O Brasil é notadamente uma grande mistura das etnias mais diversas. Os judeus, obviamente, não deixaram de marcar presença na construção da cultura do país. São aproximadamente 90 mil judeus, a segunda maior comunidade da América Latina e a décima primeira no mundo, isso considerando-se apenas os praticantes da religião e não meramente os indivíduos de ascendência hebraica.

A história dos judeus no Brasil começa já no descobrimento (ou achamento, como preferirem), com a presença de Mestre João e de Gaspar da Gama na esquadra de Pedro Álvares Cabral- ambos eram cristãos novos, judeus forçosamente convertidos ao cristianismo.

Nos anos seguintes continuaram a chegar cristãos novos e judeus per se, mas o grande se deu quando das invasões holandesas , a partir de 1630. O grande influxo de judeus sefarditas vindos da Holanda levou mesmo à fundação da primeira sinagoga das Américas, em Recife. Com a expulsão dos holandeses essa comunidade dispersou-se, inclusive dando origem a primeira comunidade judaica da América do Norte, em Nova Amsterdã- mais tarde Nova Iorque.

Mas foi no século XIX que a imigração em massa ocorreu: sefarditas marroquinos mudaram-se para a Amazônia e, com o declínio da exploração seringueira, as famílias mais ricas mudaram-se para o Rio de Janeiro. Com a proclamação da República iniciou-se um grande fluxo de judeus asquenazes, vindos de países como Polônia, Rússia, Lituânia e Ucrânia.

Essa história, ainda que bastante resumida, juntamente com a inclinação intelectual que a cultura judaica secular costumeiramente incute nos indivíduos é capaz de fazer crer a grande amplitude da literatura judaica no Brasil. O que é verdade, apesar de a maioria dos escritores não ser muito conhecida.

Infelizmente não pude encontrar muita coisa a respeito dos judeus de Recife e dos judeus amazônicos- a única exceção foi ‘Eretz Amazônia’ do professor e economista Samuel Benchimol, narrando a saga dos judeus no norte do país. Talvez o fato de que os judeus sefarditas, já na África e na Península Ibérica não haviam desenvolvido uma tradição literária vigorosa, contribua para tal (se algum leitor conhecer mais a esse respeito e souber indicar alguma bibliografia, eu ficaria imensamente grato).

No Sul e Sudeste do país, regiões que receberam basicamente asquenazes, a situação é outra: Clara Steinberg, Hersch Schwartz, Meir Kucinski, Rosa Palatnik, Adolpho Kishinievski, Baruch Schulman, Abraão Brener, Marcos Jacobovitch, Chaim Rapaport, Isaac Raizman, Leib Malach, Itzkchak Guterman e Josif Landa foram todos judeus que não apenas escreveram, mas escreveram em ídiche. Seus contos eram contos de imigrantes e, cada um a seu modo, narravam as agruras de ser estrangeiro e de ser judeu em uma terra nova e desconhecida, em que muitas vezes não se conhecia não apenas o modo de vida, mas também se ignorava o idioma.

Modernamente temos muitos escritores de origem judaica, e que escrevem em português. Alguns deles, inclusive, bastante famosos, como Clarice Lispector e, mais recentemente, Moacyr Scliar.

Outros escritores, muitos deles ainda bastante jovens, são Adriana Armony, Tatiana Salem Levy (as duas, inclusive, organizaram uma coletânea chamada ‘Primos’, com contos de escritores brasileiros judeus e árabes), Leandro Sarmatz, Julián Fuks, Flávio Izhaki, Cíntia Moscovich, Bernardo Ajzenberg, Arnaldo Bloch e Alexandre Plosk.

Os judeus no Brasil, porém, já foram quase que totalmente assimilados. A literatura judaica em nosso país, hoje, só é judaica no sentido de que ainda imprime uma sombra cultural sobre os autores, que cresceram com alguma influência dessa cultura tão antiga e tão rica. Mas, de certa forma, a cultura judaica fez isso com toda a cultura brasileira- assim como fizeram muitas outras etnias.

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