Anteriormente em Verão Infinito…

Verão Infinito #0

Verão Infinito #1

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Verão Infinito #5

Verão Infinito #6

Verão Infinito #7

Verão Infinito #8

 

Olá, sobreviventes!

Faltam duas semanas para o final do Verão Infinito e um pouco mais para o final do verão real. É o momento perfeito para perceber que

1) esse tijolo está chegando ao fim e você sobreviveu a ele; e

2) você poderia estar na praia, aproveitando o verão, tomando cerveja, curtindo o carnaval ou algo semelhante, mas estava lendo este livro. Você poderia estar trepando, mas tinha um cronograma de leitura a cumprir. Então é bom que DFW não estrague o final, não é mesmo?

Para alegria de todos, a leitura dessa semana começou com Kate Gompert, que iniciou o livro como favorita pela descrição do estado depressivo mas teve pouca chance no miolo da história. Infelizmente a coitada acaba de ser atacada por um poste. E essas cem páginas da semana podem ser resumidas dessa forma: porrada atrás de porrada.

Não que a semana anterior tenha sido leve. Tivemos finalmente um background da família Pemulis, infelizmente por meio do irmão mais velho, que sofria abusos do pai (percebam como incesto é um tema recorrente, seja de forma declarada, como aqui, ou insinuada em relação a Orin e Joelle). Vimos o Coitado do Tony roubar mais uma bolsa (o que nos lembra da vez em que roubou um coração). Uma nova discussão sobre depressão pela visão de Kate e Hal, as tentativas de Steeply de entrevistar o garoto, as correspondências entre Avril e Orin. Lyle levitando (quem perdeu essa frase jogada no meio da página?).

Essa onda massacrante continua. Assim, temos a pobre Kate abraçada a um poste e depois discutindo amor verdadeiro com um Marathe que tenta explicar de onde surge toda sua motivação para trair todo e qualquer lado em que se meta na intenção de salvar sua esposa – amor que deixa Kate pasma.

Em seguida, entendemos como a AFR chegou aos irmãos Antitoi e qual o racional da busca dos quebecoises pelo cartucho Master. A AFR não possui os mesmos interesses na questão geopolítica dos outros canadenses envolvidos na busca. O interesse deles pelo cartucho remonta às primeiras conversas entre Marathe e Steeply: o desprezo pelo modo de vida percebido como americano e a busca pela simples satisfação, ou, como colocado no texto, “incapacidade de dizer non para prazeres fatais”. A vigilância em torno da família Incandenza e de Joelle se torna ainda maior, com indicações de que John Wayne efetivamente repassa informações, e o círculo começa a se fechar também em torno de Orin, que, encantado com Luria P, mal sabe ser o maior alvo da AFR. Todo esse stress da perseguição é pouco perto do peso das seções seguintes.

Lembra ali em cima a menção a incesto? Pois bem, temos Joelle finamente expondo o que Orin dizia da “segunda família mais triste que ela conheceu” (a primeira sendo?), abrindo a relação com Sipróprio e o peso que Avril coloca em todos pelo amor tão declarado pelos filhos. A menção dela de que “por mais que um sujeito possa parecer alto e basso por fora, mesmo assim ele ainda vê os pais da perspectiva de uma criancinha e sempre há de”. Por fim, as ligações entre o relacionamento Orin-Joelle e Orin-Avril, como Joelle nunca tinha considerado que a atração de Orin por ela pudesse ter relação com sua mãe.

E dá-lhe mais histórias de famílias disfuncionais, mas desta vez da própria A+BODE. De como o pai de Joelle a amava acima de todas as coisas, segundo a mesma – seu próprio papai pessoal a alertava que as caldas mais doces atraem as moscas mais nojentas. Toda a devoção de papai e o distanciamento que isso gerava em sua mãe. Mais para a frente, em depoimento de Molly Notkin, temos que a relação pai-mãe-Joelle ficara “primeiro estranha depois medonha quando Madame Psicose entrou na puberdade”. Depois da chegada de Orin à casa dos sogros, a situação toda se desmonta quando o pai de Joelle confessa ser incapaz de lidar com o amor proibido que sente pela filha e a mãe, estourando os anos de negação, confessa ter sido ela mesma molestada na infância e percebe que casou com exatamente o tipo de homem do qual tentara fugir. Ao tentar acertar o marido com ácido, acerta a filha. O que termina o mistério da desfiguração de Joelle, finalmente, e adiciona toda uma nova camada de bizarrice à relação dela com Orin.

