Um reporter não é um policial. Ele averigua os fatos apresentados e noticia sem colocar o seu lado. Se a polícia e a justiça declarou o réu culpado, isso estampará as capas dos principais jornais. Um ou outro depoimento será ouvido para ter a imparcialidade reforçada. Jack McEvoy é um daqueles típicos jornalistas criminais: conhece os principais detetives, alguns informantes e está sempre com a materia examinada nos minimos detalhes. Porém os dias de glória estão fadados ao fim, pois McEvoy faz parte de um seleto grupo de 100 pessoas que será dispensado do Los Angeles Times. O que torna a despedida ainda pior é que seu chefe Richard Kramer quer que ele treine a sua substituta Angela Cook, uma jornalista recém-formada especialista em mídias digitais.

O Espantalho, livro do veterano Michael Connelly, lançado pela Suma de Letras em abril deste ano, traz Jack McEvoy envolto numa história onde o poder da internet não é usado apenas para resolver casos, mas para enrolar os personagens numa teia de assassinato e poderes inalcançáveis provando que uma ferramenta tão útil também pode ser traiçoeira.

Antes de conhecer Angela, McEvoy recebe a ligação de Wanda, mãe do traficante Alonzo Winslow preso e julgado – após confissão, de acordo com a própria matéria assinada por Jack – por assassinar e jogar o corpo de uma de suas clientes num porta-mala. A mãe diz que o filho é inocente e que toda aquela história foi uma armação para colocá-lo atrás das grades. A partir dessa pista Jack vai atrás do detetive do caso e descobre que a confissão apresentada no julgamento do traficante apenas dizia que ele roubou o carro onde estava o corpo. O repórter precisará da ajuda de sua substituta para encerrar sua carreira no Los Angeles Times de cabeça erguida.

Em outra parte da trama existe Carver, um perito em segurança de uma empresa, chamada Fazenda. de armazenamento digital conhecido como O Espantalho. Os acessos dele são ilimitados, visando proteger os dados dos clientes, e também uma poderosa arma de informação. Quem controla informação controlará tudo? Como parte do nervo central da narrativa, a história de Carver aparece de maneira paralela, incluindo uma narrativa em terceira pessoa (a história de McEvoy se desenrola em primeira).

Todos esses ingredientes são misturados com uma saturada pitada de suspense quando Rachel, uma agente do FBI e ex-affair de Jack McEvoy (como notado no livro O Poeta), aparece para ajudar o caso do assassinato, pois, como Angela descobriu com seus poderes de investigação digital, houve um caso semelhante em Las Vegas. Só que nada passa desapercebido pelo mundo da internet sem que o espantalho saiba. Quando as tramas se entrelaçam e tornam-se uma só, o leitor tentará se encontrar em meio aos capítulos em que ora estão nas palavras de Jack, ora estão na terceira pessoa mostrando o outro lado da história.

O livro de Michael Connelly é tudo o que os fãs de suspense gostam: ação, romance, detetives, assassinatos brutais, inocentes que parecem culpados e culpados que parecem inocentes. Tudo isso auxiliado pela localização temporal da trama: o presente cheio de tecnologias que auxiliam às comunicações (twitter, facebook, e-mail, chats) e a armadilha que elas podem ser.