Ontem me encontrei com alguns blogueiros a convite da Livraria Cultura. Abordamos diversos temas acerca de uma das livrarias mais conhecidas do Brasil, desde a variedade de títulos até a aproximação online e física com os clientes. Enquanto discutíamos esses assuntos, o escritor espanhol Enrique Vila-Matas participava de uma mesa no Conjunto Nacional, como um dos vários eventos promovidos pelas editoras para aproveitar a visita seus ilustres autores estrangeiros. Eu sou fã confesso do escritor e o coloco no mesmo patamar que outros dos meus favoritos como João Guimarães Rosa, Adolfo Bioy Casares e David Foster Wallace – sim, resolvi citar apenas aqueles que tem três nomes.

Acontece que na Flip que passou tive dois pequenos impasses, o primeiro era o número de mesas proporcionais a posts – junto a toda ansiedade para que tudo ocorresse bem na cobertura – e a timidez de falar com alguns autores. No caso de Ian McEwan, eu montava os links e notícias da semana diretamente da Casa da Companhia logo após ter escrito uma resenha de seu último livro, Serena, e travei. Não tive coragem para falar com ele e tampouco bater uma foto. Consegui um autógrafo através da Kika. Mas no caso de Vila-Matas, eu não consegui chegar à mesa de autógrafos tamanho o número de pessoas, e quando o vi na pousada onde estava hospedado, ele saiu correndo – se de mim não sei bem.

Logo, não pude me conter quando o vi perambulando pelos corredores da Livraria Cultura. Minha inquietação era tão incomensurável que quando esbarrei com Antônio Xerxenesky na fila de autógrafos repetia: “Não acredito que não estou com livros dele, não acredito.”, “Não vou te dar nenhum meu…”, respondia em tom de chacota o querido, e quase ex-amigo, Tony. Procurei o livro novo, Ar de Dylan, e o comprei sem olhar o preço. Entrei na fila e esperei a minha vez para conseguir o famigerado visto.

Na minha vez, Vila-Matas me olhou de cima para baixo, arqueou as sobrancelhas tão imponentes quanto as de Jack Nicholson – que aliás lembram muito o personagem principal de Meu Malvado Favorito -, puxou meu nome escrito num pedaço de papel e o repetiu em voz alta – e alta sendo ironia, afinal ele sempre fala para dentro -, assinou minha edição e chamou o próximo da fila, Tony, com quem bateu um papo descontraído (a foto abaixo está de prova) até as outras pessoas da fila começarem a ter crise de tosse.

Tony e Rique

Quando terminou a sessão de autógrafos, Vila-Matas se aproximou de Antônio e os dois retomaram a conversa – fiquei ao lado ouvindo tudo -, uma das minhas partes favoritas foi o escritor espanhol preferir São Paulo ao Rio de Janeiro e afirmar que prefere ir a praia no inverno. Em seguida a esposa dele chegou para prosear e para finalizar Emilio Fraia (um dos “laureados” da Granta) convidou todos para um jantar. Recusei. Não gosto de permanecer em lugares apenas como ouvinte, minha cota pela noite já tinha dado.

Só espero que Ar de Dylan seja um livro sensacional, porque ele é o único resquício que tenho do meu encontro com Enrique Vila-Matas e não valeria a pena se ele ficasse no fundo da estante em silêncio, como eu quando conheci seu autor.