Cheguei daquele jeito: meio correndo, esbaforida e atrasada, procurando lugar naquele lindo Teatro Guarany de Santos. Era sexta-feira e terceiro dia da Tarrafa Literária. A mesa, 4, com Bob Wolfenson e André Liohn, era sobre Fotografia.

A Tarrafa, para quem não sabe, é um evento literário realizado anualmente pela Editora Realejo na cidade de Santos. Despretensioso e simpático, reúne escritores, fotógrafos, filósofos e demais pensadores que ali discutem livros, artes, e outras existencialidades desse mundo, vasto mundo.

Como podem imaginar, peguei o bonde um pouco andando, mas entendi que discutiam o “problema” de uma imagem ser veiculada nas redes sociais numa situação fora de contexto. Como exemplo, Liohn mostrava uma foto publicada na página do Mídia NINJA, se não me engano, da parada militar brasiliense durante o 7 de setembro. Os comentários mostravam internautas indignados com a suposta ocupação do Exército nas avenidas do país, ignorando esta ser uma ocasião celebrativa… Ao mesmo tempo, Bob Wolfenson notou que aquela publicação só havia tido 2000 “curtidas”, o que, para fins de internet, não significa nada. O debate começava a ficar acalorado…

Mas a discussão tomou outros rumos quando Liohn, que é fotojornalista, mostrou suas imagens obtidas na Síria e na Líbia. “O fato de você ser brasileiro te ajuda nessas ocasiões?”, perguntou Bob. “Não mesmo”, respondeu prontamente Liohn. “Os rebeldes entendem que o Brasil não os apoia porque nunca consideraram Gaddafi e Assad líderes ilegítimos. Nesses lugares os repórteres americanos fazem mais sucesso porque, apesar de mal quistos, são oriundos de países com poder de tomada de decisão.”

Liohn também tem uma série muito forte sobre delinquência juvenil, na qual muitas das fotos foram clicadas em bailes funk do Rio de Janeiro. Expressam uma agressividade diferente da guerra, mas são igualmente desconcertantes. Talvez por isso tenha me surpreendido um pouco quando perguntei qual escritor em particular o inspirava…”Saramago”, ele disse, “por sua posição política”.

Quando foi a vez de Bob Wolfenson expor seu trabalho, o clima mudou totalmente. Bob é mais conhecido por suas fotos comerciais, trabalhos publicados em revistas de moda e na Playboy. Mas para além desse mundo, tem um conjunto sem igual de projetos próprios, como “Apreensões”, “Antifachada” e “Belvedere” (este último em exposição até dia 11 na Galeria Millan).

A sua exposição só deixou mais claro o quanto ele é versátil. Tem coleções de playboys, paisagens, ambientes, e um sem número de retratos… todos emocionantes. Contou que seu processo de criação por vezes começa com uma foto que, depois de clicada, vira toda uma série.

Como se não bastasse, ele também escreve. O meu preferido é “A Caminho do Mar“.