Eu queria gostar desse livro. Sério. Semifinalista do Tournament of Books (o que, para mim, sempre é um bom sinal), escrito por uma mulher (sim, ultimamente tenho levado isso em consideração nas minhas escolhas de leitura), o romance conta com uma premissa interessante (basta ver a capa ampliada para ler a frase que há nela e ser fisgado) e um título legal (muito legal talvez seja mais adequado: ele realmente me empolgou quando o vi num marcador de página, desses que a gente pode pegar à vontade nas livrarias, dias antes do lançamento oficial). Além disso, um escritor de que gosto muito (e que acabou de lançar seu novo romance) já elogiara a autora em mais de uma ocasião (no twitter, se não me engano).

Acredito que o principal problema de A peculiar tristeza guardada num bolo de limão seja algo de que falei em uma de minhas últimas resenhas: “toda leitura é uma comparação com as anteriores; nunca resetamos o cérebro ou zeramos totalmente nossas concepções prévias ao iniciarmos um novo livro”. Sabendo disso, consigo identificar pelo menos três leituras anteriores que me fizeram considerar fraquinho o livro em questão.

1. Como água para chocolate, de Laura Esquivel. Ainda que as premissas não sejam exatamente as mesmas, Esquivel sem dúvida apresenta maior domínio nos dois âmbitos de intersecção dos dois livros: culinária e realismo fantástico. Enquanto a autora mexicana consegue extrair poesia de receitas incomuns (e, segundo a quarta capa, perfeitamente realizáveis), Aimee Bender se perde numa análise (algo tosca) das origens da comida ingerida pela personagem principal – as tentativas de dar maior significação à produção de alimentos industrializados são algumas das passagens mais sofríveis.

2. Cadê você, Bernardette?, de Maria Semple. Depois de ler este romance, comecei a acreditar que será difícil gostar tanto de outro livro que apresente o seguinte combo: narradora filha com algo especial + mãe incompreendida + pai inteligente e ausente. Como dizer adeus em robô, curiosamente, não ficou tão mal na comparação com o livro de Semple (apesar de também possuir o combo): a relação da Garota Robô com o Garoto Fantasma foi o suficiente, creio, para distanciar os dois livros.

3. Liberdade, de Jonathan Franzen. A representação de uma mãe apaixonada por um filho que parece ser genial (ao menos quando criança, porque a “genialidade” não parece se sustentar na idade mais avançada – e essa é a diferença entre prodígios e gênios) não chega aos pés do resultado obtido por Franzen em seu romance.

Ainda que o livro não seja apenas um conjunto dos dados que comparei com os três romances, para mim eles já seriam o suficiente para a leitura não fluir adequadamente. Junte a isso uma linguagem algo tosca (não sei se o cuidado com a linguagem inexiste ou se perdeu durante a tradução) e uma protagonista rude (e não do jeito legal: ela poderia ser, sei lá, engraçada pelo menos ou, contrariamente, ter alguma empatia pelos outros, uma vez que consegue sentir seus sentimentos na comida; no entanto, passamos páginas e páginas acompanhando uma guria que simplesmente não aguenta não ser uma ilha, que odeia tanto a amargura da mãe na comida – quando esta se sentia desprezada – quanto a felicidade dela – quando ela passa a ter um amante), e o resultado é um livro pedindo para ser abandonado.