Recentemente pude descobrir que há semelhanças entre documentaristas independentes e desenvolvedores de jogos indie. O documentário Indie Game: The Movie tem êxito em relatar o processo de desenvolvimento de jogos independentes, construindo um retrato da personalidade e das preocupações de alguns desenvolvedores norte-americanos.

O filme, dirigido por Lisanne Pajot e James Swirsky, tem como protagonistas quatro desenvolvedores cujos jogos teriam sido bastante aclamados ou aguardados. Um deles é Jonathan Blow, desenvolvedor de Braid, jogo lançado alguns anos antes da produção do documentário e que obteve um sucesso tremendo do público e da crítica gamer especializada. Mais interessante no filme, entretanto, é acompanhar o desenvolvimento de outros dois jogos independentes, Super Meat Boy (Edmund McMillen e Tommy Refenes) e Fez (Phil Fish), e a odisseia travada pelos desenvolvedores para que consigam terminá-los.

O que há em comum entre os desenvolvedores dos jogos é o ímpeto de encarar seus games como um projeto certamente autoral, traduzido como a expressão de suas subjetividades. Diferentemente dos jogos da indústria mainstream, realizados por equipes que chegam a um milhar de profissionais e empregados por corporações que movimentam muitos milhões de dólares, os indie games retratados no filme são produzidos por equipes mínimas (uma ou duas pessoas) e com orçamentos escassos – normalmente zero ou algum fundo apenas para subsistência. Desvinculados de uma lógica tão mercadológica quanto os jogos mainstream, esses desenvolvedores procuram estabelecer um diálogo direto entre suas individualidades e os jogadores, algo possível apenas em um projeto de cunho pessoal, de certa forma semelhante aos documentários e ao tipo de cinema proposto pelos diretores a que costumo me referenciar aqui no Posfácio.

A diferença, entretanto, é que os games atualmente tem um poder de persuasão muito maior do que o Cinema Documentário (arrisco dizer, na verdade, muito maior do que a indústria cinematográfica como todo). Indie Game: The Movie nos mostra que por mais que os desenvolvedores retratados tenham de passar por inúmeros percalços financeiros e psicológicos durante a empreitada, espera-se com os jogos uma recepção calorosa por parte da comunidade gamer. Mais do que uma identificação do “jogador médio” (average gamer) com o projeto construído e uma conexão pessoal, por assim dizer, entre ele e o desenvolvedor, pretende-se obter um lucro considerável no momento do lançamento dos jogos. Plataformas como Steam, XBOX Live e o GOG são alguns dos mediadores que podem render dinheiro (ou muito dinheiro) aos desenvolvedores. Braid, na primeira semana de seu lançamento, foi comprado por mais de cinquenta e cinco mil pessoas em plataformas online. Já em 2012, o Team Meat (donos do Super Meat Boy) anunciou que o jogo já havia ultrapassado a marca de um milhão de vendas.

Indie Game: The Movie me parece uma boa forma introdutória para compreender um pouco mais sobre o universo dos desenvolvedores e gamers atuais. O filme é bem construído narrativamente e tem como fio argumentativo principal as muitas entrevistas realizadas com os desenvolvedores, cobertas por um longo período de tempo. Outro fato notável é que a dupla Pajot e Swirsky são responsáveis pela maior parte do trabalho “bruto” do filme – direção, edição, montagem, captação do som – conseguindo um produto final muito bem acabado tratando-se de uma equipe pequena. Majoritariamente financiado através de estratégias de financiamento coletivo via web, o filme está disponível em diversas plataformas. Mais informações no site oficial do filme: www.indiegamethemovie.com.