Serie produzida pelo estudio de animações japonês Gainax com 26 episódios em que uma organização paramilitar chamada Nerv utiliza seres humanóides gigantes (EVAs) para proteger a humanidade de monstros colossais denominados “anjos”.

 O fascínio da literatura por máquinas teve início bem no começo do século vinte como eco cultural da revolução industrial fazendo com que muitos autores mergulhassem no mundo mágico da especulação científica em seus contos que geralmente simulavam situações num futuro imaginário, e até hoje as histórias de robô ainda tem espaço na literatura, TV e cinema. Porém, no Japão entre as décadas de 60 e 70 os robôs ficaram gigantes.

Sobretudo, é inegável que os robôs gigantes também conhecidos como MECHA se tornaram um dos maiores expoentes da cultura pop japonesa sendo até copiados em filmes e animações americanas ou mesmo sendo incorporados por hollywood, como foi o caso dos transformers. Mas o fato é que, qualquer um que possua alguma forma de admiração por estes autônomos titânicos precisa assistir esta série que é uma obra prima do gênero.

O WATCHMEN DOS ROBÔS GIGANTES.

A novela gráfica de Alan Moore, Watchmen é aclamada por, dentre vários fatores, testar ao extremo a possibilidade de um mundo onde os super heróis existam. Neste paradígma criado pelo roterista britânico, a existência de um único ser dotado de super poderes mudaria completamente o cenário mundial e mesmo as ações de um encapuzado sem poderes como o batman teriam sérias consequências.

No primeiro e segundo episódios da série somos apresentados a Tokio 3, uma cidade que é praticamente um bunker anti-godzilas completamente voltada para o combate aos monstros gigantes angels. Afinal de contas, se pararmos pra pensar a Alameda dos Anjos de Power Rangers deveria ser eliminada em poucos episódios se os adolescentes continuassem brincando de luta com seu Megazord por lá. E nem todos os monstros gigantes são bonzinhos ao ponto de ir para a pedreira mais próxima batalhar com o herói como acontece em Jaspion e outras séries do gênero.

Logo nas primeiras cenas vemos que a cidade está fortemente armada e pronta até mesmo pra receber explosões de bombas de nitrogênio sem grandes perdas. Armas estão espalhadas por todos os cantos, e aparentemente há um sistema de evacuação muito eficiente na cidade, sendo que alguns prédios chegam até mesmo a serem recolhidos para o subterrâneo para não serem danificados durante as batalhas.

Além disso, os robôs e as armas não saem do nada como ocorre na maioria das histórias de Mecha. A cidade possuí vários pontos construídos especificamente para o lançamento dos EVAs, assim como locais onde os pilotos dos robôs gigantes podem obter armas e suprimentos.

Aliás, os mecha dessa série são um show de verossimilhança a parte. Logo no primeiro episódio nos é informado que, obviamente, é necessária uma grande quantidade de energia para manter a gigantesca “máquina” funcionando, por isto os EVAs estão contectados a um cabo de energia que é chamado de cabo umbilical. E sem esta fonte de alimentação externa eles funcionam com o auxílio de baterias por apenas 5min no modo economia de energia e 1 min com “força total”.

Porém, a tradição desse tipo de série dita que os pilotos dessas sofisticadas máquians são no máximo adolescentes. Para isso eles criaram uma desculpa adequada dando a entender durante toda a série que estas crianças foram genéticamente modificadas para tal trabalho. Além disso há consequências de se colocar tanto poder nas mãos de pilotos tão novos que são relatadas o tempo todo durante a série.

PSICOLOGIA E FILOSOFIA

E falando em emoções, reza a lenda que os autores da série estudaram psicologia e filosofia durante a produção. Isso resultou num aprofundamento abissal na construção dos personagens, que são pandimencionais expondo várias facetas de suas complexas personalidades ao longo da série.

Aliás, este é um grande ponto fraco da história. A composição multifacetada e profunda dos personagens funciona muito bem até o episódio 14. Até aí a trama era voltada para os eventos em Tokio 3 e o conflito principal da história: a invasão dos angels e as fantásticas lutas com robôs gigantes. Porém, a partir daí o foco passa a ser os personagens e os episódios começam a perder muito tempo em monólogos narrando os pensamentos e conflitos dos mesmos tendo como fundo imagens psicodélicas dígnas de 2001: uma odisséia no espaço.

O grande problema é que estes monólogos de resolução de conflitos internos dos personagens não levam a lugar algum na trama. Em poucas vezes é revelado algum detalhe do passado dos personagens ou do plot (leia enredo) da história, mas a maioria das vezes nada sai dessas cenas. E elas são muitas.

Porém, as referências a psicologia são frequentes, principalmente quando se fala de psicanálise. Os conflitos de Shinji com seu pai, e sua relação com as mulheres são completamente didáticos para qualquer um que já tenha ouvido falar de complexo de édipo. Inclusive vários termos como “inconsciente”, ou “ego” são frequentemente utilizados na história. Além disso, a maioria dos personagens têm alguma espécie de conflito com os pais claramente declarado.

