Pra dar continuidade à ideia do Tuca de #leiascifi2015, resolvi montar uma lista com os livros mais queridos, mais amados, aqueles que recebem todos os bilhetes em forma de coraçãozinho, os mais populares da ficção científica.

Não significa que sejam os melhores (e quem poderia dizer quais são os melhores?), mas apenas aqueles que acabaram acolhidos, por um motivo ou por outro, pela memória do maior número de leitores nas últimas décadas. Ainda assim, dá para acreditar que exista nessas obras mais populares um ou outro ingrediente especial.

Embora muitos desses livros tenham se apegado às mentes humanas por décadas, vale ressaltar que essa é uma lista que tipicamente se transforma com o tempo. Fosse ela escrita, por exemplo, vinte anos atrás, e traria Robert E. Heinlein, Alfred Bester e Clifford Simak. Fosse escrita há oitenta anos e teríamos autores hoje quase esquecidos, como Olaf Stapledon, E. E. “Doc” Smith e David Lindsay. Como diria Hari Seldon: dado um período de tempo suficiente, todos são substituíveis.

Peço desculpas antecipadamente pelo fato da lista ser bastante homogênea no sentido homem branco anglo-saxão. Mas podem estar certos de que (a) a situação já mudou muito nos últimos tempos, e (b) tudo indica que ela está se transformando ainda mais rapidamente.

Vamos a eles então.

 

10. 2001 – Uma odisseia no espaço, Arthur C. Clarke

Monolitos alienígenas, naves espaciais e a inteligência artificial mais famosa de todos os tempos: é difícil ser mais scifi do que isso. Pode até ser que outros livros de Clarke sejam mais amados pelos fãs – O fim da infância, Encontro com Rama, As fontes do paraíso, etc. –, mas a associação com o filme de Kubrick garante a popularidade superior de 2001. No entanto, como defendeu a Simone, quem “disser que entendeu ‘2001 – Uma odisseia no espaço’ sem ter lido o livro provavelmente estará mentindo.”

 

9. O jogo do exterminador, Orson Scott Card

Um precursor do young adult, tem como personagens principais três crianças que precisam lidar com problemas tão diversos quanto o bullying na escola, a unificação política da Terra e a invasão do planeta por seres insectoides. Além de transformar esse enredo bizarro numa narrativa viciante, Card surpreende até o final, que inova na linha “os adultos nem sempre sabem o que estão fazendo”. O livro tem seus fãs no Brasil, mas é absolutamente popular nos EUA, onde pode ser considerado o mais querido pelas últimas gerações de leitores.

 

8. Androides sonham com ovelhas elétricas?, Philip K. Dick

Adaptado para o cinema por Ridley Scott, com o título Blade Runner, foi responsável por consolidar a imagem apocalíptico-noir do futuro. O enredo é o mesmo nos dois casos: em um planeta contaminado pela radiação residual de uma guerra nuclear, o detetive Rick Deckard busca um grupo de androides que teria imigrado ilegalmente para a Terra. O livro, no entanto, traz muitos outros elementos interessantes à trama, como o momento em que Deckard precisa substituir sua ovelha de estimação (animais são considerados símbolos de status) por um equivalente artificial, ou seja, elétrico.

 

7. Fahrenheit 451, Ray Bradbury

Mostra um futuro distópico em que as pessoas são incentivadas a evitar discussões políticas, ou polêmicas de qualquer tipo, para se dedicar ao entretenimento televisivo do tipo “quem disse o quê”. Livros, portanto, são totalmente proibidos. Num dos casos clássicos de protagonistas com crises de consciência, o personagem principal de Fahrenheit 451 integra o próprio grupo de profissionais responsáveis por detectar e queimar bibliotecas. A premissa certamente é interessante, mas o que garante a perpetuidade da obra de Bradbury é o seu amor pela literatura e pelo conhecimento, que transparece em todas as páginas.

 

6. Admirável mundo novo, Aldous Huxley

Em reação ao otimismo tecnológico do início do século XX, Huxley imaginou a utopia capitalista: cidadãos divididos em classes, determinados desde o nascimento a funções específicas e libertos dos limites da família e da religião. Como exemplo máximo da capacidade prospectiva da ficção científica, grande parte das preocupações expressas no livro continuam atuais mesmo 85 anos depois, como o distanciamento entre classes sociais (vide Piketty) e a manipulação genética de fetos (embora o termo “genético” não apareça). A história de Huxley traz, no fundo, a desconfiança em relação a toda ideia de progresso.

