O maior festival de Cinema digital no Brasil chega a sua quarta edição, e mesmo que ainda seja recente, esse ano ele vem com metas ousadas: expectativa de público em 100 mil espectadores, 15 títulos em cerca de 70 salas de cinema espalhadas por 40 cidades brasileiras, uma oficina de roteiro e também a visita de artistas franceses, como Monica Bellucci (Aconteceu em Saint-Tropez) e Léa Seydoux (Adeus, minha rainha), para exibições especiais e debates.

O Festival acontece entre os dias 1° e 6 de maio em algumas cidades e 10 e 16 em outras (detalhes no site do evento) e é patrocinada pelas lentes multifocais Varilux, pela Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro e por mais de uma dúzia de empresas nacionais e estrangeiras.

A abertura do Festival ocorreu no feriado de 1° de maio, no recentemente reformado Espaço Itaú de Cinema da rua Augusta, em São Paulo, e contou com uma reunião de diretores cujas obras estão em exibição, entre eles Jean-Pierre Améris, de O Homem de Ri, e Danièle Thompson, da comédia Aconteceu em Saint-Tropez.

O evento é, sobretudo, uma ótima oportunidade para mergulhar numa maratona de obras francesas contemporâneas que quase sempre são de muita qualidade. Este ano, a programação está particularmente interessante, por isso, indico aqui alguns títulos que merecem o ingresso e o tempo dispendidos se o Festival Varilux passar por sua cidade:

Varilux
Diretores unidos: noite de abertura do Festival Varilux, em SP. Conexão entre França e Brasil.

Uma Dama em Paris (Une Estonienne à Paris):

Com Jeanne Moreau, a eterna Jules do clássico de Truffaut (Jules e Jim, 1962), a trama acompanha Frida, uma senhora estoniana que mora em Paris e tenta se livrar dos cuidados de Anne. Direção delicada de Ilmar Raag (Klass, 2007).

Uma dama - Varilux

Além do Arco-Íris (Au bout du conte):

Comédia assinada pela multitarefa Agnès Jaoui, atriz (Amores Parisienses, 1997), roteirista (Smoking/ No Smoking, 1993) e diretora (O Gosto dos Outros, 2000). O longa vem de uma temporada bem sucedida na Europa e é feito de anedotas e referências a contos de fadas, acompanhando uma jovem que acredita que encontrará seu príncipe encantado e que descobre que o romantismo exagerado não tem espaço no mundo moderno.

Camille Claudel 1915:

Refilmagem do clássico de 1988 assinado por Bruno Nuytten e indicado ao Oscar daquele ano por Atriz (à espetacular Isabelle Adjani) e Filme Estrangeiro. Acompanha a história de Camille Claudel, irmã do dramaturgo e poeta Paul Claudel, internada pela família num manicômio, onde não poderá mais esculpir. A nova versão é de Bruno Dumont e traz a sempre magnética e elogiada Juliette Binoche como protagonista.

O Homem que Ri (L’homme qui rit):

Terceira adaptação para o Cinema do romance de Victor Hugo, desta vez assinada por Jean-Pierre Améris (Românticos Anônimos, 2010), sendo a mais famosa a de 1928, de Paul Leni, com uma emblemática (e assustadora) construção do Homem que Ri por Conrad Veidt (foto abaixo). A trama acompanha o artista circense Gwynplaine, cuja face retalhada forma um sorriso constante, acolhido pela caravana de Ursus (Gerárd Depardieu). O trailer nos remete ao estilo visual que mistura Tim Burton e Jean-Pierre Jeunet (O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, 2001).

O homem que ri - VariluxFerrugem e Osso (De rouille et d’os):

Elogiada atuação de Marion Cotillard (Piaf, 2007), indicada ao Globo de Ouro e ao Bafta. Com direção de Jacques Audiard (O Profeta, 2009), esse drama acompanha o encontro de Ali e Stéphanie, uma domadora de orcas que perde as pernas num acidente.

Renoir:

Michel Bouquet é Auguste Renoir. O ano é 1915 e o pintor impressionista está no fim da vida, exilado em sua propriedade em Côte d’Azur, mas ganha um novo fôlego ao conhecer a jovem Andrée (Christa Teret). Direção de Gilles Bourdous (Depois de Partir, 2008). 

Renoir - Varilux

Adeus, minha rainha (Le adieux à la reine):

Nos quatro dias mais intensos da Revolução Francesa, que compreendem da queda da Bastilha à tomada de Versailles, o drama acompanha a leitora de Marie Antoniette e seus desejos secretos. Direção de Benoît Jacquot (Sade, 2000).

ADEUS - Varilux

Aqui peço licença para fazer uma indicação em forma de crítica, já acompanhei a sessão desse filme na exibição especial que abriu o Festival no Rio de Janeiro, com a presença do diretor Benoît Jacquot e Walter Salles para um debate.

No debate, Benoît revelou que suas escolhas dramatúrgicas (ele também assina o roteiro, com Gilles Taurand) foram moldadas por seus impulsos eróticos às atrizes: Diane Krueger como Antoniette e Léa Seydoux como a leitora Agatha. Essa relação de desejo e arte é muito evidente em todo o filme e tende, não obstante, ao exagero. Benoît se faz como uma outra versão de François Ozon, cujo Cinema é moldado por seus impulsos homossexuais.

O desejo de Benoît, contudo, gera cenas desnecessárias, como a articial tensão erótica entre Antoniette e Agatha, que não se sustenta nas fases mais dramáticas da trama, perdendo boas oportunidades: como na cena em que a rainha e sua serviçal estão se vendo pela última vez, momento dramático por excelência, mas mal conduzido.

Diane Krueger talvez não tenha sido a decisão mais acertada para o papel da rainha, provavelmente porque a atriz está à beira dos quarenta anos e, mesmo não sendo velha a ainda belíssima, não se encaixa no papel da monarca juvenil. Ficamos, para o bem ou para o mal, com a imagem de Antoniette pela intepretação de Kirsten Dunst no louco filme de Sofia Coppola.

Léa Seydoux sustenta o filme com sua face delicada e cheia de significado, sempre contendo um mistério e natural capacidade de sedução com seus lábios grossos e olhos pequenos (que ilustra o pôster oficial do Festival). A atriz está no Brasil para sessões especiais do filme e vale a pena participar desses encontros.

O Festival Varilux de Cinema desse ano conta também com uma mostra especial da filmografia extensa mas ainda pouco conhecida de Benoît Jacquot, que acontece no Instituto Moreira Salles, no Rio de Janeiro.