kafkaTombou-me ao colo, sem mais nem menos, por pura sorte, puro destino inegável, um conto que nem conhecia. Veio-me de brinde, de coisa extra, meras páginas a mais. Comprei a novela de um homem que se torna inseto, mas, distraído, só depois vi que uma cena entre pai e filho conversando num quarto, estava ali, me esperando. Quis um, e esse um me veio companhado de dois. Ganhei três: A Metamorfose, O Veredicto e Franz Kafka. Só três? Vou ganhar mais. Opa, se vou!

Veja: Otto Maria Carpeaux escreveu o Literatura Alemã: ainda não é meu… mas livraria e cartão de crédito servem para quê mesmo? Vou ganhar mais, certeza: vou me meter na gelada Alemanha.

(Antes de envederar por caminhos machadianos, vou me meter, num momento de estrangeirismo literário, em terras nórdicas e de língua enrolada.)

Mas, por ora, num momento de pausa na coisa chucrute, vou de William, vou à terra da Rainha. Da Ana Rosa à Barra Funda, com os trilhos doendo os ouvidos, depois à Osasco: vou lidar com um casal de fama. Depois, da Ana Rosa à Vila Olímpia, com o frio e o trânsito da goroa cinza, continuarei indo de William. E por aí irei, até que – aqui mesmo na América, lá na parte em que se fala enrolado – apertarei as mãos de Charles e Henry Chinaski, na mesma toada: Ana Rosa à Barra Funda, à Osasco, à Vila Olímpia.

(Caminhos machadianos hão de vir à minha frente, certeza, mas for now, deixe-me falar enrolado, ler enrolado, trançar a língua até emudecer e sentir falta do velho e bom português brasileiro do Cosme Velho.)

Sobre o autor: Gabriel Noleto é estudante de jornalismo e pode ser encontrado no blog Depois do Lance.
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Do título dos rabiscos: como o próprio Kafka se referiu ao terminar O Veredicto: sabia, enfim, “como tudo poderia ser dito.” Simples, não?

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