Love, love will tear us apart, again. Já perdi a conta de quantas vezes o meu inconsciente (que daqui pra frente chamarei de Agatha) estava caminhando pelo quarto do meu cérebro, andando de lá pra cá, assim meio entediado, despreocupado e descompromissado, e resolveu ligar o som para ouvir essa música repetidas vezes. Toda vez que ela faz isso, eu passo o dia cantarolando esse refrão, mentalmente ou em pequenos sussurros. O mesmo se repete com outras músicas, frases de filmes, trechos impactantes de livros e frases sem sentido.

O nome Agatha surgiu recentemente. Comecei a assinar alguns bilhetes com esse quase alter-ego, assim como passei a chamar meu roommate por esse nome, assim, sem motivo algum. Mas Agatha é só a personificação dessa forma de pensamento interior, que me acompanha desde que eu nasci. Todos temos uma Agatha dentro de nós, só muda o nome ou a forma de chamá-la. De alguma forma, ela está ligada à minha personalidade, ajudando a definir as coisas que eu gosto e o que me marca.

A Agatha é uma virginiana organizada, embora muitas vezes eu desconfie dos métodos e bom gosto na seleção de armazenamento que ela faz. Ela que decide, no meio de toda a informação que eu recebo, o que fica e o que vai embora no ralo do tempo. Ela também decide o que vai voltar, de tempos em tempos, assim como os churrascos de família, e o que nunca vai me abandonar. Ela me faz lembrar, por exemplo, do Ace Ventura nascendo de um robô de rinoceronte toda vez que eu vejo algum filme do Jim Carrey (mesmo se for, ironicamente, Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças).

Há muitos anos, quando criança, eu ficava repetindo a frase “cuidado! Os tiras estão chegando!” por conta dos filmes super bem dublados da sessão da tarde. Mais tarde, “você quer casar comigo?” foi um trending topic mental, que durou anos na minha imaginação (mesmo eu não querendo casar com ninguém, só pra deixar claro) e se os médicos me entendessem, constatariam que tratava-se claramente de uma Lesão por pensamento repetitivo, talvez por conta de todos os contos de fada, filmes da Disney ou novelas.

Agatha tem os autores favoritos, marcados com uma estrela nos arquivos impactantes: Tarantino, Miranda July, John Cameron Mitchell, Douglas Adams estão lá, alguns quase que na íntegra. No meio das relíquias, ela guardou um cartaz de peça de teatro, que ainda hoje é reproduzido por mim, com o seguinte diálogo:

Naquela noite, Camila estava louca. Sua doce irmã sempre dizia: -“Você é adotada, Camila!”
A única pessoa que sabia da verdade, era o cego: -“Eu não vi nada”
Mas Camila sabia se defender…

Talvez esse seja o grande trunfo dos escritores e autores: suas histórias são escolhidas por alguns para serem mais do que aquelas páginas ou minutos diante da tela/palco. Algumas vão ser reproduzidas em outras situações, outras vão virar a Lesão por pensamento repetitivo, sendo como um narrador mental de tempos em tempos. O fato é que alguém vai lembrar daqueles refrões indies, filmes e livros de amor que não deram certo, ou daquele personagem que é tão parecido com ela em diferentes aspectos.

Eu não poderia terminar essa coluna sem dividir um dos trechos de livro que mais me perseguem, atualmente. Em várias conversas, textos e ações, existe uma clara e repetitiva referência a ele (inclusive em outras colunas e até na minha biografia aqui do blog): “Só estou viva em um a cada quatro segundos, só registro quinze minutos a cada hora.” Miranda July, obrigada por narrar essa frase toda vez que eu me pego perdida em algum pensamento ou distraída por aí e retomo à realidade.