A Não Editora lançou em dezembro de 2012 o Ficção de Polpa – Aventura!, quinto exemplar da série e segundo dedicado totalmente a um tema. Na introdução de Samir Machado de Machado para essa coletânea, ele pede para que os leitores voltem a ser crianças e se entreguem às aventuras propostas. São seis contos inéditos com diferentes temáticas: dinossauros, expedições, tesouros, vinganças, piratas e nazistas; e um bônus track, “O Aranha”, de Arthur O. Friel, inédito em português. Algumas histórias dispensam o pedido enquanto outras exigem um esforço um pouco maior, bem maior.

Como a tradição manda, Ficção de Polpa – Aventura! capricha no trabalho gráfico, sendo o mais bonito dentre todas as antologias da série lançadas até agora. A capa de Jader Corrêa só eleva essa excelência, enquanto as falsas propagandas inseridas nas páginas ilustram cada um dos contos de maneira divertida. No entanto, antes de começar a falar das histórias em si, não posso deixar de avisar que há graves problemas de revisão e edição neste volume. Não sei quanto tempo demorou para o projeto ser concebido, da convocação dos escritores até chegar à prova, mas cabe salientar erros ortográficos e de digitação que aparecem em diversos momentos, o que me leva a crer que não foi uma desatenção apenas dos autores. Ao leitor atento não passará tão despercebido.

“Por favor, não toque nos dinossauros”, conto que abre esse volume, trata da existência dos seres jurássicos em nosso tempo, não como uma cópia barata do filme de Steven Spielberg, Jurassic Park, mas usando-o como um gancho para contar a história de um arqueólogo convidado a cuidar de um parque assim por um consórcio de diversos governos. Com muito potencial para ser uma história de tirar o fôlego, Bruno Mattos demora a engatar (ou seria encontrar?) um ritmo para seu conto. O começo é sonolento e se salva com os poucos momentos de humor inspirado e por descrições cotidianas com analogias sagazes. Quando a aventura começa e tudo está prestes a ficar emocionante, o conto se encerra em um supetão anticlimático.

Este problema de ritmo também está em “A Igreja Submersa”, de Simone Saueressig, conto sobre um fotógrafo que precisa provar a autoria das artes sacras de uma igreja que se encontra debaixo d’água. O texto promete fortes emoções a todo momento, sem cumpri-las. Imagine aqueles filmes de suspense dos anos de 1990, que colocavam uma música tensa para depois mostrar apenas um arbusto. As tentativas de sequências de ação e suspense não empolgam e o encerramento é um tanto quanto piegas, tornando este conto o mais fraco da antologia.

Um dos mais fiéis ao tema de Ficção de Polpa – Aventura! é o conto de Christopher Kastensmidt, “A Jóia de Évora”. Os apreciadores de histórias por busca de tesouros em lugares inóspitos e cheios de arapucas poderão achar este conto empolgante e com todos os clichês usados na medida certa. Três aventureiros, André, Caio e Catarina, estão em busca de um tesouro escondido por um bandeirante em uma caverna com armadilhas. Caio tem planos de fugir com Catarina, mas é surpreendido com uma traição dupla e acaba no fundo da caverna, sem poder se mexer, sem tesouro e na companhia de um velho índio. As pitadas de viagem espiritual, redenção e vingança são bem aplicados, por vezes trazendo momentos de humor bem leve, fazendo desta história um exemplo de aventura familiar.

“Melhor Servido Frio”, de Carlos Orsi, puxa a aventura para o lado da vingança no meio da Antártida. Outro conto a ter uma traição dupla, nele seguimos a protagonista tendo de viver ao extremo e arquitetando sua vingança contra os dois companheiros de equipe para impedir que eles roubem a patente de suas descobertas. Chega a ser uma aventura com pitada de comédia de erros.

O grande destaque deste volume é a história de um soldado brasileiro em uma missão altamente secreta. “Seis Quilômetros”, escrito por Carlos André Moreira, traz Francesco Cestonaro, praça que se encontra na Itália em plena Segunda Guerra Mundial, tendo de acompanhar um padre por seis quilômetros até o acampamento nazista. Francesco verá o plano do qual foi imbuído se desmantelar, acaba por virar refém, combatente, salvador e descobre os planos nazistas sem saber se conseguirá atravessar esses famigerados seis quilômetros. A narrativa tem intervenções de situações passadas do protagonista, intercaladas com o fio condutor principal no presente.  Aqui não há muito humor, mas as grandes doses de suspense e batalhas saciam qualquer fã de gênero de guerra.

É emocionante ver um projeto tão bacana, ousado e bonito chegar a mais um volume. Ficção de Polpa – Aventura! cumpre o papel de divertir e trazer boas histórias do gênero, mas fica aquém da expectativa e abaixo de Ficção de Polpa – Crime!. Claro que uns poucos deslizes não ofuscarão os volumes anteriores, mas espero que no próximo capítulo da série o capricho e o cuidado sejam maiores.

Também não posso afirmar se esse volume conseguiu, a todo momento, fazer-me voltar a ser criança e acreditar em tesouros ou querer ser pirata, mas com certeza bateu aquela nostalgia de assistir Sessão da Tarde, correr pela grama com um tapa-olho ou estalar como um chicote a mangueira do quintal.