Quando Le Clézio ganhou o Nobel, em 2008, eu fiquei um tanto quanto desconfiado. Não o conhecia mas o que li a respeito não me animou. Parecia-me um autor de ‘aventuras’- bastante interessante para o entretenimento, mas não tanto para a literatura.

Ao ler Peixe Dourado eu descobri que ele realmente escreve aventuras. Mas de modo diferente do que eu imaginava. Na história de Laila, a aventura verdadeira acontece dentro da personagem, e não em lugares selvagens e estranhos. É certo que a pequena orfã visita lugares que não esperava- inusitados, se considerarmos sua origem- mas as verdadeiras descobertas e os verdadeiros desafios acontecem em sua alma.

Ela foi roubada de casa aos 6 anos de idade, em algum lugar da África, e acabou na casa de uma velha judia que vivia no Marrocos. A partir da morte dessa velha senhora- Lalla Asma- Laila lança-se ao mundo em uma jornada repleta de perigos.

Esses perigos, porém, não são extraordinários ou sobrenaturais, mas sim conseqüências da sociedae em que vivemos: ela é continuamente vítima de assédios e todos que se aproximam dela parecem querer aprisioná-la, guardá-la para si. Isso, é claro, falando em um nível mais elevado. Quando dos perigos mais físicos, ela é freqüentemente vítima de preconceitos e violências- por ser fraca, por ser negra, por ser mulher.

Não sou grande apreciador da literatura francesa, mas Le Clézio é, indubitavelmente, um dos maiores autores desse idioma- e tem, sem sobra de dúvida, seu lugar garantido no panteão dos grandes autores contemporâneos, juntamente com nomes como Günter Grass, J. M. Coetzee e outros.

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