Foi no show do Pélico e algumas cachaças depois que a decisão foi tomada: passar o carnaval em Curitiba. Eu ainda não entendia o tamanho e a intensidade dessa proposta.

Malas, horários fora de horário, pequenas discussões e, um dia depois, Peter Mesquita, Web Mota, Phill Veras, Fernanda Cuenca e eu estávamos chegando. Debaixo de chuva, fomos recebidos por Janaína Fellini. A cantora de voz doce e, chutaria eu, filha de Iemanjá (será?) seria nossa guia música e amor adentro. Nos vimos pela primeira vez no Festival de Sorocaba, mas só agora, e sem querer, que nos conhecemos.

Fantasias, maquiagem, partiu festa. E lá era um mundo novo: tinha Estrela Leminski a La Frida Kahlo, Téo Ruiz, Thais Morell, Léo Fressato e muito mais. Todo mundo ao som do “Baby Doll de Nylon” e ao sabor de capirinhas e cervejas. Uma panela extremamente talentosa da música curitibana reunida numa só casa e vestida para o Carnaval.

Mas como a noite nunca tem fim, de lá partimos para uma panela de outros veteranos. Havia uma atmosfera de loucura criativa. Quando Alexandre França pegou o violão, pessoas cantavam em voz alta, alguns pulando em cima do sofá, outras subindo na mesa. Algo surreal. Um momento mágico. Uma alegria encantadora de fazer parte daquilo, mesmo sem fazer parte.

Era no segundo dia que todas aquelas pessoas começariam a ter nome próprio e a ganhar o meu respeito cada vez maior. Num jantar na casa de Estrela, ela me contou sobre todo o tempo que se escondeu das palavras, até assumir que, de fato, tinha talento para compor. Herdado ou não dos pais – Paulo Leminski e Alice Ruiz.

Conversas sobre música, filhos e a indústria de shows. Algumas taças depois, foi dada a largada a mais um sarau. E olha as pérolas que eu descobri por lá:

Incansáveis, os músicos partiram para um som no Jardim Botânico, no dia seguinte. E teve até vídeo do Musicoteca! Emoções a parte, chegou a hora do último e grandioso sarau. Ali, as panelas se misturaram, os músicos – de todos os lugares – falaram a mesma língua. E até um baião improvisado com letra de Fressato durou muitos minutos de luz espalhada pelo silêncio de quem assistia – na plateia, o poeta Zéfere já pensava o que viria depois.

Para fechar com chave de ouro, fomos à exposição de Paulo Leminski numa visita guiada pela própria Estrela. Ali, conhecemos a magia de um cara que compunha para Ney Matogrosso, Moraes Moreira e Caetano Veloso – só para citar alguns. Mas, ao mesmo tempo, escrevia contos pornôs e infantis. Apaixonado pelas palavras, pelo estudo, pelos dicionários. Transformou as palavras em arte e deixou seu legado – uma família que segue seus passos no quesito amor à arte.

Não pulamos carnaval em Curitiba. Descobrimos sons, criamos. Aprendemos que a nova geração de músicos brasileiros não se limita a alguns amigos paulistanos que estudaram juntos e tocam em SESCs. A música vai além das fronteiras e cria seus movimentos nos mais diversos lugares. Que aqueles de bom coração estejam abertos a essa experiência, porque vale muito a pena.