Confesso que não gosto dos filmes de Pedro Almodóvar. Assisti uma quantidade razoável deles, como Tudo sobre minha mãe, Má educação, Ata-me, Volver  e Abraços partidos. O cineasta espanhol, para mim, é demasiado exagerado, de certa forma demasiado sentimental.

Natural, portanto, que eu não tenha assistido seu último filme, A pele que habito – apesar de tudo indicar fugir à regra de suas obras anteriores, especialmente pelo fato de ter algo de policial. Mas não é de Almodóvar que pretendo falar aqui, e sim do livro que inspirou esse último filme, Tarântula, do francês Thierry Jonquet.

Tudo isso certamente soma para que eu, desde o início, não tenha grandes esperanças a respeito do livro. Mas ganhei de presente com uma garantia de que eu gostaria, e resolvi me arriscar. O máximo que poderia acontecer era eu não concordar com a Kika (que me deu o presente, e já o leu e resenhou de maneira excelente).

Devo começar dizendo que o enredo é um tanto surpreendente. Até por não ser um só, mas três que convergem de maneira chocante: Lafargue é um cirurgião plástico cruel, que trata sua jovem esposa (amante?)  como uma espécie de escrava sexual,  e cuja filha, Ève, está internada em uma instituição psiquiátrica; paralelamente surge Alex, um assaltante desesperado e em fuga; e, na parte mais perturbada de todas, seguimos um jovem que acaba preso e é torturado de modo pouco convencional.

Apesar da narrativa ser extremamente habilidosa – com especial ênfase para os capítulos que se focam no jovem torturado, em que o autor utiliza a incomum segunda pessoa, buscando aproximar o leitor da agonia da vítima – acho que Jonquet torna algumas revelações óbvias muito antes de realmente entregá-las ao leitor, fazendo com que a surpresa se torne menor. Não que isso estrague o livro, pois a tensão e a crueza continuam lá, o tempo todo, e o desfecho ainda consegue ser um tanto inesperado.

No fim das contas, a Kika estava certa. Apesar de tudo, eu gostei do livro – não o considero nenhuma obra prima, nem entrou para a lista das melhores coisas que eu já li, mas é uma leitura bastante envolvente e que tem lá seu peso. Fiquei até tentado a conferir o filme de Almodóvar.

 Tarântula

de Thierry Jonquet,

tradução de André Telles.

160 páginas.

R$ 29,90

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