 

5. O guia do mochileiro das galáxias, Douglas Adams

Humor? Ficção científica? Sabedoria de vida? O Guia é difícil de classificar. Só Adams talvez conseguisse explicar como os seres do planeta Krklk organizam seus livros conforme os sabores que causam em seus leitores (essa classificação, afinal, é essencial para a sua culinária). Mas o fato é que o livro se tornou objeto de culto entre os fãs, ingressou na cultura popular com uma data comemorativa própria, o Dia da Toalha, e deu significado a expressões como “Até mais, e obrigado pelos peixes” e “42”.

 

4. Neuromancer, William Gibson

Depois de tantas histórias dedicadas ao apocalipse nuclear e às distopias totalitaristas, Neuromancer veio na década de 80 para atualizar a visão paradigmática de futuro: um mundo globalizado, controlado por megacorporações, no qual os limites entre o orgânico e o tecnológico se atenuam. Além de inovar no cenário e na linguagem, o livro criou também modelos tradicionais de personagens, como Case, o hacker anti-herói, e Molly, a guarda-costas ciborgue badass. Foi influência fundamental para outras obras canônicas como o RPG/game/série Shadowrun, o anime Ghost in the Shell e o filme Matrix.

 

3. Duna, Frank Herbert

Provavelmente o menos conhecido entre o público em geral, Duna lidera os favoritos da ficção científica desde o seu lançamento, em 1965. Situado num futuro distante, o livro relata a ascensão de Paul Atreides, que aos poucos se revela ser Muad’Dib, o messias esperado pelos habitantes indígenas do planeta desértico Arrakis. O enredo espacial épico, com incontáveis planetas habitados, casas feudais, facções religiosas e guildas tecnológicas, tem para o gênero scifi peso equivalente aos de Tolkien ou George R. R. Martin para a fantasia, levando os leitores ao fascínio pela história e os costumes do universo imaginário de Herbert.

 

2. 1984, George Orwell

Nenhuma outra obra de ficção especulativa foi absorvida tão completamente pela cultura popular quanto 1984. O livro tornou-se sinônimo de distopia, totalitarismo e vigilância de estado e plantou em todos uma constante desconfiança quanto às tentativas de controle ideológico (com o infame “Newspeak”) e de manipulação da história. De fato, depois dos escândalos recentes envolvendo os serviços de espionagem norte-americanos, o livro ressurgiu em popularidade, retornando às listas de mais vendidos. Mesmo pondo de lado a profunda influência conceitual, que chegou até aos reality shows com a expressão “Big Brother”, a história do protagonista Winston Smith representa de modo exemplar a tragédia do indivíduo que ousa se contrapor a forças superiores.

 

1. Fundação, Isaac Asimov

Herbert possivelmente é mais admirado, Orwell, mais influente, mas Isaac Asimov, temos que admitir, é a própria imagem da ficção científica. As costeletas brancas e os óculos de armação grossa são tão icônicos para o universo scifi quanto os cabelos arrepiados de Einstein para a física. Em Fundação, primeiro livro da série homônima, um grupo de cientistas funda uma colônia no planeta Terminus, dedicada a impedir que o Império Galáctico mergulhe numa idade das trevas de trinta mil anos. Para isso contam com a psico-história de Hari Seldon, uma disciplina que combina psicologia e estatística para prever a evolução geral das civilizações. Além da premissa instigante, inspirada nos estudos da queda do Império Romano, a trama segue o estilo de agentes-infiltrados-e-revelações-surpresas, que faz de Asimov um precursor de sucessos recentes como Lost.

 

[?]. Jogos vorazes, Suzanne Collins

Para tristeza dos misóginos e machistas de toda espécie, nenhuma obra de temática scifi alcançou maior sucesso nos últimos anos que a saga de Katniss Everdeen [toca assobio do tordo]. Ainda é cedo para julgar a longevidade de Jogos vorazes entre os leitores, mas a série de Collins teve um impacto sobre a ficção científica quase tão grande quanto a de Harry Potter para a fantasia – foi possível assistir a diversos autores se atirando em direção ao young adult e aos enredos pós-apocalípticos.

 

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