é uma obrigação para todos que pensam em escrever. Afinal, esfrega em nossas caras a necessidade da experimentação para colher uma boa história, é exatamente por isto que as biografias vendem tanto: exalam a vida e revivem as experiências. Por fim, garanto que Bandini tocará seu coração e te fará sair por aí com sede nos sentidos e a clamar: “Los Angeles, me dê um pouco de você!”.

Sobre o autor: Almeida José tem 19 anos, escreve no blog Diário Austral, é estudante de Direito na UFMG, nunca publicou um conto sequer e ainda não aprendeu a andar de bicicleta.