Passando a história de Joelle, nos sobram três porradas desta semana. Mario, Pemulis e Hal.

Mario é um personagem feito para ser amado. Ele humaniza todo e qualquer personagem ao redor, independente do quão ruim for a situação. Até mesmo Joelle, que inicialmente sente repulsa por quase toda a família que não Orin, tem dificuldades para não gostar dele. Lá no inicio do livro temos todo um trecho em que Schtitt se abre com o garoto. Agora, enquanto grava um documentário sobre a ATE, Mario é abordado por alunos apenas para desabafos e conversas. É fácil confiar nele. Por isso o trecho em que ele conversa com a Mães é tão dolorido, ainda mais fazendo contraste com a impressão que Joelle tem de Avril.

Ao conversar com Mario, Avril se abre. Fala de Jim, de como ele era devotado ao filho. Tenta explicar ao filho tudo o que ele questiona sobre tristeza. Sobre como saber se alguém está triste. Ainda assim, nunca percebe que Mario está perguntando sobre ela mesma.

Em seguida, conversando com Hal à noite, Mario é novamente confidente das inseguranças do irmão, que perde a paciência com tanta compreensão (“Meu Deus, às vezes com você é que nem falar com a Mães, Bu.”) e questiona se Mario nunca cogitou a possibilidade das pessoas mentirem para ele. Esse toco de Hal é por conta de um desabafo por Pemulis ter livrado vários alunos do teste de urina, no qual os mesmos não passariam. Pemulis, não exatamente grande mentiroso, mas exímio estrategista, gera toda a exposição de Hal sobre mentiras (que parece muito mais voltada a Orin e a Mães). E, em conclusão, sobre como o próprio Pemulis salvou Hal de ter suas mentiras expostas.

Agora vamos à penúltima porrada. Pemulis, ao contrario de Mario, é feito para ser uma péssima pessoa. Ele é repulsivo, ardiloso, mentiroso e manipulativo. Com tudo isso, o resultado é quase o mesmo. É quase impossível não gostar dele. Ainda assim, a impressão é a de que DFW desprezava o personagem ativamente. O final de Pemulis é resolvido nessa semana, mas se você não lê as notas, jamais fica sabendo. O maior pavor do garoto é perder o lugar na ATE, visto que ele não tem para onde ir (a situação da família foi mencionada semana passada). Ainda assim, ele não apenas é expulso como isso ocorre na nota 332. Avril, com uma satisfação evidente, dá um xeque-mate e coloca fim em todas as chantagens e manipulações. Existem finais mais cruéis para outros personagens mais adiante (spoilers!), mas nenhum é desprezado como Pemulis foi.

Chegamos à ultima porrada. Hal, depois do desabafo com Mario, do rant sobre mentiras e da consciência de que foi salvo por Pemulis (sendo que este não conseguirá escapar desta sina – não existe boa ação sem punição adequada), decide buscar ajuda para seu vício. Ele, o garoto que não fala. O garoto que mantém segredos de todos e se esconde atrás de uma superdotação para não sentir. Chega até a Ennet House e pede a agenda de reuniões, tristemente desatualizada. E acaba numa reunião para carentes anônimos, com um semiconhecido, para seu horror, expondo entre lágrimas as grandes dores e horrores de sua existência. Hal, tão fechado, que finalmente decidira buscar ajuda, é confrontado com revelações que não queria escutar e com as quais não consegue lidar, justamente quando deveria estar juntando coragem para fazê-las. Essa oportunidade não vai aparecer novamente.

Essa semana foi certamente pesada. Não espere menos que isso das próximas duas. Afinal, apenas agora as histórias estão se amarrando, e não temos nem sinal de que alguma normalidade será alcançada por qualquer um dos personagens.