De bate pronto, me choquei um pouco. Assim que comecei a ler Nu, de botas, o último livro de Antonio Prata, parei por alguns segundos e fiquei a contemplar a capa: “não parece o Antonio”, pensei.

Conheço o Antonio desde criança. Nossos pais sempre foram muito amigos e, por isso, convivemos algum tempo juntos. Acompanho suas crônicas desde a Capricho. Ficava folheando a revista devagarzinho, para deixar o melhor pro final: a última página, a crônica do Antonio. Quando não tinha mais idade pra ler Capricho, pedia discretamente pro meu pai comprar “só pra eu ler a crônica do Antonio”. Acho que ele nunca acreditou em mim.

De qualquer forma, continuei acompanhando as suas crônicas, no Estadão e, depois, na Folha. Comprei o Meio Intelectual, Meio de Esquerda, emprestei pra alguém, perdi o segundo, comprei de novo… Acho que deu pra entender que eu acompanho há longa data e gosto, e muito, de como ele escreve.

Ilustração: Bô Brega
Ilustração: Bô Brega

Por isso, estranhei esse seu novo livro. A começar pelo título do primeiro capítulo, “Gênesis”.  “Eu hein, que coisa mais… esquisita”, concluí, abrindo-o novamente. Depois de algum tempo lendo, entendi que, na verdade, não era esquisito, no sentido pejorativo. Era só… diferente.

Concluí que o estranhamento vinha da temática autobiográfica. Nu, de botas conta a história da infância de Antonio, algo que ele não compartilha com frequência nas crônicas da Folha de S. Paulo. Assim, o leitor acessa um universo novo do escritor, lúdico, de brincadeiras de criança, de minhocas e peripécias infantis, Bambalalão, Bozo e outras experiências de um infante que vive o início de década de 80.

Uma vez acostumada com a infância de Antonio, me vi reagindo como o faço em todas as crônicas dele: rindo alto e lendo rápido, como se isso me fizesse absorver com mais avidez as ironias, trocadilhos e demais elementos da narrativa.

Depois que acabei, percebi que essa temática diferente, que a princípio estranhei, é o que deixa o livro mais especial. O leitor acaba se identificando com aquelas histórias. Afinal, as reflexões da criança Antonio são quase as mesmas de qualquer outra daquela faixa etária: para onde vamos? Por que os pais se separam? E se eu quiser fazer uma intervenção na parede da minha casa? Como lidar com o meu primeiro amor?

Com um humor astuto e despretensão admirável, esse livro é, na verdade, a cara do Antonio na medida em que fala de coisas banais da vida (mesmo quando se refere ao princípio dela), pauta sempre presente nas suas crônicas.

Se você, como eu, leu e gostou, pode aproveitar pra ir ao lançamento, hoje, pra pegar um autógrafo. Vai ser no Cine Joia, com o Gregorio Duvivier, que vai lançar o seu Ligue os Pontos. Às 19h, mediante pagamento de R$ 50 (você ganha ambos os livros!).