Na Moçambique pós-guerra, temos um cenário devastado onde a cultura e a sobrevivência são dois elementos que se cruzam em “Terra Sonâmbula” de Mia Couto, um inventor de palavras que constroem sonhos de uma realidade.

Somos apresentados ao velho Tuahir e o menino Muidinga que à procura de abrigo, encontram um ônibus incendiado e cheio de corpos carbonizados. Dentro desse ônibus Muidinga encontra 12 diários de Kindzu, um fugitivo da guerra.

À partir da leitura desses diários vemos a relação entre Tuahir e Muidinga se estremecer, o garoto que não sabe sua origem questiona diversas vezes o velho que o acompanha; querendo saber de onde veio, quem são seus pais e qual sua relação com o velho.

Aqui, o céu se tornará impossível.

As duas narrativas se cruzam, Kindzu conta as dificuldades de viver em um lar que respeita todas as crenças de sua cultura: a adoração dos espíritos, os devaneios do pai pescador, a cegueira social de seus vizinhos, etc. Entretanto, em meio a essa fuga do seu meio sem ter de renegar as tradições supersticiosas (tornar-se um guerreiro e acreditar em seus sonhos, que curiosamente não tem). É nesse ponto de tradições e relatos que as histórias se cruzam e caminham juntas, em nenhum momento trata-se de uma narrativa dentro da outra, mas sim o quanto uma influência a outra.

A guerra é uma cobra que usa os nossos próprios dentes para nos morder.

Numa terra onde dormir não é uma escolha, a chave para toda a apreciação da obra é saber que sonhos são tão reais quanto uma guerra, e a destruição e a vida caminham juntas por um caminho cheio de obstáculos e anseios.

A história foi adaptada para o cinema em 2007 em uma produção Moçambique/Portugal.

O que faz andar a estrada? É o sonho. Enquanto a gente sonhar a estrada permanecerá viva. É para isso que servem os caminhos, para nos fazerem parentes no futuro.