A Viagem é o primeiro romance de Virginia Woolf e ela demorou nove anos para escrevê-lo, isso contando do momento da ideia para o livro até a edição final. E nesse tempo muitas coisas aconteceram na vida de Virginia Woolf que, sem dúvida, influenciaram na composição da obra. Refiro-me à morte de sua mãe e a sua primeira crise de depressão. Portanto, em A Viagem temos muitas passagens tristes, intercaladas por outras de um humor muito refinado, típico de Virginia.

A personagem principal chama-se Rachel Vinrace, é uma jovem pianista que, como todos os jovens em seus 20 e poucos anos, não sabem muito bem para onde ir. Uma sensação de indecisão acompanha Rachel fazendo ela, muitas vezes, parecer distante do mundo. Mas é absolutamente o contrário, Rachel dá tanta importância ao seu cotidiano, à família e ao que ela deve fazer de sua vida, que seus pensamentos sempre estão a mil, fazendo dela uma grande pensadora sobre o que é realmente a vida.

Ela parte para uma viagem com os seus tios, Mr. e Mrs. Ambrose, e, acredite, o destino é o Brasil. Não é falado sobre isso com clareza, mas fica nas entrelinhas. Não acho que Virginia Woolf tenha pensado “vou escrever um romance que se passa no Brasil”, não. Ela usou apenas a America do Sul como referência, era preciso que os personagens fizessem uma viagem para um lugar distante, desconhecido e exótico. E isso fica claro com as descrições do ambiente que remetem a um lugar que não existe de verdade.

A passagem de Mr. e Mrs Dalloway pela história é fantástica! É como se o perfume (eu acredito que seja floral) invadisse toda a história e mudasse o tom, o ritmo: Mrs. Dalloway é uma antagonista em A Viagem, pois ela e seu marido colocam em Rachel uma pequena ponta de provocação.

Já em terras estrangeiras, Rachel conhece Terence Hewet, um jovem que está tentando escrever um romance sobre o silêncio. E as aventuras de Rachel na América do Sul são na companhia de Hewet, seja fisicamente, seja em seus pensamentos, pois demora certo tempo para Rachel concluir que ele pode ser a pessoa certa para um casamento. Outras histórias aparecem na trama, outros casais se formam, mas o desenrolar da história acontece conforme as ideias de Rachel.

Personagem muito interessante também é a tia de Rachel, chamada Helen, que mantém um equilibro sobre a vida muito bonito, um carinho especial pela sobrinha e um amor tenro pelo marido Ridley. Helen se sente na missão de “educar” Rachel, pois a considera ingênua demais, frágil demais. Sugere a ela livros e amigos intelectuais na tentativa de transformar sua sobrinha menina numa mulher. Mas Rachel não precisa disso, pois a música – ela toca piano muito bem – a preenche como a literatura preenche sua tia Rachel, mas ela não entende.

O mais difícil é falar sobre o final desse livro. É um final perfeito, é o que posso dizer. Pois somente com o final que Virginia Woolf nos forneceu foi possível compreender toda a dimensão de uma viagem, A Viagem.

Conselho: para quem ler a edição da Novo Século há uma introdução feita por Angelica Garnett, não leia! Deixe para o final. É a minha dica.

Sobre a autora: Francine Ramos trabalha com tecnologia educacional, está no último ano de Letras e mantém o blog Livro & Café. Mora em Sorocaba, interior de São Paulo. Prefere o inverno, gosta de ler, escrever, rock e uísque com bastante gelo.