Raquel Toledo

Listas são sempre motivo de ansiedade, palpitação e um tico de agonia para mim, principalmente pelo que tenho que omitir numa seleção. Mas eu seria hipócrita se dissesse que não amo fazer meu “top 5” de tudo, desde que vi pela primeira vez High Fidelity (faz tempo, hein!?). Encaro os imbróglios emocionais por ter deixado muitos nomes importantes e queridos de fora (e encaro as críticas que virão) para apresentar, aqui, minhas cinco personagens femininas prediletas.

Para achar as prediletas, fui ao fundo das minhas leituras e logo lembrei as cinco personagens que eu quis ser ou conhecer, ser amiga, ao longo desses anos como leitora. Claro que não pude incluir todas (vocês me julgarão pela omissão de várias, eu sei), mas levei em conta os livros que li (ainda não li tudo o que eu queria, infelizmente) e as personagens mais arrebatadoras.

Desde já, me desculpo pela ausência de Capitu. Acho que ela já está acima de qualquer lista e dispensa sua posição para que moças um pouco menos óbvias possam aparecer.

E, sem mais delongas, vamos às minhas cinco musas literárias.


1 – Uma mulher de garra, com objetivos muito claros e que fará de tudo para realizar o que considera o certo. Antígona, personagem central da tragédia que leva seu nome, escrita por Sófocles, é a verdadeira heroína grega. Na tentativa de sepultar seu irmão contra as ordens do Rei, Antígona é corajosa, nos surpreende o tempo todo e levanta uma questão importantíssima e atemporal: até que ponto devemos confiar nas decisões de nossos governantes? Heroína e revolucionária! No fundo, todos querem ser como Antígona.

2 – Falar de adultério em romances do século XIX é quase um clichê. Mas minha escolha é justamente baseada nisso: Anna Karenina é a adúltera mais interessante, foge do lugar-comum. Sensual, charmosa e festeira, mas também boa mãe, mulher dedicada e senhora recatada: uma dualidade perfeita para que nós, leitores, também nos apaixonemos. Nesse romance, Tolstói é genial e seria impossível não incluir sua mais encantadora personagem nessa lista.

3 – A gaivota, peça de Tchékhov, trata do meio artístico-intelectual da Rússia, antes da Revolução. Ok, interessante. Mas, pense comigo: onde tem muito artista junto, costuma aparecer umas loucuras e, nesse brilhante texto de Tchékhov, toda a loucura se concentra em Nina. Primeiro, ela aparece como uma jovem aspirante à atriz. Depois, mulher passional, cheia de aspirações e inspirações. Junte isso tudo a um coração partido. Pronto! Mais cativante impossível.

4 – Clarissa Dalloway, talvez o nome mais óbvio dessa lista, é um dos meus maiores casos de amor literário. Ela é protagonista absoluta de Mrs. Dalloway (romance que dispensa apresentações, bem como a autora), mas também dá o ar da graça em contos de Woolf. Burguesa por excelência, Clarissa nos leva do amor ao ódio na efervescente Inglaterra do início do século XX. Merece, por sua personalidade tão interessante e bem construída, ser lembrada aqui.

5 – Diadorim, de Grande Sertão: Veredas, conhecemos sempre pela narração de Riobaldo. Os dois são jagunços, companheiros de lutas e, na história que Riobaldo nos conta, Diadorim é o perfeito paradoxo: a incerteza e a certeza, o bem e o mal, o homem e a mulher. Uma das maiores personagens da literatura mundial e a mais misteriosa criatura do sertão de Rosa. Para quem adora se mergulhar em contradições da vida, Diadorim é prato cheio.

Sobre a autora: Editora assistente da hora que acorda até a hora que vai dormir, Raquel (prefere Raq, tá?) Toledo ainda encontra tempo para ser mestranda em literatura russa pela USP e não dispensa uma noitada boa, um cinema, um botequim. Viciada em livros, amante do rock’n’roll.