Nesse dia 29 de dezembro de 2011, colocamos no ar a última parte (de três, confira as outras aqui e acolá). Lembrando que nossa única regra é falar sobre o melhor livro que leu no ano, mas não, necessariamente, seja de 2011. A equipe Meia Palavra agradece cada visitante que deu seu curtir no Facebook, divulgou no twitter e fez desse espaço um ótimo lugar para leitores e curiosos! Que em 2012 continuemos a cumprir nossa tarefa de falar de literatura, e um pouco mais das artes que nos cercam! Feliz 2012 para vocês!

Kika: A Song of Ice and Fire (George R. R. Martin)

Talvez dois meses e meio de posts semanais já tenham dado a dica, mas minha leitura favorita (e também a que consumiu mais tempo) foi a saga de George R. R. Martin. Foi um ano de leituras excelentes, muitas primeiras vezes, muitos autores consagrados, mas As Crônicas de Gelo e Fogo ficaram marcadas em minha memória. Uma trama complexa, personagens cativantes, outros que adorei odiar, e muitas referências históricas. Isso aliado ao estilo de narrações múltiplas de Martin, que me capturou na primeira linha, e me tornou missionária de sua obra. Indico, de olhos fechados, para os fãs de fantasia e a quem curte uma história interessante e bem contada. A enorme quantidade de páginas pode assustar no começo, mas persevere. Vale a pena.

Anica: Como me tornei estúpido (Martin Page)

A realidade é que foi bem difícil chegar nesta “melhor leitura do ano”, tive que recorrer ao unidunitê entre obras que eu sei que terei como melhores leituras não apenas de 2011, mas da minha vida. E o escolhido foi Como me tornei estúpido, de Martin Page, que para mim foi um daqueles livros que alguém te recomenda e empresta para ler e que depois você fica sentindo que tem uma dívida enorme com a pessoa para sempre, de tão gostosa que é a leitura, de como a obra parece surtir um efeito em você. Já tem alguns meses que li, e sinto saudades do protagonista, Antoine, que um dia chega à conclusão que o motivo de sua infelicidade é que ele é muito inteligente (e questionador), e portanto resolve que se tornará estúpido, para ser feliz. O livro é engraçado, tocante e inteligente, tudo isso na medida certa. O único defeito é que é realmente muito curtinho, e mal você termina já fica com vontade de mais Martin Page.

Liv: Píppi Meia Longa (Astrid Lindgren)

Esse ano tive ótimas leituras. De Thoreau à Saramago, tive a oportunidade de caminhar entre vários autores e diversos gêneros. Escolhi o infantil Píppi Meia Longa por ter significado diversas horas encantadoras junto com a minha irmã de quatro anos. Nas aventuras da garota de cabelo cor de cenoura lemos juntas, viajamos, rimos e nos divertimos a cada página e certamente cada vez que eu olhar para essa história, vou lembrar que cabe a mim incentivar a minha pequena a amar cada vez mais os livros.

Felippe Cordeiro: Diário da Queda (Michel Laub)

Outro ano de grandes leituras, foram tantas que até perdi a conta. Finalmente me rendi aos encantos de Murakami e, do incrível, André Sant’Anna. Aliás, O paraíso é bem bacana poderia entrar no topo da minha lista como melhor leitura e estaria lá com todas as honrarias possíveis. Também tivemos o alvoroço de Liberdade, de Jonathan Franzen, e me adentrei no mundo de David Foster Wallace – Breves Entrevistas com Homens Hediondos, Infinite Jest e The Broom of The System -, mas como há planos de aprofundar nesse autor como estudo, ele virou hors concours para ser a melhor leitura. Contudo, vindo de uma indicação de Diana Passy, a grande surpresa do ano foi Diário da Queda, de Michel Laub. Eu que o conhecia de vista não sabia que era escritor, não mesmo. Em forma de um diário, um relato de rememorações de um judeu e sua infância, que, ao cometer uma transgressão antissemitista (uma ironia, afinal, como um judeu poderia ser capaz de tal ato após tudo que ocorreu com seus avós?), transforma sua maneira de ver o mundo, seu pai e seu avô e como seus fantasmas podem refletir para sempre em sua vida. Melhor livro do ano.

Tiago Pinheiro: 

A escolha de um livro me incomoda. Sinto-me injusto e mesmo desonesto. Afinal, como colocar numa mesma balança Operação Massacre, de Rodolfo Walsh – no qual a literatura policial é elevada a outros patamares para realizar um ato desmedido de justiça social, que se encerra com a morte do autor pela ditadura argentina –, e a poesia brasileira contemporânea produzida por Carlito Azevedo (Monodrama), Angélica Freitas (Rilke-Shake), Fabiano Calixto (Sangüinea), Ricardo Domeneck (a cadela sem logos) e outros, cujos esforços de pensar a linguagem mostram que ainda é possível fazer algo com ela, nela mesma. Ou ainda, Tanizaki ou Montale? Afonsina Storni ou Valêncio Xavier? Szymborska ou Sebald? Rodrigo Rey Rosa, Nooteboom ou Gombrowicz? Rimabuad, que li de ponta a ponta este ano? E minhas releituras? Aliás, eu só releio, de novo e de novo, Bolaño, Borges, Coetzee, Rilke, Cortázar, Poe… As listas são perversas: é melhor sabotá-las, saturando-as.

