Na MTV, eu nunca andava sozinha. Minhas ideias nunca andavam sozinhas. E elas podiam ser cuspidas a qualquer momento – sempre haveria alguém para acatar e tentar. Tentar era a palavra. E foi esse tentar que, em mais de 20 anos, formou profissionais completos em todas as áreas. Eu era uma jornalista que tentava pegar na câmera, editar um vídeo, cobrir um evento maluco ou acompanhar um artista durante um dia todo fazendo três papéis ao mesmo tempo – vídeo, foto e texto em tempo real, em um momento onde o iPhone era um notebook velho, uma câmera amadora, um cabo e um modem 3G.

Isso só para contar o lado de lá. De dentro daquelas paredes antigas que já abrigaram a TV Tupi. O elevador que quebrava constantemente e os andares de gente maluca correndo de um lado para o outro. Naqueles andares, já vi de Alexandre Frota a Mark Zuckerberg. A MTV foi minha escola e a escola de muitos outros que se deram bem na vida. Isso segue para quem assistia. Lá, era permitido usar a roupa que quisesse, era permitido falar. Era permitido ser criativo, ouvir música.

Foi a MTV que trouxe para o Brasil aquela música “suja” feita na gringa, aquele som que nossos pais nunca nos apresentariam. Foi ela também que revelou EMICIDAS, Criolos e até Restarts. E se você está dizendo agora “Restart é uma bosta”, é porque em algum momento você assistiu ao clipe dos Travessos na MTV e tem mais de 20 anos. Porque esse era o grande lance dessa emissora – ela nunca envelheceu. Se você tem entre 12 e 17 anos, provavelmente tenha visto o Acesso só para cantar “Te levo comigo…”. Sim, a gente descobriu o Restart. Mais do que isso, a MTV descobriu momentos comportamentais importantíssimos para diferentes gerações.

Quando ela pecou? Quando achou que aqueles que eram jovens nos anos 90 queriam voltar a ver televisão. Que sairiam de seus empregos coxinhas para sentar no sofá com toda sua indumentária e rever os hits que marcaram época. Ela pecou no dia em que subestimou os que agora são adolescentes.

E agora os rumores fora e dentro da TV apontam cada vez mais para seu fim. É um final triste. Mas não chega a ser um final. Ela formou gerações, marcou histórias. Não pode ser um final. Ela fica. Fica marcada com os rostinhos que mandou para outras emissoras, com os produtores, jornalistas e empreendedores que formou.

A MTV não vai. Ela vira história.

OBS: Quando a TV fez 20 anos, nossa equipe criou um site lindo que conta cada passo dessa trajetória. Clique e confira.