Cristovão Tezza nasceu em Lages, Santa Catarina, em 1952. Em junho de 1959, morreu seu pai; dois anos depois, a família se mudou para Curitiba, Paraná. Sua tese de doutorado (USP), Entre a prosa e a poesia – Bakhtin e o formalismo russo, foi publicada em 2002 (Rocco). Também na área acadêmica, Cristovão Tezza escreveu dois livros didáticos em parceria com o lingüista Carlos Alberto Faraco (Prática de Texto e Oficina de Texto, editora Vozes), e nos últimos anos tem publicado eventualmente resenhas e textos críticos no jornal Folha de S.Paulo. Seu livro de 2007, “O Filho Eterno” (Record), ganhou os principais prêmios de literatura na língua portuguesa, incluindo o Prêmio Jabuti de 2008.

1. Como é vencer o Prêmio Jabuti, o APCA, o Portugal-Telecom, o Prêmio Bravo, o Prêmio São Paulo de Literatura? Esperava esse reconhecimento?

Não, sinceramente não esperava ganhar todos esses prêmios. Sabia que o livro teria algum impacto, pela força do tema e por uma certa expectativa depois de “O fotógrafo”, de 2004, que já havia levado dois prêmios, mas nunca uma resposta dessa dimensão.

2. Qual dos livros escritos por você é o seu preferido? Por quê?

Essa é uma pergunta muito difícil que sempre me fazem. Tenho alguns momentos que foram importantes para mim. Gosto especialmente de “Trapo” (1988), “A suavidade do vento” (1991), “Breve espaço entre cor e sombra” (1998) e “O fotógrafo” (2004). E, é claro, de “O filho eterno”. Mas nenhum é favorito.

3. Qual seu livro favorito ou autor?

No Brasil, “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, do Machado. São três brasileiros favoritos: Machado, Graciliano, Drummond. No mundo, dos atuais, J.M.Coetzee e Ian McEwan.

4. O que você está lendo nos últimos tempos?

Muita coisa, que não consigo terminar por força de leituras profissionais, por assim dizer. Estou lendo uma biografia de Schopenhauer e “A sociedade dos indivíduos”, de Norbert Elias.

5. Além da literatura, existe outra arte que você acompanha? Cinema, teatro, dança….

Vejo muito cinema, quase que um filme por dia, mas na televisão, por comodidade e por falta de tempo. Gosto de teatro, uma arte que fez parte substancial na minha formação de escritor, mas tenho visto pouquíssimo. Não sou exatamente um ser musical, mas gosto de jazz e blues.

6. O que acha das adaptações de livros para outras mídias (TV, Cinema, Teatro)?

Uma coisa muito legal, desde que não se crie muita expectativa. Uma adaptação é sempre uma mudança radical de linguagem, com seqüelas importantes. A célebre frase “o livro é melhor” é de certa forma inevitável – é melhor como literatura, mas cinema é outra coisa. Tive um livro (“Trapo”) adaptado para o teatro, e gostei muito do resultado.

7. No cenário brasileiro quem você apostaria como uma nova promessa de escritor?

Muito difícil dizer. A atividade crítica nunca deve ser profética. Acho que há uma nova geração muito importante amadurecendo. Gosto muito, para dar um exemplo imediato, de “A chave da casa”, da Tatiana Levy Salem, que acaba de ganhar o Prêmio São Paulo de autor estreante.

8. Hoje em dia é mais fácil publicar livros, mas também é mais difícil conquistar leitores devido a grande demanda. O que acha disso?

Para quem vem de longe, como eu, é bom lembrar que sempre foi muito difícil conquistar leitores, com ou sem demanda. O leitor é um cisne raríssimo que só quer ser alimentado com iguarias. Sim, hoje é muito fácil publicar livros. Dou um exemplo comparativo: escrevi “Trapo” em 1982 e só consegui publicá-lo em 1988. Foram seis anos de recusas e esperas. Hoje ele sairia em 60 dias. Mas também com relação aos leitores a situação está melhor: hoje o Brasil tem proporcionalmente muito mais leitores do que tinha há 20 anos. Ainda são poucos, é verdade, mas a base aumentou.

9. Como é ser reconhecido por seu talento num país onde a literatura não é uma opção entre os jovens (é vista mais como obrigações para entrar numa faculdade)?

Não penso muito nisso. Meu projeto de escritor não nasceu exatamente de uma ansiedade por resposta, ou eu já teria parado anos atrás. Escrever é uma aventura ética em que metemos a cara por conta própria. Quando há uma resposta boa, como agora, ótimo. Faz bem para auto-estima. Mas é preciso ter gás para passar os períodos de silêncio, que são duros.

10. Qual o ponto inicial para se escrever um livro? Você tem algum tipo de inspiração ou as idéias simplesmente surgem? Conte-nos o processo.

Começo por uma imagem (a mãe numa maca sendo levada para o parto; um jovem morando no sótão de um bordel; alguém descendo uma velha escada para atender alguém que bate à porta), que amadurece num arcabouço narrativo (que nunca permanece o mesmo durante a escrita, mas sem ele não consigo começar) e completa-se por uma linguagem (a primeira frase que define a alma do livro; por exemplo “a solidão é a forma discreta do ressentimento”, de “O fotógrafo”, ou “Eu tinha tudo para dar certo, exceto a família”, em “Juliano Pavollini”). O resto é trabalho duro, meses a fio.

Meia: “ser escritor no Brasil…”

Ser escritor no Brasil não é substancialmente diferente de ser escritor em qualquer lugar do mundo. Escrever é uma viagem solitária e intransferível.

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Meia Palavra agradece Cristovão pela imensa atenção que deu para nós e toda a Equipe parabeniza suas conquistas nesses último ano!

*Fotos e Biografia retirados do site oficial: http://www.cristovaotezza.com.br