Escrito em 1982 pelo escritor tcheco Milan Kundera, e publicado em 1984, A insustentável leveza do ser conta a história dos amores e dos  desencontros de dois casais – Tomás e Teresa; Sabina e Franz – permeados pelo cenário político da Primavera de Praga. O romance explora os valores que existem dentro da sociedade e de um ser humano tentando se libertar de imposições. A partir de questões primárias, Milan Kundera analisa o desprendimento e aprisionamento humano através da leveza e do peso, usando referencias filosóficas como o Eterno Retorno, de Nietzsche.

O livro foi adaptado em 1988, recebendo duas indicações ao Oscar, incluindo Melhor Roteiro Adaptado. O filme é dirigido por Philip Kaufman e no elenco nomes renomados como o duas vezes vencedor do Oscar, Daniel Day-Lewis, e a atriz francesa, vencedora do Oscar, Juliette Binoche.

Não faltam razões para esse livro receber um Explica, então veja o que nossa equipe, junto a convidada Lu Eire, tem a dizer sobre A insustentável leveza do ser:

Lucas Deschain: A insustentável leveza do ser é daqueles livros que te desequilibram, que atentam contra tuas lógicas pré-concebidas e automatizadas e faz delas as concepções mais inocentes e pueris que alguém pode ter. A história de Tomás e de Teresa, vivendo as complicações amorosas da maneira mais existencial, psicanalítica e profunda possível, no turbilhão de eventos da invasão soviética que culminou com a Primavera de Praga e afetou diretamente os rumos revolucionários ao redor do mundo pelo descortinamento das práticas stalinistas, fazem dela uma obra capital para a compreensão do mundo contemporâneo. Kundera alça os eventos históricos ao âmbito universal, sendo profundamente pessimista e obstinadamente engajado com a liberdade de inspiração humanista ao mesmo tempo. A confusão pós-moderna, o existencialismo, a psicanálise e o relativismo dão a tônica e constituem o lastro que necessitava o autor para intentar tão profundo mergulho nos absurdos, complexos e ainda assim fascinantes desdobramentos da natureza e história humanas.

Luciano R.M.: A melhor definição para A insustentável leveza do ser é kitsch. Mas, sejamos justos, é um kitsch extremamente requintado e, talvez, até mesmo de bom gosto. Sim, soa paradoxal, mas não acredito que possa definir o livro do tcheco Milan Kundera de outro modo. Ele versa sobre liberdade, sobre os relacionamentos humanos e sobre a tristeza imanente ao ser- e tudo isso é, realmente, muito brega. Não, porém, a ponto de tirar o valor do livro. Na verdade talvez seja justamente esse seu grande atrativo: o capítulo sobre a morte de Karenin, o cão do casal Tomás e Tereza- os protagonistas da obra- é justamente uma das coisas mais bonitas da literatura do século XX.

Liv: Existem alguns poucos livros na literatura que devem ser lidos. A insustentável leveza do ser é um deles. Misturando história, romance e filosofia, Milan Kundera nos leva para a Praga de 1968 e através das vidas de Tomás e Teresa temos o panorama histórico de uma época. Entre os encontros, perdas e danos da história contada pelo autor, percebemos que a sua narrativa é um grande retorno e que seu livro é transcendental.

Felippe: Não posso afirmar se gosto ou não de A insustentável leveza do ser. Quando abri o livro e o folhei despretensiosamente, não compreendia qual era o motivo de tantas indicações. Ao chegar na metade do romance e devorá-lo ao perder minha vez na fila da receita federal, entendi que estava absorto nos sonhos de Tereza, no desprendimento de Tomás e na sexualidade de Sabina. Por muitas vezes esbarrando numa pieguice extrema, Milan Kundera dribla tais momentos, que dariam vergonha a qualquer um ler em voz alta, com o melhor da sutileza erótica nas passagens em que insinua uma tensão sexual e não se entrega às cenas de puro sexo – que estão presentes sim. Em contrapartida a sexualidade e a pieguice, a derradeira parte do romance é um turbilhão de emoção graças a um personagem que pouco parecia ter um papel tão importante. Creio que esse sobe e desce de conceito é o que cativa em A insustentável leveza do ser, quando se está quase desistindo o autor vem e te prende com algo tocante e profundo.

Lu Eire: A insustentável leveza do ser foi o primeiro livro que li de Milan Kundera. É o tipo de leitura provocadora, que apresenta e induz muitas reflexões. Uma delas, por exemplo, é a relação entre amor e sexo, que encontramos no romance entre Tomás e Teresa. A sexualidade, aliás, tem marcas de expressão bastante profundas no livro com traumas, traição e fantasias. Outra reflexão, talvez a mais profunda, é aquela referente ao conceito de Eterno Retorno (a vida seria cíclica, e estaríamos carregando enormes pesos, fadados a reviver eternamente as mesmas dores em várias vidas), contraposto pelo autor com a frase: “Se tivemos apenas uma vida para viver, podemos da mesma maneira, não ter vivido absolutamente nada”. É assim que a leitura flui para mim: apesar de não ser demorada, ela me faz parar alguns momentos entre uma linha e outra para que eu possa reler acontecimentos guardados em minha memória a partir de novas visões, e às vezes acabo inserida dentro da história me colocando no lugar de cada personagem. E por todos esses motivos, esta obra de Kundera, para mim, é nada menos do que um grande clássico.

Anica: Ganhei este livro no meu aniversário de 15 anos, sempre ensaiava uma leitura, mas largava. Só li de fato com 18 anos. O engraçado é como naquele momento em particular aquele livro dizia tanto para mim (e ainda diz). Apesar do óbvio teor político da obra, o texto fala também de relacionamentos, e de uma forma tão viva, tão próxima do real que não é difícil identificar situações da sua vida em cada uma das personagens principais (embora até hoje, confesso, coloco Sabina entre minhas personagens favoritas da Literatura). É uma leitura que marca, daquelas que transformam completamente o leitor. Os devaneios do narrador são apaixonantes, os diálogos entre algumas personagens inesquecíveis, o texto é impecável. Acredito que se o livro fosse apenas o Léxico de palavras incompreendidas já valeria a leitura. Imagine então sabendo que é mais, muito mais do que isso.