Yippie-kai-yay, John McClane está de volta!

O policial badass que já enfrentou terroristas alemães, salvou um aeroporto sitiado, evitou que Nova York fosse pelos ares e resgatou os EUA de um ciberataque, reaparece em sua quinta aventura, agora ao lado do filho, enfrentando os vilões mais ultrapassados e clichês da historia do Cinema: os terroristas russos.

O cinquentão John McClane viaja à mother-Russia para ajudar o filho Jack (o péssimo Jai Courtney) e descobre que ele é um agente da CIA. Juntos, eles terão de enfrentar uma organização terrorista que planeja uma irreversível detonação nuclear.

Se a intenção do roteiro era ser vintage, falhou desgraçadamente. Os vilões (e são três!) exalam canastrice numa trama que não funciona em nenhum momento. Se a volta de McClane havia empolgado em Duro de Matar 4.0 (2007) e sua química com a filha até que convencido, aqui a relação com o filho é sempre artificial, além do incômodo fato de McClane aparecer sempre como um coadjuvante apatetado.

Para assistir um filme como Duro de Matar é necessário saber o que se espera. Esperar diálogos bergmanianos, tramas a la Paul Thomas Anderson ou interpretações dignas de prêmios é, no mínimo, tolice. O interessante em acompanhar uma franquia como essa, que já perdura por quatro décadas, é o de observar, se tivermos um pouco de atenção, as mudanças no espírito de um povo [Volkgeist], além do inegável prazer que um pipocão explosivo nos proporciona num domingo à noite.

Filmes de explosões, tiros sem fim, testosterona exalante e que termina com a morte de um inimigo simbólico são formas de extravasamento coletivo. Quando Tarantino fez Hitler ser metralhado até a desfiguração em Bastardos Inglórios (2009), a cena também serviu como uma forma de vingança animal, desmedida e impossível, mas sempre muito bem controlada pelas quatro paredes escuras desse universo particular em que se transforma a sala de Cinema assim que o projetor começa a rodar.

Filmes assim revelam os fantasmas do coletivo, as instabilidades das relações internacionais, os problemas internos e externos e, no caso dos hollywoodianos, podem servir até como crítica ao american way of life.

Assim como gostamos do frio na barriga que um bom filme de terror pode nos oferecer, também gostamos da crueldade de mentirinha, do sangue que jorra, dos tiros que furam e, sobretudo, do herói que enfrenta se necessário todo o mundo e que nem ao menos desmancha o topete (pelo menos John McClane é careca).

Mas já vimos obras explosivas mais bem feitas. O novo Duro de Matar respinga sangue e clichês, além de um infinito número de cenas embaraçosas e desnecessárias que vão desde uma patética dancinha de um dos vilões, até um taxista russo cantando New York, New York (tentando simbolizar a aproximação cultural da outrora Rússia comunista e a capitalista americana), passando até por uma cena de elevador em que toca uma versão estrangeira de Garota de Ipanema.

Não seria útil (nem justo) dizer que os filmes já foram melhores, que antes tínhamos Hitchcock, agora temos o péssimo John Moore, ou que antes ouvíamos Schubert e agora o Bonde do Rolê. Não seria útil usar a frase do jornalista Carlos Nascimento e dizer que “nos já fomos mais inteligentes”.

A cultura muda irreversivelmente ao longo do tempo e o entretenimento leve e barato também tem sua funcionalidade na vida moderna. Confesso, contudo, que assistir ao novo Duro de Matar é perceber que nós realmente já fomos mais inteligentes, até mesmo nas nossas banalidades.