Anteriormente em Verão Infinito…
Verão Infinito #0
Verão Infinito #1
Parabéns. Se você está lendo este texto, espero eu que seja porque já chegou na página 186 do Tijolo-Laranja-Mais-Belo-Do-Mundo. Quase 200 páginas vencidas e você já pode se orgulhar daquele status de 16% de livro lido na sua rede social literária favorita. Como bem disse a Simone no texto zero desta nobre maratona, “sofrimento cria caráter”.
Como tenho uma quedinha por assuntos políticos, aproveito para abrir este texto lembrando de um fato que pode ter passado despercebido para muitos leitores, principalmente porque a tal referência está escondidinha no meio de um travessão perdido no meio de um calhamaço de explicação de Michael Pemulis a respeito do seu lucrativo negócio urinário na Academia de Tênis Enfield.
Lá pela pág. 158, eis que surge “o complexo emblema heráldico da ONAN — uma águia rosnando de frente com uma vassoura e uma lata de desinfetante numa garra e uma folha de bordo na outra e com um sombrero e parecendo ter comido metade de um pedaço de tecido pontilhado de estrelas”.
Em resumo, THIS:
Amigos, não é à toa que os caras de Québec querem se separar, afinal, a folha símbolo do Canadá tem o mesmo peso que uma vassoura e uma lata de desinfetante. #GoGoQuébecois
Enquanto Steeply e Marathe continuam confabulando (mas sem avançar muito nesse bloco de páginas), David Foster Wallace nos presenteia com mais peças do seu mais fino humor negro. Duas merecem destaque: um acidente envolvendo uma bolsa de sobras de tijolos (os da construção civil mesmo) e o terrível roubo de um Coração Artificial Externo Jarvik IX1.
A “trama principal” (se por ela entendermos o que está escrito na quarta capa do livro) avança pouco nesse segundo bloco de páginas. Em compensação, DFW está mais à vontade para continuar estabelecendo o mundo bizarro criado por ele.
Prova disso são as sete páginas em que a verve ensaísta do autor volta a dar as caras (após a linda passagem sobre depressão que nos apresentou Kate Gompert) para explicar por que a videotelefonia fracassou. A fantasia de que falamos ao telefone sem prestar total atenção em nosso interlocutor e, ao mesmo tempo, esperamos que ele esteja prestando total atenção em nós é das observações mais sagazes de DFW.
Era uma ilusão e a ilusão era auditiva e auditivamente sustentada: a voz do outro lado da linha telefônica era densa, violentamente comprimida, e vetorializada diretamente para o seu ouvido, permitindo que você imaginasse que a atenção do dono da voz era similarmente comprimida e concentrada… mesmo que a sua própria atenção não o fosse, eis a questão. Essa ilusão bilateral de atenção unilateral era quase infinitamente satisfatória do ponto de vista emocional: você ganhava a possibilidade de acreditar que estava recebendo a total atenção de alguém sem ter que reciprocar essa atenção. Considerada com a objetividade de um julgamento a posteriori, a ilusão parece arracional, quase literalmente fantástica: seria como ser capaz ao mesmo tempo tanto de mentir quanto de confiar nas outras pessoas. (pág. 151)
Quem nunca ficou desenhando losangos enquanto conversava ao telefone que atire a primeira pedra.
DFW brinca deliciosamente com a relação de escravidão tecnológica que alguns de nós mantêm com a indústria, citando, por exemplo, máscaras faciais criadas para potencializar os pontos positivos do rosto do usuário. Assim, você não corre o risco de ter a imagem distorcida pelo vídeo e sair mais gordo(a) que o normal na videochamada.
Falando em imagem distorcida, o Mario… Desculpe, Meritíssimo, retiro essa.
Mas o Mario, o irmão Incandenza do meio, que sofre de sérios problemas físicos e mentais. O menino resolve ter sua “primeira e única experiência mínima e remotamente romântica até aqui”, como definiu o autor. Um passeio na mata nunca foi tão… perturbador. Para mais, sugiro uma rápida ida à pág. 126.
