Sou o tipo de pessoa que agradece os pequenos milagres da tecnologia. Soube que estava vivendo na época certa dia desses de inverno, enrolada no edredom em posição fetal na sala de TV, ao descobrir que era possível usar meu celular como controle de TV para assistir vídeos do YouTube. Da mesma forma, quando o Netflix começou a produzir séries próprias e disponibilizar uma temporada inteira de vez, eu não tive alternativa nenhuma senão achar maravilhoso.

Netflix é coisa séria. Pra que assistir um episódio por semana, fazer download ou esperar pra assistir na TV quando você pode desaparecer da vida dos seus amigos e familiares para simplesmente fazer uma maratona e matar tudo em dois dias e depois ficar com vazio existencial até a próxima série aparecer? Isso é a experiência que uma streaming TV proporciona: poucos botões te separam de horas de conteúdo. House of Cards e Hemlock Grove foram interessantes provas disso, mas o big shot é a recém-estreada Orange is the New Black, que já vem ganhando bastante repercurssão, fãs acalorados, e graças ao cosmos, uma segunda temporada confirmada.

Me parece que a série foi feita perfeitamente para uma plataforma de streaming. Com 13 episódios de uma hora, ela pode ser devorada rapidamente e dá vontade de rever, repetir cenas e assistir episódios soltos depois de terminar a temporada. Como foi dito em uma matéria do Mashable, é uma produção que poderia ter passado batido na TV a cabo, mas brilha no Netflix como nenhuma outra.

Orange acontece dentro de um presídio federal e gira em torno da personagem Piper Chapman, que quando estava prestes a se casar com Larry, acaba sendo presa por um crime que cometeu 10 anos atrás, quando namorava uma contrabandista de drogas internacional, Alex Vause. Durante a temporada, ela tenta manter o relacionamento com o noivo e o antigo emprego como vendedora de produtos artesanais, mas aos poucos deixa a vida na cadeia mudar suas prioridades e percepções.

A produção é baseada no livro Orange is the New Black: My Year in a Women’s Prison, e vamos entender que isso significa um abismo entre dizer que é uma adaptação. Piper Kerman, autora do livro, trabalhou como roteirista na série, que conta com Jenji Kohan como produtora executiva. Mas então, ainda precisa de mais motivos para assistir? Vamos lá (aviso de spoilers daqui pra frente):

Piper é uma idiota. E todos nós sabemos como um idiota pode ser cativante, ou extraordinário, como diria Daniel Pellizzari. O que o House, a Hannah (Girls) e o Tom (500 days of Summer) tem em comum? Isso mesmo: idiotas. São personagens cheios de defeitos e carências, coisa com que a gente se identifica lá no fundo, ao mesmo tempo em que consegue apontar o dedo pra dar uma julgadinha. A gente sofre quando eles sofrem, mas sabe que eles têm que se ferrar às vezes. É algo como “Aff, o Tom mereceu um pé na bunda da Summer. Bem feito. Se bem que eu também já tomei um assim… Mas poxa, eu não sou tããão bundão quanto ele.” Mas vamos falar da Piper.

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Ela entra no presídio como uma menininha inocente e dá até um pouco de dó inicial, mas logo já é possível perceber uma vasta sequência de escorregadinhas dela. Basicamente, ela é egoísta e confusa, muito confusa. Não sabe com quem quer ficar ou brigar e intercala distribuições de culpas nos outros. Isso sem falar que sempre acaba se desentendendo com alguém, do primeiro ao último episódio.

“Não corte cabelo com a Danita.” Danita é uma cabeleireira que nem aparece no show, sendo apenas citada pela Sophia, que passa pelo menos 3 episódios alfinetando a concorrente. Da mesma forma, o diretor da prisão, o noivo da Morello e tantos outros são somente personagens-fantasmas, sempre lembrados mas nunca efetivamente mostrados na tela. Apesar de ser somente um detalhe, esses fantasminhas deixam a narrativa mais real e mostra as preocupações dos personagens secundários.

“Toda mulher branca parece com a Taylor Swift.” Essa e outras referências e comparações, feitas especialmente no meio de momentos dramáticos, deixam a série dramáticamente engraçada. Quando comecei a fazer minha campanha pessoal para convencer pessoas a assistirem Orange, me perguntaram qual era o gênero da série e eu travei. Por fim, respondi: “É tipo Weeds.” É tragicamente cômico.

“Conheço um drama lésbico de longe.” É isso. A série fala sem vergonha nenhuma de relacionamentos homossexuais, casamento, transsexuais, aborto, religião, falhas da justiça e sistema penitenciário e tantas outras questões sociais. É tudo direto ao ponto e isso só pode ser maravilhoso. Enquanto a TV aberta tenta ainda quebrar um ou outro tabu, o Netflix está realmente discutindo temas inquietantes.

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Por fim, o fim: Fica melhor a cada episódio. No último então, nem se fala. Dá vontade de urrar na frente da tv, de falar “Você não pode me deixar um ano esperando por respostas. VOLTE AQUI SUA SÉRIE DESGRAÇADA. E os meus sentimentos, como ficam?”

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