Danny Boyle é um diretor competente. Seus últimos longas, embora não sejam considerados excelentes, têm seu estilo e personalidade. São produções de qualidade, ainda que muita gente possa não gostar. Os dois últimos filmes para cinema concorreram ao Oscar – sendo que Quem Quer Ser Um Milionário venceu na categoria de melhor filme.
A mais nova película do cineasta, Em Transe, é uma mistura de thriller de ação com mistério psicanalítico. O protagonista Simon, vivido pelo sempre ótimo James McAvoy, é um viciado em quadros e jogos de cartas. O primeiro vício lhe deu um emprego, de leiloeiro. O segundo, uma dívida. Para conseguir pagá-la, ele recorre ao charmoso bandido Franck.
No meio do ato, Simon sofre uma amnésia e, quando acorda no hospital, a pintura em questão havia sumido. Para poder recuperá-la, Franck decide submeter Simon a um tratamento de hipnose com a Dra. Elizabeth, que logo nas primeiras sessões descobre a encrenca na qual se havia metido.
Entrando cada vez mais na mente de Simon, a médica começa a descobrir segredos da gangue, e a realidade começa a se confundir com as experiências psíquicas. Em momentos que remetem a filmes como A Origem e Amnésia – ambos do diretor Christopher Nolan –, mas sem jamais conseguir atingir clímax ou intensidade parecidos, Boyle mergulha sem muito sucesso em um mundo de imaginação, fantasia e desejo.
Uma confusão de cenas que jogam o espectador de um lado a outro sem chegar a lugar algum, tensão quase inexistente e diálogos um tanto constrangedores marcam os dois primeiros terços da produção. Felizmente – para nós e para Boyle – o terceiro ato recupera o fôlego e consegue esclarecer todos os pontos que haviam ficado soltos durante a primeira hora de projeção. Confuso, o roteiro de Joe Ahearne e John Hodge só se faz entender nos minutos finais, o que não necessariamente melhora a trama. É um filme de ação disfarçado terrivelmente de drama.
As atuações tampouco são notáveis, ainda que McAvoy mostre seu talento sempre que o personagem permite – pouco. O que é surpreendente, já que o enredo deveria levar o espectador a sentir a intensidade e fatalidade na vida daquelas pessoas, e até mesmo raiva por algumas delas. Mas nem isso. A única coisa que Boyle arranca da plateia é uma exclamação de alívio, por ter conseguido sair do cinema com a sensação de que entendemos algo.
Olá, María.
Sua frase final é uma síntese brilhante do que é esse filme, infelizmente.
Confesso que roí as unhas durante todo a obra – chegando no final quase como o personagem de McAvoy depois da tortura -, mas não necessariamente porque estava tenso, mas sim, talvez, porque estava me sentindo burro e certamente incomodado com a falta de entendimento.
Gosto de Boyle. Tenho muita simpatia por Quem Quer Ser Um Milionário? , mas esse filme realmente é de uma construção de roteiro tão pretensiosa e excessivamente complicada que me cansou.
À parte de umas boas cenas – como a revelação final sendo feito dentro de um carro que andava pela rodovia, numa alusão aos “caminhos da mente” -, o resto é verdadeiramente uma ação transvestida de drama.
Além de elogiar McAvoy, contudo, também acho que deveria elogiar Vincent Cassel, que é sem dúvidas um ótimo ator.
Quanto a menina, pensaria em 208504 outras atrizes naquele papel.
Abraços!