Quem sabe fugir de um “date” é o caçula Incandenza, Hal, como ele bem explica no cartucho de entretenimento digital Tênis e o prodígio selvagem:
É assim que você recusa um encontro extramuros pra não ser mais convidado. Diga alguma coisa tipo Eu lamento muito não poder sair pra ver o relançamento de 8 ½ num monitor gigante no Festival do Celuloide de Cambridge nesta sexta, Kimberly, ou Daphne, mas é que, sabe, se eu pular corda duas horas e daí correr de ré por Newton até vomitar eles me deixam assistir cartuchos de jogos e aí a minha mãe lê o OED2 em voz alta pra mim até a hora de apagar as luzes às 2200, & c.; aí você pode ter certeza de que dali em diante Daphne/Kimberly/Jennifer vai esticar as suas anteninhas pra outro lado em busca de socialização-ritual-tipo-dança-e-namoro-adolescente. (pág. 181)
Na semana que passou (ou antes, para os apressadinhos de plantão que já estão lendo o que era pra ser lido na semana 469 do verão), fomos apresentados também à Casa Ennet de Recuperação de Drogas e Álcool. Vizinha da academia de tênis dos Incandenza, o lugar parece ser mais uma oportunidade para DFW retratar um vício e seus viciados. Conhecemos alguns internos3 através de pequenas transcrições de depoimentos, mas nada além disso. Aguardemos os próximos capítulos.4
P.S. Aceito doações para comprar o meu MAPA INFINITO DA ONAN por 35 obamas.
- Não coloque o seu coração artificial em uma bolsa que pode ser confundida com aquela onde você guarda sua carteira. ↩
- Oxford English Dictionary, Hal é meio que viciado nele. ↩
- Na verdade, já conhecíamos dois deles: Gately, o cara que roubou a casa do separatista canadense gripado; e Clenette, garota que, no Ano do Chocolate Dove Tamanho-Boquinha, estava envolvida com o traficante Roy Tony. ↩
- Notas de rodapé: eu tentei. ↩
Oi Pessoal
Estou participando da leitura coletiva e estou lendo os textos tanto do Posfácio como do InfiniteSummer.org.
Estou amando o livro, me deliciando com tantas referências e montando com muito carinho esse quebra-cabeça cronológico e relacional.
Mas tenho que falar, com tantas referências, tantos gêneros de narrativa, mil curiosidades e influências para comentar, esperava textos com um pouco mais de sustância.
Acho que elaborar um texto atendo-se apenas aos fatos ocorridos nos capítulos um pouco simples demais, não acham?
Por exemplo: comentários sobre a nota de rodapé 304 e a gênese surrealista do AFR…
Enfim, parabéns para a iniciativa e fica aqui a crítica construtiva
Oi Fabi, tudo bom?
Como explicamos no primeiro post, a nossa primeira regra era fugir do que fazemos em resenhas. Explicar tim-tim-por-tim-tim e não deixar aberto para as interpretações do pessoal. A ideia é cada autor trazer sua experiência.
Como é uma leitura coletiva, queremos que todos tragam a sua opinião. Por exemplo, eu deixei de fora, propositalmente, a parte do pesadelo. Gostaria que muitos trouxessem mais informações sobre o que gostaram, o que os pegou e tudo mais.
O que eu gostaria, pessoalmente, é que as análises viessem dos leitores e não apenas de quem for escrever os posts principais (aliás, o plano é: quem estiver comentando todas as semanas, seja convidado a escrever um post principal). Gostaria dessa caixa de comentários cheia de teorias, de réplicas e tréplicas.
E sinta-se a vontade para opinar, colocar sua visão do livro. Acho que assim o Verão ficará bem mais recheado e completo.
Nota de rodapé sobre notas de rodapé.
Clap clap clap clap clap clap!
Nessa segunda semana eu me irritei em alguns momentos com temas bem desnecessários. Ou talvez não encaixei as peças corretamente. Mas no final desta segunda parte há o texto do pai de J.O.I. sobre o desejo dele para que o filho seja um tenista, usando a parte corpo e cabeça na explicação deste desejo, talvez ai, fazendo uma alusão a Hamlet que todo mundo faz o comparativo. É um trecho brilhante, de uma prosa absurdamente rica e que flui tão bem que não queria que este trecho terminasse.
Outra coisa que me peguei pensando foi: como seria a cabeça de DFW com a tecnologia atual. Ele usa de vários artifícios da época que escreveu, que já era uma tecnologia avançada, mas imagina como seria atualmente, com esse boom tecnológico dos últimos anos.
