Criar um álbum musical baseado em um livro não é um feito que possamos chamar de novidade. Algumas bandas já tiveram essa iniciativa de musicar os livros preferidos, mas a verdade é que poucas conseguiram passar algo parecido com as obras que homenageavam. Um grande exemplo de sucesso é o álbum Nightfall in Middlhe-Eart do Blind Guardian, que consegue transmitir para o ouvinte toda a atmosfera tolkieniana em suas faixas. Dia 23 de janeiro, mais um álbum baseado em uma obra literária foi apresentado ao mundo.

A-Lex é o mais novo CD da banda de “trash” ((Eu ainda considero o Sepultura como uma banda de trash)) Sepultura e, para a felicidade dos fãs, ele é inteiramente baseado no livro Laranja Mecânica do escritor Anthony Burgess. São ao todo 18 faixas que tem a intenção de “cantar” um pouco da história do livro ou abordar o assunto mais recorrente da obra: a violência. Eu considero esse CD em questão um marco na carreira da banda, mesmo não sendo o primeiro álbum baseado em um clássico literário. O Sepultura já havia experimentado essa temática literária em Dante XXI, quando usou o livro A Divina Comédia como base para seu trabalho. Existem algumas controvérsias que vão marcar A-Lex na memória musical de alguns críticos do gênero, talvez elas passem despercebidas pelos simples ouvintes, mas vou salientá-las nos próximos parágrafos.

Sai Igor Cavalera entre Jean Dollabela

A primeira notícia bombástica sobre o novo trabalho do Sepultura é que ele não conta com a participação de Igor Cavalera no comando da bateria. Não vou explorar muito o fato, porque ele não tem um valor muito grande para esse artigo e pode causar certo descontentamento por parte dos fãs mais antigos da banda. Porém achei que deveria citá-lo, pois acredito que seja uma notícia importante.

Visão musical

Quem já conhece os outros trabalhos do Sepultura vai perceber logo nos primeiros minutos escutando A-Lex que a banda manteve o foco na inovação e redimensionamento das musicais. Desde Against (primeiro álbum do Derrick Green na frente do vocal) que eles vem mantendo o critério originalidade como ponto forte da banda, sempre buscando agregar às músicas novos instrumentos e ritmos; mas nem tudo são flores em A-Lex.

O CD tem pontos fracos que podem atrasar seu sucesso, algumas músicas são extremante repetitivas, causando aquela pergunta “ué, mas eu já não ouvi isso na faixa anterior?”. A tentativa de misturar música clássica com o som característico da banda também não pode ser vista como total sucesso, mas isso vai de acordo com o gosto de cada um que ouvir o CD, no meu caso achei que ficou um pouco forçado.  O destaque mesmo vai para The Treatment, Metamorphosis e The Experiment, além das faixas intitulados A-Lex, que vão do I Até o IV.

Relação com o livro

Laranja Mecânica

Li Laranja Mecânica há um tempo e admito que não me lembro muito do livro, até mesmo porque o filme ocupa quase todas as referências mentais que eu tenho com esse nome. Lembro que o autor ressalta o fator violência durante o livro e meio que “vomita” em cima do leitor uma série de conflitos étnicos e sociais em uma Londres (se não em um mundo) falida moral e financeiramente. Burgess também brinca com as gírias e faz com que boa parte do livro tenha que ser lida mais de uma vez para que aja um entendimento correto.

A-Lex é tão violento quanto o livro Laranja Mecânica e os riffes de guitarra são de um peso que eu já considerava esquecido pela banda. As letras também têm seu forte na acidez dos comentários. A  segunda música traz o nome de uma das drogas psicotrópica do filme, Moloko Mesto, que é basicamente um leite batizado ((A verdade é que eu não sei explicar bem o que é o Moloko Mesto)). Obviamente A-Lex não seria uma boa trilha sonora para o filme que também é baseado no livro, dirigido pelo Stanley Kubrick, mas em momento nenhum o álbum tem essa pretensão.

Minha conclusão como pseudo crítico

A-Lex é realmente um álbum de boa qualidade, até mesmo pela liberdade que a banda teve para fazer sua gravação e os deuses do Rock sabem como isso é de vital importância. Não é o tipo de trabalho que eu recomendaria para todos os tipos de ouvinte, mas quem curte metal e seus afluentes, vai se interessar em ouvir o CD pelo menos em nível de curiosidade. Eu já comprei o meu e acho que vou dar de presente para um amigo. No final das contas o que importa mesmo é ouvir o CD antes de dar a opinião sobre ele.

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