A blogosfera literária adora desafios, aparentemente. Ainda que, num primeiro momento, eu tenha torcido o nariz até para o nome (acho que desafio tem um tom mais de “situação ou grande problema a ser vencido ou superado” do que de “chamamento para qualquer modalidade de jogo, peleja, competição etc.”), depois percebi que eles têm uma função importante: a de tirar o leitor de sua “zona de conforto”. Afinal, é mais fácil continuar lendo obras de estilo semelhante àquelas que nos agradam do que experimentar coisas novas.
Por que um desafio literário com mulheres da literatura contemporânea brasileira? Acaso elas precisariam que o leitor comum reserve uma cota para elas? Não, não precisam. Não tenho interesse aqui de investigar a fundo a complexa psicologia que nos faz escolher os livros que lemos nem de deduzir que o que ocorre comigo se dá de maneira semelhante com outras pessoas. Mas, meio como uma brincadeira recorrente dos funcionários de algumas bibliotecas que frequento, fui percebendo: (1) que normalmente, quando estava em dúvida entre dois livros, eu levava o que tivesse sido escrito por um homem; e (2) que eu acabava lendo realmente os escritos por homens, mesmo que a maior parte de meus empréstimos fosse composta de obras de escritoras que eu desejava muito ler (quantas vezes eu não terminei de ler um artigo, um conto ou uma coluna e me perguntei “Como eu ainda não li nada dela?”).
Às vezes só percebermos algumas coisas quando temos uma visão geral. Ao fazermos uma lista, por exemplo, conseguimos fazer um reconhecimento de padrões de nossas leituras: “Until he wrote down this list, he remarked, he had not been aware how far his reading was driven by publicity and availability”, disse Tim Parks em um artigo instigante sobre homogeneização de leituras. Seria uma questão de preconceito? De (in)visibilidade? De publicidade?
Certo é que, de uns anos para cá, meus padrões mudaram. A relação entre obras estrangeiras e brasileiras se equilibrou; a forte presença de contemporâneos ainda está ajudando a pesar o prato oposto ao dos clássicos lidos na adolescência. Tenho me esforçado para pesar mais o lado da poesia, mas decididamente sou mais prosaico. O equilíbrio entre sexos dos autores é mais uma questão formal do que relativa ao conteúdo: muitas das autoras que tenho lido não se enquadram nas preconcepções que eu tinha a respeito de “literatura feminina”, essa categoria difícil de definir e que, pelo que tenho percebido, parece não dizer muita coisa.
Regras? Além das que estão no título da coluna (autoras de literatura contemporânea e brasileira), vamos a elas: (1) Textos mensais, a princípio (caso eu perceba que tenho lido muita coisa boa de algumas escritoras, as postagens podem ser mais frequentes); (2) Eu preciso ter gostado mesmo da obra delas – não tenho intenção de ser condescendente de alguma maneira, pois não há razão para isso; (3) Quando digo obra, aponto que terei lido ao menos dois livros da autora em questão e que falarei de todos dela que tiver lido; (4) As obras têm que ser em prosa – ou seja, ainda que eu seja do “time romance”, livros de contos e outras narrativas breves não serão excluídos da raia (a princípio, poesia estaria de fora – o que não significa que não esteja aberto a conhecer livros novos e interessantes que me façam repensar essa ideia); (5) A ordem em que elas aparecem não representará uma ordem de preferência.
Não pensei em números. Tinha pensado em 5, mas achei pequeno: as poucas que eu já conheço e de que li pelo menos um bom livro já somam mais do que esse número. O 7 é um número significativo para mim, mas não sei se é legal para uma lista – o ponto positivo dele é que é o número de meses que falta para acabar o ano. O 10 é o mais utilizado, mas, no momento, tenho medo de que seja grande demais e eu desanime antes de chegar a ele: vai que eu leio muitas autoras legais-mas-que-não-me-empolgam?
