Em tempos de ‘Slut Walk’- e um súbito  um reempoderamento dos movimentos feministas- um livro como Mulheres, do norte-americano de origem alemã Charles Bukowski soa anacrônico, afinal muitas vezes soa sexista, ao ponto do chauvinismo.

E, confesso, é quase difícil defender o livro dessa acusação. A história de Henry Chinaski- o alter ego de Bukowski, presente em outros de seus livros, como Misto-Quente, Factotum e Cartas na Rua- mas agora já aos 54 anos, como um escritor mais ou menos consagrado, em contraste ao perdedor das ocasiões anteriores. E esse relativo sucesso de Chinaski se reflete em um absurdo sucesso com as mulheres- que ele não trata tão bem assim.

Mas o livro é defensável. Não apenas por seus méritos estilísticos- é, afinal, realmente bem escrito, é difícil usar palavrões tão bem quanto Bukowski- mas principalmente pelo modo como a relação de Chinaski com suas mulheres se desenrola: não passa de um amontoado de decepções, uma atrás da outra- tanto para elas quanto para ele. São relacionamentos tensos, cheios de idas e vindas, com uma infinidade de altos e baixos bastante extremos.

Em alguns momentos, chega a ser engraçado o modo como algumas das mulheres reclamam que ele só pensa em sexo, e como algumas vezes ele escapa delas para beber- afinal, elas só pensam em sexo.

Alguns poucos homens- além do próprio Chinaski- aparecem no livro, e ele os trata ainda pior do que faz às mulheres. E é isso que nos leva ao ponto mais importante- e triste- da história de Chinaski (e de Bukowski): ele não gosta de ninguém, ele detesta pessoas, porém, ele precisa delas; todo mundo precisa. Por mais que racionalmente ele saiba que a solidão vai ser melhor para ele e para todos ao seu redor, é simplesmente impossível não querer ser amado.

Outro ponto alto do livro é a relação de Chinaski com seus livros. A poesia passou a ser de pequena importância, e o que mais lhe irrita é que alguém tente conversar a respeito de livros- pior ainda se forem os deles. Nas poucas concessões que faz a respeito- claro que, cedendo à garotas bonitas- ele se mostra um cínico sem esperanças,  que sabe como o mundo literário é pueril e cruel.

Uma das melhores e mais importantes obras da gigantesca obra de Bukowski, Mulheres ainda tem, para os fãs de seriados, o charme extra de ser uma das principais inspirações para a série Californication– um escritor promíscuo e triste, que contrasta seu sucesso literário com seu fracasso na vida pessoal.

Mulheres

de Charles Bukowski, tradução de Reinaldo Moraes

320 páginas

R$ 17,00

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