É isso, que a terceira semana empolgue um pouco mais. abs
Raphael, penso o mesmo que vc nisso da relação do DFW com a tecnologia. Quando ele escreveu o Graça, a internet ainda engatinhava. Até ele morrer, em 2008, a rede já tinha se desenvolvido bastante, mas ele erdeu todo o boom de redes sociais/smartphones/tablets (que revolucionaram em muito a forma como a gente navega na web). É triste pensar que nunca poderemos ler alguma coisa dele sobre isso 🙁
O capitulo “O Inverno de 1960 …” é um dos textos mais lindos e trágicos que já li na vida. É riquíssimo, o ponto mais alto do livro até agora e duvido que algum outro trecho o supere (espero estar errado). Fusão perfeita entre forma e conteúdo, ‘gloriosamente doloroso”. E eu, como artista visual, que não leu Hamlet direito, só consigo ver ali uma monstruosa e sublime construção fenomenológica da percepção do mundo, da apreensão e da relação com os objetos no mundo. E, tudo isso, são definições de objetos de arte ou o modo como um artista percebe o mundo. A descrição da bola de tênis é a descrição de uma escultura. “Uma bola de tênis é um corpo definitivo” como não lembrar dos ‘objetos específicos’ de Donald Judd. “Distribuição equilibrada de massas … Suscetível a caprichos, efeitos, a força”. Isso é escultura. “Puro potencial”. “Um corpo em comércio com corpos”. É performance. “Total fisicalidade”. Cada vez mais o tênis em Graça Infinita é a arte.
E o final terrível desse trecho maravilhoso evocando a imagem de cristo desossado comparando o acidente com um momento religioso? Coisa genial!
As definições e análises sobre o tênis são obras-primas. Milimetricamente impecáveis.
João, esse é um dos meus trechos favoritos de todo o romance. Claro que quando chegar a hora vou citar outro favorito e envolve o Mario.
eu acho que o trecho dos amigões é um dos grandes momentos auto-reflexivos do livro, especialmente o hal falando com o seu sexteto. a ideia de comunidade X indivíduo e comunicação X solipsismo é meio que uma tese que se refere ao próprio modo como o DFW encara a literatura. falaram aqui em cima que o tênis é a arte no livro, uma espécie de grande metáfora não-metáfora, e eu concordo, especialmente no que se refere à construção daquilo que circunda o tênis, e não apenas a partida em si. a mesma coisa com o livro. há todo o virtuosismo matemático da forma tênis enquanto partida, assim como há todo o virtuosismo literário da forma romance. entretanto, parece que hal está dizendo ali que a partida jamais se encerra em si mesma, é preciso criar uma espécie de “senso comunitário/comunicativo” (a reclamação conjunta – tipo nós aqui no verão infinito, só que em vez de reclamar ficamos louvando haha) que valide a experiência para além do indivíduo. e esse “para além do indivíduo” é sempre o ‘outro’, ressoando claramente ideias da filosofia moderna que, cada uma com sua particularidade, sempre coloca o outro como um fim em si mesmo – berkeley, kant, hegel. a escolha de um retorno aos filósofos modernos é o que deixa claro o endereço da crítica (ainda que DFW tenha falado disso exaustivamente em suas entrevistas): um rompimento do tipo matar o pai com a geração pós-moderna, onde o texto não tinha a possibilidade quase ontológica de referir-se a nada fora dele, ou seja, não há outro identificável que não aquele produzido pelo próprio texto. treta fudida, especialmente pelo fato que essa “valorização” da filosofia moderna é feita pelos caminhos tortuosos do pós-modernismo. ou seja, lendo esse trecho do hal poderia parecer que DFW é uma espécie de reacionário, mas na verdade ele leva às últimas consequências o pensamento pós-moderno e em seu limite necessariamente o solipsismo ou a comunicação, nos mesmos moldes dos velhos modernos. entrei num teto, malz ae pessoal
” berkeley, kant, hegel.”
Sempre achei que fosse uma coisa mais Wittgenstein, vi ele citando em uma entrevista. Se bem que tem bastante do Witt em The Broom of The System.
wittgenstein é PATRON SAINT do livro certamente
EDIT:
“em seu limite ENCONTRA necessariamente o solipsismo ou a comunicação, nos mesmos moldes dos velhos modernos”
Não sobreviverei até o final do verão; das duas, uma: ou acabo por enlouquecer com Graça Infinita, ou a ansiedade de ter que esperar 1 semana para um novo post vai acabar me consumindo!
Como já disse no comentária da primeira semana, estou marcando as páginas do meu livro, fazendo o que antes considerava uma heresia, um crime. Vira e mexe eu fico passando as páginas só pra ir relendo alguns trechos marcados, reformulando opiniões, revisitando os lugares, revivendo sensações.
