Grana, sucesso de público e prestígio. É basicamente isso o que está por trás dos grandes prêmios literários ao redor do mundo. Normalmente, há um combo: além do cara ganhar uma barbada ao ser laureado com o Nobel, este também dá um selinho de aprovação à obra do cidadão (quando você é um chinês desconhecido ou escreve em uma língua incomum, o selinho é um baita incentivo para que sua obra seja traduzida no Brasil, por exemplo). O Goncourt, na França, além de dar status ao autor que o recebe, também ajuda o livro a vender umas 400.000 cópias. 400.000 exemplares! Vocês têm noção do que esse número significa, ainda mais em um país cujas capas de livros são medonhas?

Eu me interesso bastante por um prêmio que, aparentemente, dá apenas prestígio ao seu ganhador – mais ou menos como qualquer um dos prêmios literários brasileiros, que não costumam agraciar o ganhador com rios de dinheiro nem aumentam o interesse do público leitor por uma obra. Parte do que torna a premiação de que falo tão especial é o número de acertos que há entre os seus finalistas: é praticamente certo que os ganhadores do Pulitzer, do Man Booker Prize e de outros prêmios importantes estarão entre os títulos selecionados pelo júri do Tournament of Books (o nome completo é The Morning News Tournament of Books; a abreviação, que usaremos a partir de agora, é ToB).

Outro fator essencial para o sucesso do ToB é a transparência. Os juízes analisam o embate entre dois livros (há um texto público em que eles fazem a comparação) e declaram um vencedor para a partida. Além disso, dois comentaristas do site discutem longamente a escolha do juiz, logo abaixo da resenha e logo acima dos comentários do público, o que deixa tudo mais… televisivo. São 16 livros que se enfrentam aos pares (este ano, notei que eram 18 inicialmente e que 3 disputaram uma partida prévia por uma das vagas da primeira rodada) antes de chegarem à grande final, em que todos os juízes anteriores decidirão qual foi o melhor livro do ano. Ah, antes que eu me esqueça: os 2 finalistas só são decididos após a rodada zumbi, uma espécie de repescagem: isto é, os 2 livros preferidos pelos leitores (uma enquete é feita antes dos jogos começarem) que tiverem sido eliminados no mata-mata ganham o direito de destruírem suas lápides e correrem atrás dos miolos daqueles que ainda não tiveram de enfrentar a aniquilação final. (Ok, já deu: prometo nunca escrever um livro de terror.)

Você pode torcer pelo seu livro favorito – com vuvuzelas, quiçá. Ou reclamar dos que ficaram de fora: fiquei chateado por Michael Chabon, Zadie Smith, Edmund White e Junot Díaz. Ou se surpreender com a escolha do Chris Ware, com sua obra de arte Building Stories, que não parece se encaixar muito bem em termos como “hq” ou “graphic novel” – a obra já passou da primeira fase do ToB. Algumas livrarias, inclusive, acompanham os jogos e dão destaque aos livros participantes. E como é nelas que os livros são julgados pela primeira vez, por que não julgar a qualidade das capas americanas e inglesas?

Ainda que sejam poucos os livros já traduzidos para o português quando as partidas têm início, este ano podemos encontrar 3 dos 16 em nossas livrarias. A culpa é das estrelas (The Fault in Our Stars), de John Green, e Garota Exemplar (Gone Girl), de Gillian Flynn, já saíram pela Intrínseca – ambos fizeram bonito na primeira rodada e algo me diz que, se o livro de Green for eliminado antes da final, ele é o mais forte candidato a ressurgir das cinzas na rodada zumbi (editando: na segunda-feira, 19/03/2013, A culpa é das estrelas perdeu nas quartas de final; mas, hey, pelo menos os comentaristas oficiais concordam comigo: ele é forte candidato para a zombie round! “I’ve noted this phenomenon in past tourneys with other books and authors, but John Green doesn’t just have readers, he has fans.”). HHhH, de Laurent Binet, foi lançado ano passado pela Companhia das Letras – e perdeu na primeira rodada para Bring Up the Bodies, de Hilary Mantel, romance vencedor do Man Booker Prize e que sairá pela editora Record. Outro romance que está nos planos da Companhia das Letras para 2013 é Where’d You Go Bernadette, de Maria Semple, que também já foi eliminado.

Se poucos foram traduzidos antes do resultado final, a matemática se inverte no que diz respeito aos vencedores: como bem aponta o blog Casmurros (outro entusiasta do ToB), 6 dos 8 ganhadores já desembarcaram no país – além disso, algumas pessoas divulgaram no Twitter que a Companhia das Letras iria lançar Cloud Atlas, de David Mitchell, por aqui, o que deixaria só The Sisters Brothers, de Patrick DeWitt, ainda sem previsão – li até a metade deste por enquanto e ainda não sei o que as editoras brasileiras estão esperando para trazê-lo (em suma: é bem legal).

No Brasil, temos a Copa de Literatura Brasileira e o Gauchão de Literatura. Ambos estão parados há algum tempo. Uma pena. Como não podemos torcer pelos livros, resta-nos torcer pela volta dos torneios.