Já tenho ideia de quem será a primeira de que falarei – já comentei sobre ela aqui e o começo do segundo livro dela (que estou lendo) já arrebentou meu coração. Já tenho uma segunda em mente, de quem já li dois livros e já poderia falar. O terreno é relativamente novo para mim então estou aberto a sugestões. Alguma recomendação?
já olhastes aqui? http://pt.wikipedia.org/wiki/Categoria:Escritores_contempor%C3%A2neos_do_Brasil
Valeu pela dica, JLM. Só não acho que conseguiria pautar minhas leituras pela Wikipédia. Há, sem dúvida, um grande número de nomes por lá e dá pra lembrar de um ou outro que seria esquecido. Se fosse uma lista exaustiva, dava pra usar como checklist e ir “ticando” os nomes que gostaria de ler. Infelizmente não é: a primeira autora de que vou falar não está lá. Olhando bem, 4 das 5 primeiras autoras que me vieram à mente não estão lá. =/
Tem alguma favorita pessoal pra indicar? =)
só consigo lembrar da carol bensimon.
Essa é uma que definitivamente já tá na lista. =)
e mesmo ela foi só pq lembrei do nome mesmo, mas ñ é uma escritora brasileira q meche comigo. aliás, li outras tb (patrícia melo, martha medeiros etc.), mas ñ conseguiram me animar a ler um 2º livro d nenhuma delas.
Dela eu li já dois. Se tivesse ficado apenas no romance, talvez não me empolgasse muito com seu nome. Mas Pó de parede, creio, é bem superior ao Sinuca embaixo d’água (que não achei ruim, achei bom, mas não achei AQUILO TUDO, sabe? — mais uma questão formal).
Tenho um leve preconceito com essas duas outras, hahaha. Por enquanto, ainda não me animaram a ler sequer o primeiro livro.
Literatura contemporânea brasileira é algo que me interessa bastante e discordo daqueles que pregam que o painel atual seja desolador. Creio que essa crítica é, em grande parte, fruto da dificuldade do mercado (o que inclui o leitor) de apostar seriamente em novos autores, escolhendo aqueles que “devem” preencher essa lacuna de modo bastante arbitrário e, não raro, por questões não exatamente relacionadas às obras em si, mas ao espaço que determinado nome já ocupa ou pode vir a ocupar na mídia.
Mas há bastante coisa boa sendo feita (sempre houve, aliás), embora seja realmente difícil separar o joio do trigo: ADRIANA LISBOA (com o belo “Rakushisha”) e CAROLA SAAVEDRA (com os excelentes “Toda Terça” e “Flores Azuis”) são bons exemplos.
Mas dois outros nomes me chamam a atenção e por razões distintas: FAL AZEVEDO e TAMARA SENDER. Permita-me:
FAL AZEVEDO é uma celebridade no submundo da internet, com milhares de fãs, grande parte destes por conta de seus blogs [ http://ruehumboldt.tumblr.com/ ] e [ http://dropsdafal.blogbrasil.com/ ]. Ela publicou um livro que considero um triunfo, “Minúsculos Assassinatos e Alguns Copos de Leite” pela Rocco e, esse ano, um livro biográfico chamado “Sonhei que a Neve Fervia”, também pela Rocco. Não consigo compreender como alguém com uma rede tão grande de fãs ardorosos não consegue o espaço que merece na mídia especializada, ainda mais considerando o fato de que, poxa, ela REALMENTE cativa quem a lê.
TAMARA SENDER é uma jovem autora com apenas um livro publicado por uma editora pequena, chamado “Esperando Zilanda”. Trata-se de um exemplo oposto ao da Fal: embora tenha obtido um monte de resenhas favoráveis em vários veículos importantes ([http://oglobo.globo.com/blogs/prosa/posts/2011/03/28/resenha-de-esperando-zilanda-de-tamara-sender-371100.asp ] e [ http://veja.abril.com.br/blog/todoprosa/resenha/o-vencedor-do-i-concurso-de-resenhas-sobre-%E2%80%98zilanda%E2%80%99/ ]), a dificuldade de distribuição de seu livro torna-o praticamente uma raridade (o que é uma pena, pois essa moça REALMENTE tem talento).
A propósito: “Esperando Zilanda” você praticamente só encontra aqui: [ http://www.annablume.com.br/comercio/product_info.php?cPath=52&products_id=1447 ]. Vale a pena.
Todo o meu amor para Carola Saavedra e Adriana Lisboa: li todos os que você citou e considerei-os muito bons.
Você e a Márcia abaixo citaram a Fal. Vou ver se acho pra comprar os livros dela (tomara que ainda não tenham se tornado raridades: a Rocco gosta de demorar para reimprimir os livros).
