Existe hierarquia nas palavras. Não são todas que nascem Lua, que nascem Vida pra causar impacto sozinhas. Essas aí são, por sinal, duas das mais metidas em todo dicionário. São como eu chamo palavras-luxo, porque definem o assunto e botam todas as outras pra se ferrar. Ganham mais prestígio, trabalham menos, e basta que apareçam enquanto as outras se desdobram para não fazer o time todo virar clichê. Nem queiram saber o tamanho do ego do Amor por conta disso.

Há palavras recorrentes trabalhando para o Amor, meu benzinho. Há palavras que são repetidas até que o Perdão as aceite. Há palavras que marcam a História, como um pequeno passo para o homem, um grande salto para a Humanidade. E há ainda palavras que trazem a Memória. O que é preciso entender é que uma palavra sempre busca. Elas só querem ser usadas. Uma palavra nunca se negará. Para tudo que tiver que ser dito, ela estará lá.

Nem tudo tem que ser poesia. Todas as palavras sabem da beleza de estar em uma lista de compras, ou ainda fazer parte da primeira carta de alguém. Bilhete trocado em aula tem a sua formosura. Cartão de Natal também. As palavras são generosas e querem mais é estar em toda folha, do guardanapo engordurado ou e-mail apressado, até o convite de casamento ou refrão de sertanejo. Há, porém, uma posição especialmente ingrata no meio disso tudo. Posição que palavra-luxo nenhuma vai estar. Ser qualquer outra palavra é assumir esse risco.

Falo de um lugar que não é lugar algum. Um dizer que não diz nada e está, ao mesmo tempo, em toda parte, inclusive neste parágrafo. O limbo textual: são as expressões de enrolar. O encher linguiça. Isso sim é foda pra qualquer palavra. É uma posição incômoda. Uma constante ameaça. São o descuido, a rotina, a falta de criatividade para atingir as 20 linhas da redação. Os segundos para completar o discurso. Uma tristeza. O trabalho sujo que algumas palavras têm que preencher.

Nada mais nada menos não significa nada mais nada menos que nada. Dizer “pelo sim pelo não” é dar uma volta e parar no mesmo lugar. A coluna de hoje é uma homenagem para todas as expressões enrolonas. É a minha tentativa de dar a elas a segurança de não serem cortadas por um editor, pelo menos desta vez. É a minha declaração de amor a essas amiguinhas que sempre serviram de apoio para os nossos textos capengas, ocupando a posição mais ofuscada deles.

A ideia foi essa: coloquei cada uma das minhas favoritas em um post-it. Em seguida, colei em algum objeto que pudesse trazer algum significado mais brilhoso, no caso, trocadilhos mesmo. Aí vai. Palavras. Nada a mais nada a menos.