A cada semana as páginas vão ficando mais e mais verdes, daqui a pouco terei que comprar um daqueles rolos de pintar paredes para poder marcar meus trechos favoritos!
Este trecho da segunda semana serviu pra entrarmos mais ainda no universo que DFW criou. Tentarei fugir da tentação de transcrever cada trechinho que gostei e comentar sobre esta segunda parte mais brevemente possível.
O que mais me encanta na narração de DFW é o incrível talento que ele tem para descrever coisas banais, e é justamente esse a tecla em que mais bato na hora de falar sobre o livro para as pessoas (ou melhor, na hora de perturbar e convencê-las a ler também!).
No trecho entre Marathe e Steeply, logo no comecinho, eu fiquei extasiada com a descrição do pôr-do-sol (pág. 93, segundo parágrafo), que foi comparado à uma explosão, que “flutuava e tremia de leve como gota viscosa prestes a cair”, que flutuava e “lentamente ia afundando”.
Na página 96, a confirmação sobre o que eu digo a respeito da forma que DFW escreve, na parte em que ele diz sobre como Marathe e Steeply falavam sem olhar um para o outro, ambos encarando a mesma direção e que isso dava à conversa um ar de intimidade como um casal de muitos anos vendo “televisão”. É assim mesmo! É algo tão natural que sequer nos passa pela cabeça falar sobre isso, pensar sobre isso! Mais a frente, ele falando sobre a risada de Marathe, que soa falsa e exagerada, sendo ou não sincera, me fez refletir sobre quantas pessoas conhecemos que são assim (pág. 99), assim como Michael Pemulis que “consegue suportar coisa de dez segundos de silêncio generalizado, e olha lá” (pág. 100).
A cumplicidade da galera no vestiário na ATE é quase tangível e reforçada no trecho da página 109, que diz que todos estiveram ali, e que amanhã estarão de novo; é rotineiro e por mais que não aparente significar nada demais, a teoria de Hal mostra como aquilo ali é importante. Você praticamente é convidado a se sentar no chão e relaxar também.
Marathe e Steeply também nos apresentam mais reflexões profundas, quando eles falam sobre a linha tênue que circunda o amor, o que ele é (ou não), a partir da página 112.
“Você acha que morreria duas vezes por um outro, mas em verdade você morreria só por seu eu somente, o sentimento dele”. É como em um episódio de Friends que diz que não existe nenhuma ação verdadeiramente altruísta porque nós acabamos por nos sentir bem com algum ato bom, no fim das contas.
A parte sobre a reunião dos garotos mais velhos com os garotos mais novos foi incrível. E o mais legal é ver a diferença entre uma reunião e outra, ver a diferença na forma de ver as coisas entre os rapazes.
Sobre a “primeira e única experiência mínima e remotamente romântica de Mario Incandenza” não tenho nem o que falar: é ótima! Mario é uma das personagens mais cativantes que já encontrei nas minhas aventuras literárias até aqui! Ele é ingênuo, engraçado, sem jeito… Mario é sensacional! Ele merece uma reflexão sobre seu jeitinho Mario de ser exclusiva, só neste comentário seria impossível.
Gostei bastante da parte do Lyle, mesmo achando super esquisita essas lambidas dele. Mas esquisitice é o que não falta em Graça Infinita.
Naquele trecho do esquema das drogas que envolve o Coitado do Tony… Bem, é a descrição perfeita de “uma porra de uma vidade fudida e não deixe ninguém querer te convencer do contrário” (pág. 134).
As conversas telefônicas entre Hal e Orin são sempre incríveis. Pelo menos a mim, sempre têm algo a mais do que querem mostrar, sempre têm uns ganchos com outros pontos da trama.
Sobre a Casa Ennet, uma frase que eu não poderia deixar de comentar a respeito é a “súbita experiência de total entrega e despertar espiritual no chuveiro” (pág. 143) – me diz se isso não a melhor descrição sobre aquele relaxamento e as viagens que todo mundo tem debaixo do chuveiro!
Hilário mesmo foi aquele email da página 145! Acho que reli pra umas 3 pessoas diferentes dando gargalhadas por causa das súbidas perdas e recobradas de “presença de espírito”.
Sobre o porquê das videofonias não terem dado certo foi uma sacada genial! Acho que todo mundo se identifica com tudo que está ali.