Já o caso da Tamara Sender é outro. Parece ser legal e é provável que eu vá atrás do título. O problema é só a regrinha que me estipulei de ter um olhar não apenas sobre um livro, mas mais a respeito da obra da autora — ainda que dois livros numa obra de, sei lá, quinze volumes, proporcione uma reflexão mais indutiva do que dedutiva. =P
Mas valeu pelas dicas, Tito! ^^
Tuca,
Entre os dois da Fal, eu começaria pelo que a Márcia disse.
E largue mão de ser conservador: dê uma chance à Srta. Sender. 🙂
Bah, não é conservadorismo, rapaz. Se ler e gostar, resenho pro Meia. 🙂 Só não vai rolar dela aparecer listada no “Desafio”. :/
Tuca, você pode excluir meus dois comentários anteriores?
Eis alguns livros que eu gostei:
– Adriana Lisboa (Rakushisha, A máquina)
– Ana Miranda (Boca do inferno)
– Fal Azevedo (Minúsculos assassinatos e alguns copos de leite)
– Heloisa Seixas (confesso que ela não me conquistou, mas “A porta” talvez interesse)
– Lígia Fagundes Telles (Ciranda de Pedra, Horas Nuas)
– Lya Luft (como já coloquei, a obra não-ficção é complicada, mas os primeiros romances são muito bons)
– Patrícia Bins (Jogo de fiar)
– Rachel de Queiroz (O quinze)
Excluídos, Márcia. ^^
Adriana Lisboa: amei Rakushisha. Só preciso de mais um que me empolgue e ela tá dentro.
Ana Miranda: é uma que amo sem nunca ter lido (tal como explico no começo de minha resenha de Amsterdam que sai amanhã aqui no Meia http://meiapalavra.megadodo.com.br/2012/06/26/amsterdam-ian-mcewan/)
Fal Azevedo e Patrícia Bins: taí duas em que nunca tinha ouvido falar; vou procurar conhecer.
Heloísa Seixas: vou tentar ler algo dela, mas, de antemão, digo que não fui muuuuito com a cara dela — suas opiniões sobre literatura e o fazer literário manifestadas na última Bienal do Livro PR me deixaram com um pé atrás.
Lya Luft: tenho um leve preconceito, mas eu sou daqueles que adora quebrar um preconceito; vamos ver.
Telles e Queiroz: sim, elas devem ser boas (não à toa, são tidas como clássicos da literatura brasileira já); pretendo lê-las (ambas são dois buracos em minha formação cultural literária brasileira), mas no Desafio pretendo apresentar mais nomes que ainda não são mega consagrados pela mídia, que não aparecem, por exemplo, numa lista de obras obrigatórias para o vestibular, sabe? Quando as ler, porque tenho e quero lê-las, provavelmente resenharei, mas fora do desafio. ^^
Muito, muito obrigado pelas sugestões.
Oi, Márcia.
“A Máquina” (bastante bom, aliás) acho que é de outra Adriana, a Adriana Falcão.
Aliás a Adriana Falcão tem UM livro que eu acho sensacional: “Luna Clara e Apolo XI”.
Adoro A máquina! Então esse Luna Clara é bom? Se pá, vou conferir esse dela.
Tito e Tuca.
Sim, vocês estão certos, claro.
E eu gosto dos dois livros: A máquina e Luna Clara & Apolo Onze.
E aproveito a resposta para incluir Adélia Prado e Hilda Hilst. Desta, só li poesia, é verdade, não sei como se sai em prosa. .
Da Zélia Gatai ainda não li nada. Aliás, tem várias escritoras que ainda não li. Acho que vou aproveitar teu desafio para preencher lacuna minhas aqui 🙂
Tuca, você já leu algo da Elvira Vigna? Não conheço os livros dela, mas tenho visto frases e trechos interessantes. Comprei “O que deu para fazer em matéria de história de amor”, dela, e está na minha pilha para semana que vem.
Tenho uma amiga que diz que a Elvira escreve pra ela e que ADORA os quatro últimos romances dela. Ela já tem um espaço nas minhas leituras futuras. ^^
Tuca, apaga este depois, já tem Márcias demais. Mas é que esqueci de incluir a Eliane Brum. E ela escreve muito bem.
Já li textos jornalísticos dela, mas ainda não enveredei pela ficção dela. Conferirei.
(Eu sou da opinião de que quanto mais Márcias, melhor.)