Recentemente, Fabrício Corsaletti, residente em São Paulo, lançou pela Companhia das Letras seu livro Quadras paulistanas juntamente com Andrés Sandoval, responsável pelas ilustrações da obra. O poeta é também autor de Esquimó (2010), que contém poemas de forma e temática variadas, indo da nostalgia da terra natal (Santo Anastácio, no interior paulista) até a solidão amorosa, sempre com certa auto-ironia.

Na obra recém-lançada, Corsaletti, que também é cronista da Folha de S. Paulo, se aventura na descrição de sua cidade atual sob uma mesma forma, a popular quadra, para os mais diversos fins. Não se trata de uma mera descrição no sentido científico, é claro. São textos literários que frequentam um espaço, uma lacuna entre a crônica e a poesia. Vemos a crônica quando o autor observa as figuras e os pequenos acontecimentos da metrópole em seus momentos de província, como Manuel Bandeira ao tratar das cidades históricas mineiras em Crônicas da província do Brasil.

O poeta modernista, no caso, varia entre a história nacional e a local, aquela das vielas e das personalidades locais. Já Corsaletti parece querer descrever seu percurso por entre as ruas, os bares de São Paulo por seu olhar de frequentador e ao mesmo tempo de estrangeiro que percebe as contradições de certas práticas cotidianas da cidade. Ainda assim, resiste o eu-lírico: a individualidade da poesia em Esquimó se mantém ao traçar sentimentos próprios em meio ao caos urbano. A entrevista abaixo, que não deixar de ter a ironia do poeta, tenta localizar melhor essa leitura.

 

– Muitos já tentaram ligar artes visuais e literatura por recursos gráficos, lembrando que o livro é, acima de tudo, um objeto. Recentemente, Leminski fez isso com fotografia, e Daniel Galera com os quadrinhos. O que você pensou quando começou as Quadras? Já tinha em mente as ilustrações de Andrés Sandoval ou elas vieram depois?

Elas vieram depois. Eu não saberia escrever a partir de ilustrações. Mas elas são lindas e deixaram o texto muito melhor, sem dúvida.

 

– Você diz que seu novo livro Quadras paulistanas não é exatamente poesia, mas crônica em verso. A crônica com certeza já é conhecida sua pelo trabalho na coluna da Folha de S. Paulo, na qual poesia e prosa se encontram. O que há de mais poético no projeto das Quadras em relação à sua crônica de jornal?

Acho que o livro todo pode ser lido como um livro de crônicas escrito em versos. Não significa que não haja poesia nas quadras.

 

– Qual é a relação que você vê entre a poesia das Quadras e seus outros livros, como Esquimó e a série infantil do Zoo?

Esquimó é um livro pra adultos. Zoo, um livro infantil. Quadras, pra roubar uma expressão do romancista Reinaldo Moraes, é um livro infanto-senil.

 

– A ideia da quadra nos aproxima de uma literatura popular, oral, que se difunde pelo verso, pela rima. Junto a isso, você pensou no retrato de uma cidade, dessa metrópole dos modernistas de 22. Quais são as diferenças entre a São Paulo que você escreve e a de outros escritores do presente e do passado?

As TVs nos bares.

 

– Apesar da consciência da cidade nas suas quadras, existe ainda a experiência individual, dos lugares que se frequenta e se observa em detalhes, como os bares, as ruas, os anúncios. Como evitar o perigo de se esquecer do coletivo nessa experiência, de se afastar do que é paulistano para todos hoje em dia?

Não escrevo me preocupando com o coletivo. É a minha visão e faço questão de trabalhar a partir dela, mesmo porque não saberia trabalhar de outro modo. Nem era a minha intenção esgotar o tema “São Paulo”. São só algumas quadras sobre a cidade e sobre outras coisas também.