RELIGIÃO

Tão fortes quanto as referências a psicologia neste anime (nome dado aos desenhos japoneses) são as referências a religião.

Para começar os robôs gigantes são denominados “EVA” por serem cópias genéticamente modificadas de Adão, o suposto primeiro anjo que teria vindo a terra casando o primeiro impacto. Uma grande explosão que foi seguida do segundo impacto que derreteu as calotas polares aumentando significativamente o nível dos mares. Na história este “segundo impacto” teria sido causado pelo próprio homem como parte de uma teoria de conspiração para causar o apocalipse e fazer a raça humana se tornar uma única entidade.

Em outras cenas do anime eles dizem que “o homem encontrou deus e tentou cloná-lo” e em outras que “adão foi feito pelo homem”. Então não se sabe dizer se o primeiro anjo “caiu na terra” ou se era uma clone mal-feito do próprio deus. Em outros momentos se diz que nós mesmo somos o “17º anjo” e decendemos de adão e em outro momento ainda se fala de lilith, que seria em algumas tradições a primeira mulher de adão.

Entre cruzes gigantes, a lança do destino e simbolos cabalísticos também se destacam a mitologia babilônica em seu “protocolo de marduk” e claras referências filosóficas simbólicas ao zen budismo, taoísmo e shintoísmo como yin-yangs gigantes, multiplos olhos, e ancestrais ou parentes que retornam o tempo todo para ajudar os protagonistas e por aí vai.

MAIS PERGUNTAS QUE RESPOSTAS.

Uma coisa legal que de se fazer em uma história tão detalhada como Evangelion é deixar perguntas em aberto para serem respondidas pelo próprio público. Ou simplesmente para trollar (leia sacanear) os fãs mais tarados. Por exemplo:

Não se sabe a origem da personagem rei. Não sabemos se ela é um clone genéticamente modificado de um anjo, se é um clone da mãe de shinji ou se ela é um anjo que é clonado várias vezes. O fato é que existem várias cópias dela, mas sua origem não é esclarecida na série. Em vários momentos dá-se a entender que ela pode ser um clone da mãe de shinji, pois rei surge logo após a morte dela e as duas tem feições muito parecidas. Além disso Ikari, diretor da Nerv e pai de Shinji parece ter certo apreço por ela. Em the end of evangélion OVA (filme paralelo a série) criado para ser um final alternativo da série original, shinji a chama de mãe durante as psicódelicas cenas do final, mas em certo momento Ikari dá a entender que seu apreço por Rei se dá por ela ter uma conexão com Lilith e por isso teria poder de fazer com que ele veja sua mulher novamente. Outra cena que contraria tudo isso é no episódio 24 onde o último anjo que tem a forma de um garoto diz a rei que “eles são o mesmo”.

A mãe de Shinji teria “desaparecido” durante um experimento com um Eva. Ao que parece, seria o Eva 01. Mas quando esta história é contada são exibidos vários esqueletos do que parece ser o Eva 00. Ikari também parece ter um grande apreço por este Eva, no entanto mais tarde é revelado que esta é a única unidade com o irônico motor “S2”, o que explicaria sua capacidade de se movimentar durante o Bersker, as cenas na qual o EVA entra em fúria. No entanto, no OVA The End of Evangelion, o EVA 02 também entra em Berserker, e não se diz se ele tem este motor. Durante o mesmo episódio que relata a criação da nerv e dos Evas também se cogita que Ikari não teria se casado com a mãe de shinji por mero acaso e que ela teria algo de especial além do seu grande talento com egenharia genética.

Não fica claro de onde os anjos vêm. Se fomos levar ao pé da letra o nome anjo eles deveriam estar vindo “do céu”. De certa forma eles vêm de lá. Alguns anjos aparecem na órbita do planeta e não é raro os técnicos da Nerv dizerem que “o inimigo aterrisou”. Algumas vezes eles surgem do nada, como é o caso do Anjo vírus. Mas um caso em particular levanta dúvidas: no episódio “inferno de lava” um anjo é encontrado em estado embrionário dentro de um vulcão o que dá margem para interpretar que eles surgem na terra, ou que já estão aqui a muito tempo. Quando se fala do primeiro e segundo impacto eles também usam o verbo “encontrar” quando relatam o contato com o anjo explodiu. Então seriam os anjos Deuses como Cthulhu que vieram de outro planeta ou dimensão? Muitos autores como Zacharia sitchin (de o Décimo Segundo Planeta) e Eric Von Daniken (de eram Os Deuses Astronautas?) apostariam nesta hipótese.

UMA SÉRIE ACLAMADA

Neon Genesis Evangelion ganhou vários prêmios, é aclamada pelo público até hoje e há a possibilidade de um dia possa virar filme, além de ser responsável pelo sucesso do estúdio Gainax. A série teve um reboot que acontecerá na forma de 4 filmes animados, atualmente 2 já foram lançados.

Por isto, e pelos vários motivos citados acima é impossível alguém ser fã de Mechas ou mesmo de animê sem ter ao menos assistido a série original.

Sobre o autor: Tiago Cabral é Psicólogo, escritor e game designer e pode ser encontrado também neste endereço.

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