Quando um bom autor surge, publicado pela primeira vez em língua portuguesa, é comum que as reações sejam superlativas. Isso é especialmente verdade quando o escritor se encaixa em algum nicho literário que anda recebendo atenção especial da mídia especializada. É o caso de Alejandro Zambra e seu Bonsái: quantas vezes não ouvi (na verdade, li) a respeito da genialidade do autor e da obra.

Como eu disse, porém, essas costumam ser ocasiões para festejos um tanto superlativos. Colocar Zambra na prateleira do “genial” me parece exagerado. Não que eu tenha achado o livro ruim, muito pelo contrário – foi uma das melhores descobertas que fiz em se tratando de autores jovens nos últimos tempos.

A história já é mais do que conhecida a essa altura, e se destaca pela simplicidade: Julio, um estudante de literatura recém saído da adolescência, mente ter lido Proust – para impressionar uma garota. Emília, a tal garota, também usa a mesma mentira com o mesmo objetivo, seguem-se alguns meses de sexo, anos de separação e uma morte. Tudo isso é revelado já nas primeiras páginas. A grande sacada do escritor chileno é justamente fazer isso render reflexões suficientes para encher oitenta páginas, tangenciando um grande número de outros assuntos.

A literatura, obviamente, é um dos temas mais poderosos, e surge não apenas através da (falsa) conexão proustiana, mas também na forma de um livro chamado Bonsái – que teoricamente é a mais nova obra de um renomado escritor, mas que na verdade é uma invenção de Julio, por causa de uma amante. É curioso o papel problemático que a literatura assume num livro que acabou se tornando tão celebrado, estando vinculada sempre a um status elevado e, via de regra, mentiroso. Essa mesma falsidade dá abertura para uma questão política que me pareceu – e me parece ainda mais, depois da entrevista que o autor deu ao Meia – escondida de maneira sutil. O suposto autor de Bonsái (o livro dentro do livro) fugiu da ditadura de Pinochet em nome de ideais que, anos depois, claramente abandonou.

Tudo isso amarrado pelo sempre tenso fio da memória sentimental, que muda a cada instante, morrendo e sendo reavivada nos momentos aparentemente mais inusitados. Acho, aliás, que mais que uma história de amor, Bonsái retrata uma história sobre a memória – essa sim, sobre um amor.

Li uma edição de bolso publicada na Argentina, logo não sei nada sobre as firulas que parecem existir na edição nacional. Não tenho, porém, lá muita curiosidade. Fico mais curioso com alguns possíveis problemas de tradução – que surgem já no começo da obra. Até porque, num livro que trata de tantos desencontros, uma tradução acertada me soa essencial.

Outra curiosidade que o livro me despertou foi pelos poemas de Zambra. Andei procurando alguma coisa pela internet e gostei ainda mais deles do que da novela. Quiçá eu achasse todos os elogios um pouco menos superlativos caso se dirigissem aos poemas.