Michael Pemulis é uma personagem que cada vez mais vai se abrindo, o que me faz pensar que ele tem um papel bem mais importante do que todos supúnhamos inicialmente. O esquema da venda de urina é maravilhoso!
Mas o prêmio de melhor parte da segunda semana vai para o Inverno de 1960 AS: não consigo encontrar alguma palavra que não seja piegas ou clichê que eu ainda não tenha empregado para comentar sobre o livro. Uma das melhores partes do livro, sem dúvidas.
Eu estou a frente desta leitura em grupo, então algumas coisas foram fazendo mais sentido conforme eu avançava nas páginas seguintes. É incrível. James Incandenza era um cara muito mais interessante e profundo, e isso vai se revelando aos poucos. Ele era um gênio, simplesmente. Toda a trama dos tempos atuais foi influenciada de uma maneira incalculável pela forma que tanto James quanto seu pai foram criados. Aí vem todas aquelas teorias psicanalíticas a respeito da importância dos pais na personalidade e traumas futuros de seus filhos etc etc etc; e mais do que isso, de uma forma sutil você vai vendo como aquilo mudou muita coisa na vida das gerações próximas, além do núcleo Incandenza.
O pai de James e a bebida alcóolica, a pressão que ele exercia sobre o filho, tudo, tudo. É incrível.
As reflexões sobre o talento e suas manifestações continuam nas próximas páginas. Os personagens de DFW são muito humanos, e é isto que os torna tão fascinantes. Hal parece ser alguém como eu, o que já aumenta muito na aproximação que sentimos.
A narração de Hal, “Tênis e o Prodígio Selvagem” é outra parte que entra na minha lista das favoritas. É intensamente autobiográfico. É sensacional. Não há o que destacar, porque tudo merece destaque. A ironia presente em “eu já mencionei minha gratidão por estar aqui?” mostra um grau de irritação com toda a situação.
E é claro, aqueles trechinhos de frases do pessoal da clínica; a negação, sobre o pudim, é o cotidiano de uma clínica de viciados que está ali exposto. Adorei esta parte também.
Me desculpem, mas eu estou adorando o livro. E olha que eu tentei falar pouco, mas não teve como.
Estou adorando e escrevendo muito sobre Graça Infinita, pensando muito, falando muito. Eu não sei gostar das coisas sem ficar obcecada. Preciso aprender. Enquanto não aprendo, vou enchendo o saco de vocês do Posfácio para postarem logo os textos todas as semanas e escrevendo estes comentários enormes.
E, quem sabe, enchendo nosso saco, você não entra na lista para publicar os textos por aqui? Ainda estamos abertos a essa possibilidade.
Quanto a narrativa, DFW tem um apuro narrativo incrível. Fico triste quando as pessoas abandonam sem ver que o livro é “polifônico” (odeio esse termo). Ele consegue mudar o estilo narrativo sem perder a atenção. E quando ele cisma de ser profundo, ele nos enche de emoção. Quando cisma de ser engraçado, mesmo não querendo, é um puta de um palhaço.
E quando os dois se misturam? Você dá risada de uma cena obviamente trágica, mas se parar dois segundos vai dizer “e se…” e dá aquele calafrio.
Pemulis tem um papel importante, sim. Alguns que passaram na primeira semana também tem. Só ficar atento.
SIM!
DFW tem um estilo de escrita que vai da descrição técnica sobre medicamentos, o que é bem frequente, por exemplo, a uma linguagem de rua em dois tempos e ainda enfia uma piadinha no meio!
Eu nunca fui fã de notas de rodapé, sempre senti que elas me tiravam do foco da leitura. Mas as notas em Graça Infinita são como se o próprio DFW estivesse ali, trocando uma ideia com o leitor!
Eu tento fazer todo mundo ler o livro também, por que eu não estou aguentando mais ler e não ter com quem falar sobre! As conversas entre Hal e Orin ao telefone vão fazendo cada vez mais sentido e se tornando mais e mais profundas, principalmente depois de uma nota (enorme) de rodapé que li ontem… Outra personagem que vai se desvendando é a Joelle. Sem contar que estou muito curiosa pra saber mais sobre James…
Mas o que mais me aflige é o Mario! Depois do capítulo que li ontem… Nossa. Nossa. DFW descreveu Mario sem fazer apelações, mas é um capítulo tão profundo e tocante que te deixa meio sem ar. Eu precisava falar sobre aquilo com alguém, mas não tinha ninguém porque ninguém que eu conheço está lendo Graça Infinita! Que sensação horrível, hahaha
Você fica com dó dele, sente uma tristeza e uma compaixão infinita, quer abraçá-lo e ao mesmo tempo, o admira… Incrível.
