Além do meu trabalho como editor do Meia Palavra, executo também a função de produtor artístico em uma produtora da Zona Oeste de São Paulo. Antes da produtora, trabalhei na MTV e gravei diversos curtas-metragens. Não quero transformar esta coluna em um portfólio. Aguente que logo chego ao ponto que quero (de acordo com a minha editora pessoal, sou prolixo). Como trabalho nesse “meio” – e reparem que “meio” pode ser qualquer “meio”, mas o meu “meio” é sempre o “meio” – há algum tempo, não arregalo mais os olhos ao ver um artista, uma celebridade, um ex-bbb ou a Larissa Riquelme na minha frente. Existe um choque inicial, mas logo passa. De qualquer forma, com o passar do tempo me acostumei a me deparar entre os corredores e telefonemas com figuras marcantes da grande mídia. Pensava estar calejado.

Até querer conhecer Luiz Schwarcz.

Para quem não conhece esse nome judeu, um senta-que-lá-vem-história se faz muito útil. Após trabalhar na editora Brasiliense, o jovem Luiz resolve abrir sua própria editora sob a alcunha fantasiosa de Companhia das Letras, que este ano completa seus 26 anos (sob o signo de Escorpião, ascendente fico devendo).

Contei aqui, nesta coluna, que não consegui me aproximar do Ian McEwan, de que nem sou muito fã, durante a Flip. Ou mesmo do Enrique Vila-Matas. Só do Franzen, mas porque pensava que ele seria arrogante (não quero ver o dia em que eu conhecer André Sant’Anna ou Amós Oz). Não sei o que acontece, realmente. As pessoas do meio literário têm me deixado com esses sentimentos mezzo fanáticos mezzo colegial apaixonada à flor da pele. Não sou tímido nessas situações; aliás, quem me conhece bem sabe que consigo me virar em situações adversas que exigem: falar com pessoas desconhecidas, falar em público e fazer piadas para quebrar o gelo. Contudo, com um empurrãozinho, um pouco de álcool e encorajamento, sempre consigo contornar o desconforto e a vergonha de falar com escritores e pedir-lhes um espaço nas suas agendas para entrevistas ou para darem aquele visto, esperto, no meu exemplar de sua obra.

Não falemos mais dos escritores. Por que Luiz Schwarcz me deixou tímido? Na verdade, eu não saberia explicar. Sempre tive a curiosidade de conhecê-lo, como também sempre enchi o saco da querida, arguta e ardilosa Diana Passy para me apresentá-lo – referindo-me a ele como o “chefão”. Com o tempo, lendo a coluna que Luiz escreve religiosamente no Blog da Companhia sobre sua editora, suas conquistas e sobre curiosidades da mundo editorial, comecei a criar uma simpatia e, depois, uma certa admiração. Diversas vezes o vi em lançamentos e nunca tive a pachorra de me apresentar. Afinal, será que um dia ele seria o editor do meu livro nunca finalizado? Ou seria aquele que eu o entrevistaria nalgum café no Itaim Bibi? Será que ele já leu este espaço? A única situação que imaginei fora a de cumprimentá-lo e balançar sua mão como se não houvesse amanhã.

Voltando à Flip.

O que eu menos queria era encher o saco de escritores. Sim, tem o lado tiete que quer conhecê-los, só que a cobertura pelo Meia Palavra era mais importante e queria que tudo desse certo: postagens, coletivas, a união do grupo (parece papo de jogador de futebol, mas faz muito sentido quando o coletivo é necessário). Ou mais do que isso. Queria o Meia Palavra reconhecido pelas pessoas, o que aconteceu indubitavelmente. Em uma das correrias do dia a dia flipiano, estava quase a equipe completa dirigindo-se para a casa azul para o anúncio dos “laureados” pela Granta. Ao adentrar aquela casa secular, deparei-me com a, sempre presente, Diana Passy e a irrevogável Clara Dias. Esbaforido, conversei com as duas até que um homem alto, calvo e suado se aproximou. Perguntou do Vila-Matas. Golpe baixo. Desandei a falar. Era o chefão. Quando o reconheci, paralisei. Só que como bom profissional, respondi às suas dúvidas sobre as mesas do dia. Falamos de igual para igual. A voz baixa, em um tom quase inaudível, levantava dúvidas sobre os acontecimentos da programação da Flip.

O destino, esse cretino agente do universo, ainda me pregou a peça de encontrar o chefão durante o coquetel da sua editora (Ok, não foi tanta coincidência assim). Desse micro-encontro ele não deve se lembrar. O que importa é que o conheci e, meu deus, como foi divertido. Não sei se vou classificar-me como fã de Luiz Schwarcz, mas com certeza ele é admirável no patamar editorial e social também.

Ah, sim, Feliz Dia do Escritor.