Noah Baumbach é um cineasta das crises. Das pequenas crises, inevitáveis, universais, humanas. Seu primeiro filme a alcançar notoriedade, A Lula e a Baleia, falava de uma família lidando com o divórcio. Não um divórcio com grandes traumas e reviravoltas, apenas uma família de classe média do Brooklyn lidando com seu esfacelamento, natural, superável, mas não menos dolorido.

Mais recentemente, Frances Ha ganhou de forma afetiva as centenas de jovens que se identificaram com ela: sem dinheiro, mas com uma família próspera suficiente para ajudar; aprendendo a trivial, mas ainda assim dolorida, realidade de que não se pode ser tudo o que quiser.

A Baumbach não parecem interessar as tragédias, mas os pequenos percalços que, dentro da perspectiva de cada um, assumem uma dimensão de transformação e dor profunda. Nesse sentido, Enquanto Somos Jovens é um filme bastante típico de sua obra e, de certa forma, mais próximo de Frances Ha que de qualquer outro, embora pareça criticar justamente os personagens do longa anterior.

Josh, o protagonista, é um documentarista de 44 anos que está há dez anos preso em um mesmo projeto. Sua mulher, Cornelia, é uma produtora que trabalha com o pai, um ícone do documentário americano. Josh parece ser um homem de meia idade que, em algum momento, foi salvo das lições que deveriam tê-lo transformado em adulto: ele é intolerante a críticas, incapaz de colaborar e covarde demais para realmente colocar sua obra no mundo e lidar com a resposta real que ela despertaria. Ainda assim, ele é um personagem gostável, com quem o público estabelece uma relação de identificação e por quem é possível torcer. A arrogância de Josh parece vir de uma inocência que soa quase patética em um homem de sua idade, mas que não é sem encanto.

Um dos maiores talentos de Baumbach parece ser justamente captar essas ambiguidades, a raiz compreensível de desejos insuportáveis. É assim que ele tornou Frances uma personagem adorável e é assim, com mão leve e infinitas sutilezas, que ele conduz Enquanto Somos Jovens.

O filme não aponta dedos – mesmo seu pior personagem é carismático e resumido em uma frase de Cornélia: “ele é um babaca, mas o filme é tão bom!” Não há verdades simples ou escolhas certas no filme, e é por isso que ele é um retrato tão eficaz de diversas crises.

A narrativa começa quando Josh e Cornelia conhecem James e Darby, um casal de vinte e poucos anos. Ele é um aspirante a documentarista; ela faz sorvetes artesanais e afirma não ter nenhum interesse em vendê-los, fazendo-os apenas pelo prazer. É fácil entender por que Josh e Cornelia se encantam com os jovens: sem poder ter filhos, trabalhando em uma área naturalmente instável, eles acabam se sentindo alienados dos amigos de sua idade, que se encontram absortos em aulas de música para bebês e jogos infantis. Josh, além de tudo, precisa desesperadamente de algum estímulo criativo e deseja inescrupulosamente alguém que o admire, alguém que veja nele o artista que ele próprio já não consegue enxergar.

O problema é que ao entrar nesse relacionamento para encobrir seus problemas, o casal se torna vítima deles. Darby é a melhor dos dois jovens: espontânea, aberta, ela acolhe Cornelia com a natural falta de experiência de sua idade. Livre de julgamentos e expectativas, frente a alguém que enxerga as escolhas da vida como muito mais fluidas, Cornelia se sente à vontade para contar dos abortos espontâneos, da mágoa que guarda por Josh ter rejeitado a ajuda de seu pai, das incertezas. Entrar em contato com o que lhe dói enfia Cornelia em um turbilhão, mas ela sai dele definitivamente melhor do que entrou.

Muito mais problemática é a relação entre Josh e James. Ambicioso, James usa Josh para chegar ao seu sogro e enfeita uma história para apelar à pureza que nota no amigo. É condenável, mas nem o filme, nem o espectador, conseguem condená-lo totalmente. Sabemos que é esse senso prático, ainda que impuro, que o separa do fracasso de Josh.

Há duas passagens notáveis nesse sentido. A primeira, quando o pai de Cornelia, saindo para receber um tributo em sua homenagem, confessa a ela que, mais do que talento, foi a falta de escrúpulos que o levou aonde levou – a capacidade de ignorar mulher e filha, de fazer contatos escusos, talvez de trabalhar uma cena para ter o efeito desejado. E em seguida, o momento em que Josh desmascara James, e a mesa de cineastas, produtores e documentaristas permanece impassível, nem um pouco chocada com o que acaba de descobrir sobre o jovem talento.

Essa capacidade de apontar o dedo para a própria classe a própria idade (Baumbach tem 44 anos) é a melhor coisa de Enquanto Somos Jovens. O diretor fala de uma crise e de um fascínio que talvez ele conheça muito bem: Frances Ha parece ser exatamente fruto do encanto que lhe trouxe o início do namoro com Greta Gerwig, com 29 anos na época. A familiaridade permite ver os problemas e os personagens em todas as suas camadas e tornar mais complexas atitudes que outros autores poderiam simplificar.

A forma como é retratado o culto de aparências no filme fornece um bom exemplo. Claro, os jovens hipsters ouvem discos, rejeitam a tecnologia, andam de bicicleta e vivem em um mundo tão falso quanto estilizado de desapego vintage. Mas os mais velhos também vendem o nascimento de um bebê como uma experiência transformadora envolta em luz mágica, apenas para confessar o desapontamento algumas cenas mais tarde. Todos, até o guru da Ayhuasca, fingem ser algo que não são, e a falha trágica de Josh é não perceber isso e viver acreditando nas imagens que lhe são vendidas.

É curioso que Enquanto Somos Jovens seja um filme sobre desencanto e aprendizado com um personagem de 44 anos. É uma espécie de coming of age da meia idade: o momento em que o protagonista aceita que, de alguma maneira, seu tempo passou e aceita as escolhas seguras que até então rejeitava.

É um filme sutil, cativante justamente pelos defeitos de seu personagem e por sua recusa em vilanizar a juventude. Em tempos em que revistas, jornais, intelectuais, filmes e discos adoram apontar o dedo para os preguiçosos, esnobes e estilizados “millennials”, Enquanto Somos Jovens brilha ao não tentar justificá-los, mas sim entender o ódio e o fascínio que despertam.