Alguns meses atrás eu escrevi a primeira parte do Traduções por vir a respeito dos países que, até o começo dos anos 1990, constituíam a Iugoslávia. Eu tratei, basicamente, sobre a literatura dos países de língua servo-croata: a maior parte do território, um contínuo linguístico extremamente atribulado.

Mais definidos, mas dificilmente menos atribulados são os territórios dominados pelos outros dois idiomas eslavos da ex-Iugoslávia. Uma dessas línguas é o macedônio, língua que muitos não dividem do búlgaro, falada na atual República da Macedônia, ao extremo sul do antigo país;  a outra é o esloveno, que se encontra no extremo oposto da antiga República Popular, o norte.

São dois idiomas bastante diferentes e tradições culturais bastante diversas. Se os coloco juntos em um mesmo artigo é mais pela temática da ex-Iugoslávia e por serem idiomas e literaturas a respeito dos quais tenho muito menos conhecimento do que no caso servo-croata.

Obedecendo a esta mesma lógica (a da minha ignorância), não vou citar obras específicas, mas alguns autores:

Živko Čingo – Nasceu em Welgoshti, na Macedônia, em 13 de agosto de 1935, e morreu em 1987, dois dias antes de completar cinquenta e dois anos. Estudou filosofia na Universidade de Skopje, tendo depois dado aulas no ginásio de Ohrid, passando depois a redação de alguns jornais e, por fim, sendo diretor geral do Teatro Nacional da Macedônia. Prosador e dramaturgo, é considerado um dos principais escritores de língua macedônia da modernidade. Entre suas principais obras estão Paskvelija e Nova Paskveljia  dois volumes de contos a respeito de uma terra imaginária onde tradição e revolução são confrontados. Mas talvez sua obra mais famosa seja Golemata Voda (Grande Água), recentemente transformada em filme. O romance trata sobre a infância, como lembrada por um prisioneiro político em seus últimos momentos.

Vitomil Zupan- Nascido em 1914, em Ljubljana – àquele tempo parte do Ducado de Carniola, na Áustria-Hungria – e falecido na mesma cidade em 1987, agora na Eslovênia, uma das federações pertencentes à República Popular da Iugoslávia – Zupan passou por algumas das maiores vicissitudes do século XX. É coerente, portanto, que sua literatura seja densa, atormentada. Suas obras mais famosas são as de cunho semi-autobiográfico, em especial a trilogia formada por ‘Minuet za kitaro’ (Minueto para guitarra), ‘Minuet, Leviatan’ (Minueto, Leviatã) e  ‚Komedija človeškega tkiva‘ (A comédia do tecido humano), em que escreve, respectivamente, sobre a Guerra de Libertação Eslovena, a Segunda Guerra Mundial e o tempo em que passou preso. Apesar de ser bastante influente e de ter, em vida, gozado de bastante prestígio junto ao estabilishment literário Iugoslavo, por vezes foi acusado de niilismo, imoralidade e pornografia. Mais dois bons motivos para que seja traduzido.

Gane Todorovski- Nascido em 1929 e falecido há dois anos, Gane Todorov foi um importante intelectual macedônio. Mais conhecido no ocidente por sua obra como historiador e crítico literário, foi também um importantíssimo poeta. Foi, por muito tempo, o presidente do festival das “Noites de Poesia de Struga” – que revelou inúmeros poetas importantes.

Boris Pahor- De uma perspectiva ocidental, é provavelmente o mais próximo dos escritores que cito aqui, mas ao mesmo tempo o mais curioso. Nasceu em 1913, em Trieste, na Itália – existe lá uma comunidade eslovena relativamente numerosa e culturalmente influente. Durante o fascismo foi ferrenho opositor do regime fascista e da política de italianização que foi imposta por Mussolini. Acabou sendo preso e enviado a um Campo de Concentração, algo que está bastante presente em suas obras. Não por acaso costuma ser comparado a Primo Levi e Imre Kertész. Além disso, escreveu a respeito da vida eslovena fora da Eslovênia, sobre os crimes do regime titoísta. Também foi o responsável pela revista Zaliv, publicada em esloveno na Itália, e responsável por divulgar muitos literatos eslovenos dissidentes.