Já faz muito tempo que a Pixar se firmou como um dos estúdios mais bem-sucedidos do mercado cinematográfico. Os sucessos lançados ao longo de 25 anos de carreira falam por si só e, embora haja um ou outro escorregão nessa trajetória, o fato é que suas animações são esperadas por um público tão vasto que abrange pessoas de todas as idades (o que não deixa de ser surpreendente). Por isso, mesmo não superando os grandes clássicos como Toy Story e Procurando Nemo, a nova produção da Disney-Pixar é admirável.

A história de Universidade Monstros é absolutamente previsível, uma vez que todos os eventos desse filme devem levar àquilo que vimos no adorável Monstros S.A., de 2001. E ainda que o roteiro possa lembrar qualquer outro filme norte-americano de high school, confesso que fiquei bem impressionada. Acompanhamos – do jardim de infância à universidade – a vida do jovem Mike Wazowski, um monstrinho verde, com um único olho e muito pequeno se comparado aos colegas de sala. Sua única ambição na vida é se tornar um assustador da fábrica Monstros S.A.Mas Mike tem um problema: ele não é assustador. Sua aparência fofinha, a voz esganiçada (em português ou no original) e seu tamanho diminuto fazem de Mike motivo de riso quando decide entrar no curso para formação de assustadores na universidade. Lá ele conhece e rivaliza com o grandalhão James T. Sullivan, filho do grande (e assustador) Sullivan, cuja reputação é levada em alta conta pelos professores e demais alunos. Mas ninguém é mais assustador ali do que a diretora Dean Hardscrabble (um trocadilho interessante, inclusive).

Uma disputa faz com que Mike e Sulley sejam expulsos das aulas de susto e, juntos, devem fazer o impossível para reconquistar sua credibilidade com a diretora. Eles se aliam ao grupo nerd, o mais improvável, para vencer uma dura competição. Se ganhar todas as provas, usando suas habilidades e inteligência, o grupo ganha prestígio na universidade, e Mike e Sulley podem voltar às aulas de susto.

Sim, esse é o enredo (escrito a seis mãos por Dan Scanlon, Daniel Gerson e Robert L. Baird), e as possibilidades do que pode ou não acontecer se estreitam a ponto de se tornarem transparentes como água. Mas só até certo ponto. Estamos, afinal, falando da Pixar (embora haja muito de Disney). Ainda que contem uma história cujo final já sabemos, o que leva Mike e Sulley até lá é interessante. É previsível na medida em que sabemos que tudo vai dar certo, já que eles eventualmente conseguem empregos como assustadores na fábrica. Mas o filme surpreende pelo como.

Sem contar que, tratando-se do estúdio em questão, não esperava menos do que gráficos magníficos. Texturas quase palpáveis, ambientes grandiosos (como a sala dos sustos, que mais parece uma catedral) e, o mais importante, personagens com características e personalidades únicas. Além disso, há inúmeras referências ao longa anterior – como era de se esperar. Mas são referências divertidas e inusitadas (como o primeiro companheiro de quarto de Mike, ou a peça de teatro, encenada ao final de Monstros S.A., que aqui aparece em frases e de maneira muito sutil).

A história é mirabolante, mas adorável como seus personagens. A mensagem também é bonita, e positiva, de que devemos aceitar quem somos e nossas habilidades, sem nos preocuparmos com o que os outros vão pensar de nós – um dilema eterno para todos, creio eu.