O jornal da TV anunciava que fora um duplo suicídio. Do alto de um prédio no centro, sempre no centro da cidade de São Paulo; o útero citadino onde, se não tomar cuidado, acaba te sugando para os bueiros, dois jovens de vinte e tantos anos jogaram-se. Tiraram a própria vida alegando, em um diário onde ambos escreveram, que o mundo não compreendia seu amor; que as pessoas não aceitavam o seu amor. O mundo, como quase um todo (porque “todo” e “mundo” juntos é muita gente), entende sim o amor. Não entende porque o indivíduo alega que o amor lhe obrigou a cometer certos atos. Aquele maníaco depressivo que se matou depois de tomar um pé na bunda; se matou por rancor, por tristeza e não por amor, talvez por loucura, mas isso cruza com a paixão e é muito para uma cabeça pensar. O amor poderia sim fazer as pessoas explodirem de tanto amar. Diz o jornal do dia seguinte: “Indivíduo implode de tanto amor, arcada dentária encaminhada ao IML para reconhecimento”, e no enterro todos levariam corações de papel maché.