Fora que é super divertido ir montando os pedaços do quebra-cabeça que é o livro! Estou adorando. É isso, não tem mais o que dizer.
É a primeira vez que estou lendo um livro do tipo quebra-cabeça e gostando. Normalmente, não gosto de jogos mentais, porque parecem só brincadeiras com a estrutura, mas sem nenhum significado mais profundo do que a provocação.
Esse livro realmente está me renovando uma esperança na literatura contemporânea que andava em baixa. Honestamente, o que tem mais me impressionado é que ele parece ter se divertido muito. Vou lendo pensando “não acredito que ele fez isso”. Ele realmente está se dando o tempo para criar esse mundo absurdo. Não é só um livro sobre entretenimento. Ele se entreteu também.
O que mais gostei nessa segunda parte foi o maior detalhamento das histórias dos Incandezas. Por enquanto, Hal conquista pela sua estranheza e genialidade. O livro deixa um mistério absoluto sobre como foi a reação à morte do pai e parece que todos seguem apáticos em relação à isso e Mario, como foi dito na semana passada, na resenha, possui a leveza de não ser obcecado pelo mundo da informação e poder, de fato, viver.
Uma dica, por favor! Como vocês estão lendo esse livro? To com dor no pulso e no pescoço. Penso em comprar um suporte para livro.
Mario vai surpreender cada vez mais.
Há outros detalhes bizarros nessa segunda semana que revelam de leve como é a mãe deles. Engraçado que muitas das coisas que ela faz e fará são passadas como meras descrições, meio que jogadas no texto. É bom ficar atento a isso.
Eu leio em pé no metrô ou na mesa de casa.
Li muita coisa boa até agora, passagens memoráveis. Mas algo que me chamou a atenção foi o fato de o pai de Hal, James Jr., ter sido do jeito que foi (do modo que até então o conhecemos) em razão das neuras/problemas/características do seu pai, James Senior (que por sua vez, fala da ‘herança emocional’ advinda do seu pai, bisavô do Hal). E tudo isso nos obriga a refletir sobre o que foi passado pros filhos deste: Hal, Orin e Mario. E isso acena para o tema de maldições que passam de pai pra filho, atravessando gerações. Algo que a gente vê em tanta coisa, desde Hamlet até a história do Bruce Lee (como mostrado no excelente Dragão – a história de Bruce Lee).
E esse ponto foi o legal no excelente capítulo ‘Winter BS 1960 – Tucson AZ’/ ‘Inverno de 1960 AS — Tucson, AZ’, muitas coisas saídas do falatório do James Senior você lê repetidas, ainda que de uma forma diferente, por Hal. Creio que o releia várias vezes.
Aliás, foi cansativo. Mas muito bom pra entrar no vórtice de loucura dos Incandenza. É simplesmente fantástico o recurso usado pelo David Foster Wallace para simular o bate-estaca daquele monólogo, pra fazer você entrar na ladainha incessante do James Senior, com o pobre Jim (e o leitor junto) como ouvinte. Às vezes tais recursos chegam a ser mal compreendidos na literatura. Por exemplo, em um certo momento d’O Retrato de Dorian Gray, Oscar Wilde faz enfadonhas e detalhadas descrições de tapeçarias, jóias, jardinagem e demais aspectos estéticos. Entendo que além de contrastar o exterior estético com o interior cada vez mais vazio do personagem, o autor quis também simular a monotonia de alguém, em sendo imortal, diante das coisas mundanas da vida, apesar de luxuosas. Enfim, lembrei deste paralelo ao ler o capítulo ‘Inverno de 1960 AS — Tucson, AZ’.
Por fim, Michael Mathew Pemulis é um personagem com muito SWAG. 😀
Pareceu-me uma parte do livro ainda mais preparatória do que a inicial para aquilo que está por vir. Enquanto leio, tento captar a teia que ele vai formando. Trecho especialmente rico em descrições. O lance forninho-maçaneta-Marlon Brando-tênis é de uma beleza esmagadora, uma das melhores coisas que li na vida – e o momento do livro, até agora, que melhor mostra o DFW como um escritor brilhante. A simultaneidade das reuniões dos tenistas com seus pupilos também é muito certeira.
Concordo com o comentário de Fabi lá em cima: posts mais profundos seriam bem-vindos.