Acendi este cigarro após parar com o tabagismo durante três longos anos. Nem mesmo bêbado traguei tão rápido quanto dessa vez. Não senti tal velocidade. O tempo parou e aquela cortina de fumaça, paralisada no ar, fez o gesto de uma mão e me arrancou todos os pensamentos. Um instante como aqueles, durante uma conversa, em que você olha estático para um ponto qualquer – no qual a alma se desprende do corpo para passear. O fio da meada perdido por uns instantes eternos e efêmeros.

Fumar é como comer cachorro-quente: você sabe que faz mal e na hora H ele cai como uma luva. Uma massagem interna somente compreendida por aqueles com fome, de fumaça ou salsicha.

“Você fuma muito”, ela deitada de bruços à luz da lua, “Mulheres têm bundas bem mais bonitas mesmo, a sua é muito de homem”. Eu, na sacada, nu, “Há quanto tempo estamos aqui? Três horas?”, pensei. Não a olhei. Seria uma decepção. No meu relógio biológico tudo aconteceu mais rápido que de costume. Queria mais horas. Mais cigarros. Estar com ela é uma certeza, de longe é uma incógnita. Tem essa mania de contrair um lado do lábio de baixo, aparenta mordê-lo mas não faz uso dos dentes, e olha de canto de olho. Aquele olhar impassível. As tatuagens à mostra, os cabelos escuros, jogados e confusos, sobre as costas.

Não tenho medo de sorrir, apenas de escancarar a minha obsessão de tê-la dias a fio nessa mesma posição olhando para mim. Uma melodia de piano passa pela minha mente sem parar. Ela sabe quando minha cabeça está cheia, a expressão de preocupação toma conta do meu cenho. Logo aquele verso palpita na minha mente: “I’ll ease your mind”. Ela me acalma e sabe, de maneira arguta, que me perturba tal qual todas as vezes, nos últimos três anos, em que quis entrar em uma padaria, pegar um maço de Marlboro e acender um atrás do outro e parar o tempo. Aquela sensação de necessidade com vício, o torpor tangendo meu corpo. Quando ela me toca mais uma vez a melodia para.