Ser ousado no transporte público de São Paulo não é novidade. Todos fazem o que faço todos os dias – de manhã, de tarde, de noite. Disfarçam: olham para cima como se tivesse teto solar e para baixo como se notassem que os sapatos não estão bem engraxados ou o tênis desamarrado. Já vi pessoas confrontarem os números de um elevador numa provável tentativa de desvendar um mistério matemático no sobe e desce.

Não estou aqui para falar de elevadores, mas do transporte público.

Pratico o olhar diariamente no metrô. Todavia, sou mais exigente que o observador ordinário. E por muitas vezes posso ser invasor, principalmente quando a “vítima” é uma mulher. Gosto de volume e desafio.

Sim, a culpa é de vocês, mulheres. Não venham com essa conversa que não é provocação. É sim. Todo dia no ponto de ônibus, nas escadas rolantes, em pé, ou sentadas, no metrô. Chamam a atenção todas para si. Geralmente, está lá, logo na comissão de frente, tentadores, grandes, pequenos, médios. Deixam a mostra, num quê inocente displicente, mas quando olhamos se sentem invadidas? E aí, cabe o desafio aplicado a habilidade de olhar.

Enxergo desde sempre e agradeço a D’us por isso todos os dias. É muito bonito mirar e ver; apertar os olhos para ajustar o foco da íris, arregalar os olhos em uma surpresa, desvendar o que está ao alcance do periférico e soslaiar – o favorito de todos. Poder dar aquela discreta checada, como quem não quer nada querendo tudo. Um olhar matreiro. Nem sempre dá certo, é claro.

Elas percebem e se ajeitam, desajeitadas, para o canto quando sentadas perto da janela; viram se estão de pé, se encolhem se for o caso de horário de rush. Insisto e recebo de volta uma censura sem fim. Mas porquê? Despertam a curiosidade! Poxa! É só uma linha para eu tentar adivinhar em qual capítulo vocês estão, qual passagem está sublinhada. Se a sua edição é velha ou nova. Ou mesmo para saber se vale mesmo a pena comprar este livro. Não é pelo decote! Nos ajudem, por favor, a roubar algumas histórias 1.

  1. Este post é inspirado e dedicado ao Instagram Histórias Roubadas, do grande Roberto Palazo