A expressão do título é muito boa para ser enunciada após uma boa bronca. Minha avó e minha mãe adoravam usá-la após um sermão gigantesco sobre consequências dos meus atos. Claro que essa simples sentença vale para outras besteiras realizadas ao longo da vida, como encher a cara sem comer nada ou tentar cobrir um evento como a Flip sem se planejar corretamente. Digo isso pela experiência vivida no décimo aniversário da Festa, ano passado, em Paraty. 

Éramos 11 pessoas, tínhamos ingressos e tínhamos vontade, mas faltou um certo planejamento. No início já perdemos pontos por não trocarmos telefones e uma das pessoas da nossa equipe não conseguir nos contactar logo após chegar à cidade. Nossa casa ficava a uma certa distância do centro histórico, o que gerou ótimas histórias pelas madrugadas, mas umas e outras reclamações. Outro ponto era a falta de acesso à internet (tanto para dados quanto para cabo), não conseguíamos tuitar, nem atualizar as redes sociais e, principalmente, o blog para o qual escrevíamos – sentiu o erro primário? Aqueles que não estavam em Paraty ficaram aflitos pela falta de atualização: “estava tudo bem?”, “dava para mandar os textos?”, “onde estão as fotos?”, etc.

Estávamos preparados? Longe disso.

Aliás, escrever os textos era a parte que tomava mais tempo e inspiração. Cada pessoa no seu ritmo e não na batida dos jornais e seus cadernos culturais. Como o próprio nome diz é a Festa Literária. Não uma feira. Não uma convenção. Uma festa para celebrar a literatura no Brasil ao trazer nomes de renome, promover mesas e debates ótimos, fazer com que os leitores fiquem próximos, de alguma maneira, de seus autores favoritos, seja para bater uma foto ou conseguir um autográfo naquele livro favorito que marcou sua vida.

Também uma festa para lembrar como Enrique Vila-Matas pareceu fugir de mim quando eu estava na pousada dos escritores para a coletiva do Franzen. Ou a grande surpresa de ver um gringo de chapéu se revelando aos poucos para os raios de sol, à melhor maneira cinematográfica – era Ian McEwan. Esbarrar com os jovens escritores da Granta, um deles um grande amigo, durante uma celebração onde tocava Michael Jackson. Conversar por uns poucos minutos com um dos grandes editores do Brasil. Muitas histórias. Relatos, boatos e até fofocas (alô, Ego Paraty) que marcam e apagam os problemas. No fim, a cobertura ficou excelente – dado todos os empecilhos – e várias lições ficaram para o ano seguinte. Seguinte? Claro! Para que se assustar? Com tudo que passamos as lembranças são, acima de tudo, de festa.

Quando reservamos a casa de 2013 ainda em 2012, para garantir um tempo maior para pagar e conseguir pessoas para preencher todos os quartos, tudo parecia tranquilo. Com as datas se aproximando, os contatos constantes com as editoras – para garantir livros e informações da agenda dos autores para entrevistas-, o fantasma da Flip passada veio ao meu quarto para transportar-me de volta a 2012. Mostrou-me tudo que deu certo, tudo que deu errado e falou ao pé do meu ouvido, num sopro gélido, “Que isto lhe sirva de lição!”.

Esse ano a Casa do Posfácio está mais perto de toda a bagunça, com internet e com a possibilidade de abrigar o dobro de pessoas. Não só com a equipe do Posfácio, mas com muitos amigos e colaboradores especiais que estarão lá para se divertir. Estamos mais maduros, espero, para evitarmos uma certa ejaculação precoce em fazer uma cobertura perfeita, ou completa como alguns chamam, e mantendo toda a calma necessária. Nossa equipe têm entrevistas agendadas com alguns autores e tentaremos falar sobre as mesas de Lydia Davis com John Banville, John Jeremiah Sullivan com Geoff Dyer, Eduardo Coutinho, Laurent Binet e Aleksandar Hermon, Juan Pablo Villalobos e Tobias Wolff. Creio que a ideia é trazermos um pouco do que vemos em Paraty sem parecermos didáticos ou restritivos. Afinal, a Flip não é sobre tietar escritores, é um evento para aproximar leitores de autores e leitores de leitores.

Em tempo, a Festa Literária Internacional de Paraty começa hoje e, enquanto vocês leem essa coluna, devo estar na “maravilhosa” estrada Rio-Santos a caminho da cidade de Paraty com a trupe toda. Telefones trocados, café da manhã garantido e muito gás para trazer um pedaço da Flip e da Casa Posfácio para vocês.