Luciano: A Guerra das Salamandras (Karel Čapek)

Se eu sempre busquei minhas leituras em um universo um tanto quanto lato, nesse ano me aventurei a ir ainda mais longe – lendo em idiomas que, até então, não me atrevera. Isso se torna, porém, bastante problemático na hora de escolher uma ‘melhor leitura’. Defini um critério de desempate simples: a acessibilidade. O que é suficientemente bom e suficientemente acessível para que eu liste como ‘obra eleita’ no Meia Palavra? Ainda assim sou obrigado a trapacear e criar duas catergorias, poesia e prosa. A primeira fica com os Poemas, da Wysława Szymborska. Na segunda escolhi A Guerra das Salamandras, de Karel Čapek. Já resenhei os dois aqui, e, de qualquer maneira, melhor lê-los para entender o porque da minha decisão.

Taize: Silenciosa Algazarra (Ana Maria Machado)

Quando fui olhar a lista de todas as leituras feitas em 2011, não consegui diminuir o número de “melhores livros” para menos de 20. Isso pode significar duas coisas: que é fácil me agradar como leitora ou que realmente li muita coisa boa. Dentro dessa lista constam romances, ensaios, contos, crônicas, reportagens. Autores novos, clássicos, consagrados. Esse ano li pela primeira vez Cortázar, Bolaño e Vargas Llosa, e só esses já me impossibilitam de escolher um melhor entre todos. Li o ótimo livro de Patti Smith, três bons lançamentos aqui da região (24 letras por segundo, Quero ser Reginaldo Pujol Filho e O homem despedaçado), as reportagens de Christian Carvalho Cruz em Entretanto, foi assim que aconteceu e Honra teu pai, de Gay Talese, dois quadrinhos maravilhosos (Asterios Polyp e Maus). Como tem muita ficção por aí, resolvi sair disso para escolher o melhor. A dúvida ficou entre As entrevistas da Paris Review e Silenciosa algazarra, de Ana Maria Machado. E quer saber, escolhi esse último. Porque nesse livro, Ana Maria mostra toda a paixão na difusão da literatura, na preocupação de formar leitores desde crianças, de encantá-los para os livros. E criar mais uma penca de leitores que ficam em dúvida entre que livro escolher como melhor leitura do ano.

Dindii: E se Obama fosse afriacano? (Mia Couto)

2011 foi um ano cheio de leituras surpreendentes. Eu, que encarava vez ou outra ensaios ou algum livro-reportagem, acabei por aprofundar bastante minhas leituras nesse universo. Por isso, o meu destaque do ano fica por conta de duas obras não-ficcionais que chamaram muito a minha atenção: o primeiro é o Mia Couto, que teve E se Obama fosse africano? lançado no Brasil. Já conhecia a força literária do autor por seus romances, e foi prazeroso ver como ele é capaz de ser inquietante ao desenvolver de forma direta e sem personagens e enredos ficcionais de apoio, os problemas da língua e sociedade atuais.  O segundo livro foi o À mesa com o Chapeleiro Maluco, de Alberto Manguel. O autor, que usa filmes e literatura a fim de mostrar como o ser humano pode se provar insano e irracional, ficou por alguns meses ecoando na minha cabeça. É um daqueles livros que, quando você termina, sente que alguma coisa mudou em você ou ao seu redor.

Lucas: Moby Dick (Herman Melville)

O ano realmente teve ótimas leituras. Cheguei a ler escritores contemporâneos, tais como Kertész, Franzen, Murakami, Oz, Roth, McEwan e outros. Li menos autores brasileiros do que queria, mas destaco o Chalhoub (que mistura História e Literatura que é uma beleza) e o Bernardo Carvalho (autor cuja obra merece ser melhor explorada). Encarei alguns clássicos, de Nabokov a Kafka, passando por Musil, Hesse e Faulkner. Tive boas surpresas com o Kosinski e principalmente com o Camilo José Cela; cheguei inclusive a conhecer um pouco do tal do Roberto Bolaño, de quem tanto ouço falar. Mas foi da sessão de clássicos mesmo que veio minha melhor leitura (cuja escolha foi dificílima): foi o tijolão Moby Dick, de Herman Melville. A odisséia obsessiva do Capitão Ahab, a prosa envolvente e sinistra de Melville me arrebataram de tal modo que me tornei por alguns dias um dos marujos a bordo do Pequod, partilhando das maravilhas, dos assombros e dos mistérios do oceano e da literatura. Livros que causam tal impressão não são tão fáceis de encontrar, e Moby Dick tem sua posição mais que consolidada no panteão da literatura universal por conta disso. Ele é repleto de camadas, de possibilidades de análise, de fortuna crítica, de profundidades filosóficas a serem exploradas por aqueles cuja obstinação tem algo de ‘ahabiana’.

Palazo:  Antes de nascer o mundo (Mia Couto)

A aparente dificuldade para escolher a melhor leitura do ano foi dissipada em outubro pelo moçambicano Mia Couto. Já tinha ouvido falar do poder narrativo do escritor, mas ao encarar o livro Antes de nascer o mundo eu percebi que os efeitos colaterais da literatura de Mia Couto são mais duradouros do que o período de leitura. Sua narrativa dilacerante e desconexa causam tamanho impacto que é preciso de algumas semanas para digerí-lo, se é que isto é possível.