Sarajevo destruída durante a Guerra da BósniaOs idiomas sérvio e croata são, na verdade, uma só língua – junto, ainda, com o bósnio e o montenegrino. São dividas, porém, por motivos políticos: a Segunda Guerra do Bálcãs, que deu fim à Republica Federativa Socialista da Iugoslávia, reavivou rivalidades e rancores entre essas nações e os linguistas de cada país começaram a apontar as menores diferenças e declarar idiomas diversos. Mas são todos mutuamente inteligíveis, sendo o maior empecilho o fato de que o croata usa apenas o alfabeto latino, enquanto que todas as outras variantes aceitam tanto o alfabeto latino quanto o cirílico.

A riqueza étnica, religiosa e cultural dos Bálcãs influenciou largamente as literaturas desses idiomas, bem como a sua história conturbada – a última guerra da região terminou há menos de 10 anos, e alguns assuntos ainda ficaram pendentes.

É um mundo, porém, ainda bastante misterioso para o leitor brasileiro. Com poucas exceções – alguns livros de Danilo Kis, Milorad Pavić e Ivo Andrić, a maioria em edições antigas e já esgotadas, encontradas apenas em sebos e alguns volumes de poesia sérvia traduzida por Aleksandar Jasenovic – não existe praticamente nada dessas línguas disponível em português.

Selecionei algumas obras que considero bastante interessantes para o traduções por vir desse mês:

Mozaik knjiga (O livro mosaico), de Miro Gavran- Uma versão ficcional de um dos aspectos mais importantes – e, ainda assim, mais ignorados da vida do escritor tcheco Franz Kafka: sua amizade com seu editor e também escritor Max  Brod. A história se passa em Praga entre os anos de 1902 e 1924, mudando em seguida para Jerusalém nos anos 1950.

Štefica Cvek u raljama života (Stefani Cvek nas mandíbulas da vida), de Dubravka UgrešićStefani é uma jovem datilógrafa que passa seus dias sonhando em encontrar um grande amor. O livro não passa muito disso, mas Dubravka usa essa história banal e um tanto kitsch para refletir acerca da situação da mulher na Croácia dos anos 80, e sobre o modo como se encara o amor na literatura.

Enciklopedija mrtvih (A enciclopédia dos mortos), de Danilo Kiš–  Neste volume de contos, quiçá a obra máxima de Kiš, somos sobrecarregados com referencias, especialmente de Jorge Luís Borges e Bruno Schulz. Enciclopédias imaginárias, bibliotecas lendárias e uma certa aura de misticismo envolvendo a literatura – e o fazer literário – ditam o tom aqui.

Na Drini Ćuprija (Uma ponte sobre o Drina), de Ivo Andrić Esse romance foi o principal fator literário para que Andrić recebesse o Nobel em 1961. Nele o autor narra vários séculos da história de uma ponte sobre o rio Drina, iniciando com a história de seu construtor – no começo do século XVI – e indo até o assassinato de Francisco Ferdinando e a Primeira Guerra Mundial. Com maestria, Andrić expões as frágeis relações entre os mulçumanos e os ortodoxos na região – sujeitos, ao longo dos anos, a diversas dominações estrangeiras.

Miris kiše na Balkanu (O cheiro da chuva nos Bálcãs), de Gordana KuićO foco da história é uma família judia sefardita de Sarajevo, os Saloms. Espremidos no espaço de tempo entre as duas grandes guerras mundiais, eles lutam por sua individualidade em uma sociedade definida por valores plurirreligiosos, onde seu nome não  é nem de longe tão importante quanto o fato de você ser judeu, mulçumano, ortodoxo ou católico.