Cinéfilos do mundo todo, uni-vos!

O 15° Festival do Rio está a todo o vapor, com sessões das 12hs às 22 horas  sem contar a mostra Midnight Movies, com filmes como Kink – Sadomasô Online (2012, de Christina Voros)  e trazendo até Dakota Fanning à cidade, para lançar Night Moves (2013, de Kelly Reichardt, mostra Panorama).

Não podemos esquecer, contudo, que esse é um festival com a cara do Brasil; ou seja, com o jeitinho brasileiro de improvisações e a organização capenga. Filas e atrasos nas sessões são os menores problemas que os cinéfilos enfrentam, mas, felizmente, este último não tem sido muito frequente  e nem poderia, uma vez que a proposta do evento é que se emende uma sessão em outra, sessões que muitas vezes ocorrem em bairros diferentes, o mínimo que se espera da organização é severidade nos horários para que o espectador não perca o próximo filme de sua agenda.

Do fã o que se pede é calma. Mas as pessoas têm esse péssimo hábito da falta de educação, da descortesia, da grosseria mesmo, e às vezes o que era para ser um atividade de entretenimento torna-se um estresse desnecessário, um estresse inclusive aos terceiros que presenciam uma cena de briga.

Calma, galera, tem filme pra todo mundo: as sessões raramente são únicas, a maioria dos filmes na programação repetirá duas, três, até quatro vezes ao longo desses quinze dias. Então, se você perdeu um filme de sua lista (como eu infelizmente perdi A Fábrica de Revoluções, 2013, de Franco Fracassi, mostra Fronteiras, sobre as movimentações populares no Oriente), é só conferir na revistinha oficial de distribuição gratuita quando-e-onde serão as próximas exibições.

Ruim mesmo é perder uma sessão por má gerência do Festival, como foi o caso de Deus Ama Uganda (2013, Roger Ross Williams, também na Fronteiras), sobre perseguições a homossexuais por fundamentalistas cristãos naquele país, um dos filmes que mais me animavam, perdido por problemas técnicos do Centro Cultural da Justiça Federal. Ok, problemas acontecem. Pretendo assistir o filme em outro momento. Como dizia o meme-adesivo de outrora: No stress.

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O Espírito de 45 (2013) novo filme de Ken Loach na mostra Grandes Documentaristas 

Nesse domingo (29) mergulhei profundamente no Festival e programei três filmes para o meu dia. Felizmente, consegui ver todos, menos por sorte e mais pela cautela de comprar antecipadamente os ingressos no QG do Festival, no Estação Cinema Rio, em Botafogo.

Comecei o dia com Meu Afeganistão (2013, de Nagieb Khaja, mostra Fronteiras), um diretor dinamarquês de origem afegã buscando retratar a guerra sob o ponto de vista dos nativos – e não dos ocidentais, como é comum em livros sobre o assunto. Para isso, distribui câmeras para moradores de áreas de conflito, tendo resultados delicados, por vezes engraçados e honestamente humanos.

Sacrifiquei a sessão-debate de Uma Família Gay (2013, Maximiliano Pelosi, mostra Mundo Gay) para ver no belíssimo Cinema Odeon, na Cinelândia, Cativas – Presas pelo Coração (2013, de Joana Nin) e o excelente e hilário Jessy (2013, Paula Lice, Rodrigo Luna e Romei Jorge), ambos na mostra competitiva Premiere Brasil, categorias longa-metragem e curta documentário, respectivamente. A graça pré-sessão aconteceu durante o longo-e-propagandista anúncio da prefeitura do Rio sobre os investimentos em audiovisual, quando um homem gritou “Fora Cabral!” 1 e foi fortemente aplaudido pela audiência.

Terminei meu dia com o novo do insosso, tecnicamente desinteressante, porém prestigiado Alexander Payne: Nebraska (2013, Panorama), drama cômico agradável, mas que resvala no clichê, onde Will Forte – conhecido por Saturday Night Live – passa vergonha pelas limitações dramáticas e o quase octogenário Bruce Dern destaca-se pela capacidade de comover (não à toa ganhou o prêmio de melhor ator no último Cannes).

Nesses dias ficaram de fora, por falta de ingressos ou falta de tempo, Michael Haneke – Profissão: Diretor (2013, Yves Montmayeur, Filme.Doc), retrospectiva sobre o talentoso e polêmico diretor oscarizado de Amour (2012); A Escala Humana (2012, Andrea M. Dalsgaard, mostra Meio Ambiente), sobre um arquiteto que repensou Copenhagen e inspirou profissionais de todo o mundo; Gore Vidal e os Estados Unidos da Amnésia (2012, Nicholas Wrathall, Itinerários Únicos), sobre o escritor falecido em 2012 e Os Filhos de Hitler (2012, Chanoch Ze’Evi, Foco Alemanha) sobre as famílias estigmatizadas dos ex-líderes nazistas, como Himmler e Goering.

Infelizmente, por mais atento que sejamos, muitos filmes passam despercebidos pela busca frenética na programação. Muitos filmes passaram despercebidos inclusive por este artigo. É impossível dar conta de tudo, mas é bom saber que algum cinéfilo mais atento supriu ausência e esquecimentos e comprou o ingresso, esteve na sessão e prestigiou a obra audiovisual no meu lugar – não que minha presença seja fundamental, apenas é bom saber que alguém esteve lá. Enquanto isso, já vou circulando os próximos filmes na minha agenda, e em breve volto pra contar mais pra vocês…

Melhor filme visto (entre sexta, 27, e domingo, 29): Jessy, com duração de 15 minutos valeu o ingresso do mais-ou-menos Cativas: Presas pelo Coração, documentário em longa-metragem com tema interessante, mas cheio de más escolhas técnicas e que às vezes provoca involuntárias risadas no público. Confira o trailer abaixo.

Outros destaques: como são lindos os cinemas de rua, como o Odeon, no centro da cidade, e o Roxy, em Copacabana, espero que eles se mantenham preservados. Comprei o catálogo oficial do Festival, por R$10, com um bom trabalho gráfico e uma capa muito mais bonita do que a da edição passada.

  1. Para os que não sabem: Sergio Cabral, governador do estado do Rio de Janeiro