Nos últimos anos Joe Wright vem construindo sua carreira em cima de adaptações literárias. O cineasta filmou (com maior ou menor sucesso) Orgulho e Preconceito, Reparação e agora Anna Karenina, todos eles estrelados por Keira Knightley.
Anna Karenina impõe, antes de qualquer coisa, desafios práticos à adaptação, afinal o romance se estende por mais de 800 páginas, dura alguns anos e tem dezenas de personagens e tramas paralelas detalhadas. Por outro lado, a trama central é bastante cinematográfica e Wright acerta em focar nela. Tolstói constrói quase um tratado sobre o amor e a felicidade doméstica ao apresentar diversos casais e famílias, com diferentes formações e desfechos. Para o filme, o diretor abre mão do olhar investigativo e se foca na dramaticidade da história de amor entre Anna, uma mulher casada da alta sociedade de São Petersburgo, e Vronsky, um jovem militar.
Anna Karenina é uma da história de amor trágica, e emblemática, e esta notoriedade é bem explorada na adaptação. Embora não seja uma atriz excepcional, Keira Knightley encarna eficientemente o encanto de Anna Karenina com uma atuação elegante, carismática e sensual. O desconhecido Aaron Taylor-Johnson convence como alguém por quem uma mulher como ela perderia a cabeça. Além dos bons protagonistas, há no filme uma sensualidade explícita, ausente do original, mas que funciona bem visualmente e dá consistência à história de amor.
Outra boa escolha para essa adaptação é o abandono do naturalismo. A ação se passa em cima de um palco e todos os movimentos são teatrais, estilizados. Essa construção aliada aos figurinos e a direção de arte montam uma Rússia sonhada, e sublinham que não se trata de um mergulho na natureza humana ou nas nuances do amor, mas de um grande drama.
Mas se por um lado Wright constrói histórias bem contadas e faz castings acertados, seus filmes se perdem nos momentos de densidade emocional, como ficou claro em Desejo e Reparação. O desespero final de Anna parece raso, resumido a mero ciúmes e insegurança e o desfecho soa quase gratuito. Há problemas de ritmo: a ação e os diálogos são corridos e algumas pontas da história permanecerão soltas para quem está menos familiarizado com seus detalhes.
Anna Karenina é um filme em que boas escolhas foram feitas do foco na história de amor, um visual impressionante e atores apropriados aos papéis. Joe Wright parece ter plena consciência das diferenças entre cinema e literatura, e de suas próprias limitações, e constrói um filme que se adequa eficientemente. Não é uma obra prima, mas é um bom filme.
Ola Isadora,
Assim como em seu comentário sobre A Caça, parece que nós partilhamos as mesmas opiniões sobre Cinema.
Mas ainda acho esse Anna Karenina um pouco superior ao que você demonstrou.
Confesso que esse foi o primeiro papel em que realmente gostei de Keira, e os adjetivos “elegante, carismática e sensual” definem bem sua atuação.
As cenas ensaiadas, especialmente a dança de Anna com Vrosky, me comoveram pela beleza e sofisticação dramatúrgica. Além de um Jude Law irreconhecível e totalmente novo que você esqueceu de mencionar.
Fui a sessão não esperando nada, sai com uma grata surpresa.
Abraços…
Eu gosto da Keira Knightley desde Orgulho e Preconceito (que é um filme que eu gosto muito) e achei ela perfeita para o papel. Por outro lado acho que faltou frieza no Jude Law, faltou algo que deixasse claro o porque ele é tão insuportável para Anna.
Achei a dança maravilhosa e de uma delicadeza enorme, também não esperava nada (aliás, esperava que fosse um filme ruim) e ele acabou me ganhando, mas ainda tenho a sensação que é um filme que fica quase lá.