Certamente um livro muito simpático, este Guia do observador de nuvens nos ensina muito sobre essas massas brancas, cinzentas ou até mesmo escuras que pairam sobre nossas cabeças. O autor inglês, fundador da The Cloud Appreciation Society, lançou essa obra em 2006 com uma simples intenção: estimular aqueles como eu (e talvez você) que gostam de levantar a cabeça de vez em quando para o céu a entenderem o que se passa com as nuvens. Pessoalmente sempre quis entender um pouco além daquela classificação que vemos na escola e que não explica muito, apenas nos dá nomes a mais para decorar.

O Guia de Pretor-Pinney não é de caráter técnico, cheio de explicações meteorológicas complicadas, é uma leitura que traz um pouco de tudo: história, cultura, anedotas pessoais, arte, poesia e até mesmo meteorologia de um modo acessível. O livro é dividido em quatro partes: “As nuvens baixas”, “As nuvens médias”, “As nuvens altas” e “Sem deixar de lado”, cada uma com capítulos que abordam tipos específicos de nuvens ou casos especiais, como na última parte. São vários os tipos de nuvens, desde as mais comuns como a cumulus, sempre presente nos desenhos de criança, até algumas que achamos sem graça demais para sequer considerar como nuvens, a exemplo da stratus, que compõe o que geralmente chamamos de “nevoeiro” ou “neblina”.

A classificação de nuvens, criada ainda no século XIX, tem sua terminologia derivada do latim, como pode ser perceber pelas terminações facilmente reconhecíveis da língua. A aparência científica dos termos, na verdade, guarda aquele espírito de observador de nuvens que carregamos conosco: cada “espécie” de nuvem é classificada por seu aspecto, tendo variedades determinadas unicamente pela aparência. Por exemplo, uma cumulus (do latim para “acúmulo”, “pilha”) pode aparecer sob as espécies humilis, mediocris, congestus e fractus, cujos nomes claramente aludem ao tamanho ou à forma das nuvens. Os cientistas, acima de tudo, viram as nuvens e nomearam-nas como crianças ou nós mesmos faríamos.

De fato, a observação de nuvens pode virar uma obsessão. Olhar para o céu e tentar definir a qual classe, espécie e variedade elas pertencem se torna tentador depois de lermos o Guia. Trata-se de algo que o ser humano faz desde a Antiguidade, como Pretor-Pinney faz questão de nos lembrar pelo exemplo de Platão. Toda a cultura da humanidade retratou ou buscou entender as nuvens, desde pintores renascentistas até cantores pop da atualidade. Elas nos levam à reflexão imediata de uma maneira que poucos elementos da natureza parecem fazer. Fica fácil compreender o porquê dessa nossa necessidade de classificação de nuvens.

Um rápido exemplo de observação de nuvens: as cumulus são aquelas nuvens “fofinhas” (sendo que na verdade são só água condensada) e brancas que pairam nos céus azuis de “tempo bom”, exatamente como posso ver por minha janela hoje. Elas geralmente não são prenúncio de chuva ou de grandes alterações no tempo. A infelicidade é que a vida delas é curta, de minutos, o que faz com que enquanto escrevo esta resenha já apareçam no horizonte outras nuvens, mais cinzentas, maiores e mais altas. Seriam altocumulus? Ou seriam as mesmas cumulus se tornando cumulonimbus, as nuvens de tempestade de final de tarde?

Os dados (e dilemas) que citei são originários de minha leitura do Guia, que nos ensina como perceber características das nuvens e, ao mesmo tempo, ter noção de que elas podem ser mais complexas do que imaginamos. Percebe-se que é um livro que, apesar da complexidade do conhecimento sobre o tempo, nos faz realmente pensar mais sobre a natureza e seus pequenos acontecimentos cotidianos. É uma pena o fato de que, segundo pesquisas recentes, as nuvens estejam diminuindo em número devido às mudanças climáticas. Aproveitem para ler o Guia do observador de nuvens para entender um pouco mais desse fenômeno que, além de meteorológico, faz parte de nossa cultura.