“A vida é banal, sabe. As pessoas não invadem a Polônia todo dia. Até mesmo Napoleão cortava as unhas do pé de vez em quando!” concluiu Antonio Prata, enquanto explicava porque sempre escreveu sobre as banalidades do cotidiano.

Na mesa 6 da Tarrafa Literária, “vida longa aos contos curtos”, Prata e Marcelo Rubens Paiva contaram um pouco de suas carreiras na Folha e no Estado, respectivamente, seus objetivos, e definiram do que é feito um bom cronista.

Em conversa desbaratinada naquele sábado santista, ambos concordaram que a crônica é composta de alguma realidade, mas que deve ser incrementada por elementos ficcionais. “Lembro da primeira crônica que eu escrevi”, disse Prata. “Foi aos 14 anos e era sobre especulação imobiliária, de uma construtura que ia derrubar a casa que morei durante minha vida toda. Ficou horrível, cheia de clichês  adolescentes…”

Marcelo Rubens Paiva (esq) e Antonio Prata (dir) discutem a crônica na Tarrafa Literária
Marcelo Rubens Paiva (esq) e Antonio Prata (dir)   discutem a crônica na Tarrafa Literária

Rubens Paiva, por sua vez, começou a escrever crônicas para ganhar dinheiro. Afinal, havia perdido tudo que conquistara com seus dois romances, em 1990, por causa do congelamento das poupanças conduzida pelo então presidente Collor de Mello. Notou, também, que o cronista estava “em baixa” uns 10 anos atrás, e que esse cenário tambem mudou. Mas Prata rebateu: “Pois é… só que cronistas, mesmo, temos pouco. A maioria é colunista, que comenta um fato semanal. Algumas vezes eu fiz isso… mas sempre que faço recebo um email do meu pai [o grande cronista Mário Prata] com apenas uma palavra na caixa de texto: CRÔNICA!”.

Um problema que ambos detectaram é o prazo de entrega que têm para mandar o texto ao jornal: “Parece sempre que você está tendo um filho prematuro!”, disse Prata. Um outro demérito citado pelos cronistas é a falta de leitura no Brasil: “Ficar dois anos escrevendo um livro e só vender 10 mil exemplares é frustrante”, completou Paiva.

De qualquer forma, concordaram que o brasileiro é bem humorado e que isso é muito bom para um cronista. Mas não é só de felicidade que vive o gênero… Lembraram que, por vezes, as crônicas mais memoráveis são as tristes, e que a regra fundamental ao escritor, principalmente do cronista, é apenas uma: deve-se sempre agradar ao leitor.

Para se tornarem quem são, hoje, buscaram inspiração na literatura e na TV. Rubens Paiva se disse um grande fã do romance, bem como da crônica. Prata complementou, afirmando que um gênero não se alimenta apenas dele mesmo. Por isso assiste muito Seinfeld, leu bastante Cortázar… Mas é claro que também leem outros cronistas: “Veríssimo, Danuza, Ruy Castro…”, disse Rubens Paiva; “Rubem Braga”, falou Antonio.

Por fim, cada um leu uma crônica própria e divertiram a plateia. Prata aproveitou para nos dar um gostinho do seu novo livro, que sairá pela Companhia das Letras. E, depois da palestra, me deu uma notícia quente: o lançamento será no Cine Joia, dia 7 de novembro, em “dueto” com Gregório Duvivier. Save the date!