Tudo começou em 2012. Este blog tinha outro nome, a equipe era diferente, a Flip era a de estreia para quase todos os envolvidos, mas o pão de mel tinha o mesmo gostinho.

(Como descrever? Gostinho de livro bom? Talvez.)

Quem levou foi aquele moço alto e charmosão, nosso especialista em ficção científica – alguns o chamam de Mineirão pelo porte e por conta de onde nasceu. Ele podia ter apenas organizado a viagem com precisão matemática, ter apenas ido com a mala e seu sorriso dickiano, 1 mas ele levou um potão de whey. E, antes que pensássemos que ele também trouxera halteres e planejava treinar em Paraty, ele revelou que ali se escondia um estoque aparentemente infinito de pães de mel – ah, como éramos modestos ao assaltar o pote…

(Gostinho de felicidade também é uma boa.)

O que talvez tenha sido concebido como um agradinho para a sobremesa ou um belo lanchinho vespertino se tornou item indispensável do café da manhã – os mais precavidos comiam um antes de dormir, para a glicose compensar todo o álcool consumido. Vinde a mim, vós que estás ressaqueados e deprimidos (por não terem entrado na festa da Companhia), e eu vos aliviarei.

(Dignidade e vida nova. Definitivamente tinha gosto disso.)

Já em 2013, descobri que pão de mel não se restringia a evitar efeitos colaterais, mas tinha suas próprias reações adversas 2. Petit histoire: de um lado da mesa, uma das escritoras que mais admiro; do outro, o supracitado Mineirão; e, entre eles, eu. Em algumas culturas, eu teria sido chamado de làzhu, candle, bougie, kynttilä ou vela, mas sei que apenas cumpria o papel clássico do semiextrovertido que auxilia os mais tímidos a interagirem numa festa barulhenta. Em dado momento, o Mineirão saiu rapidinho pra buscar algo na pousada e eu fiz companhia à moça, que recebeu dele um presentinho na volta. Eu vi o pão de mel e saquei de imediato o final daquela história.

(Tem gosto de avô! De amor, digo.)

Mentira, nem sempre. Em 2013 e 2014 voltei com pães de mel na bagagem e dei um para a paixonite de cada ano. E não teve amor, paciência. Mas foi engraçado chorar as pitangas com a fonte sagrada dos pães de mel e descobrir os métodos de tortura que ele e a namorada arquitetaram para quem provou não merecer a iguaria: sapatear com tamancas nas costas das pessoas era apenas uma delas.

(Se você tem o paladar apurado, vai sacar o retrogosto de amizade e dos barris de carvalho. Mas principalmente amizade.)

Acho que agora deu para entender toda a falta que um pão de mel faz. Um pão de mel famoso: apareceu na Folha de S. Paulo e tudo. Mas, como diz a Bíblia: “de graça recebeis, então… nem invente de cobrar!”

Espero apenas que a próxima Flip seja mais doce.

  1. “The thing with Dickie… it’s like the sun shines on you, and it’s glorious.” – Marge Sherwood, em “O Talentoso Ripley”
  2. Um personagem de “Noites de Alface” acabou de se animar